A farsa sobre a invasão do Iraque é exposta com depoimentos de ex-agentes da CIA
Ciclo de Cinema, por Áurea Santos
“Uncovered: The War on Iraq” foi o documentário exibido na terceira noite do Ciclo de Cinema Árabe realizado no Centro Cultural São Paulo. Dirigido por Robert Greenwald, “Uncovered” desmonta um a um todos os argumentos do governo estadunidense para a invasão e ocupação do Iraque. Entrevistando ex-agentes da CIA e outras pessoas ligadas ao governo americano, o documentário mostra que muito antes do dia do primeiro ataque, em 19 de março de 2003, o governo de George W. Bush já sabia que Saddam Hussein não possuía armas de destruição em massa e que também não tinha vínculo algum com a Al-Qaeda.
Após a exibição do documentário, realizou-se um debate com os jornalistas Paul Achcar e José Arbex Jr., e a apresentação de Murched Taha e Hugo Monteiro. Iniciando a discussão, Murched lançou a questão: “Qual a razão da guerra?”
Para José Arbex Jr., as razões da ocupação do Iraque estão ligadas a um projeto de dominação americana da região da Eurásia, já que lá, informou o jornalista, encontram-se 75% da população mundial, 70% do arsenal nuclear do mundo, além de 75% das reservas mundiais de petróleo.
Falando sobre um projeto citado no documentário, o “Project for the New American Century”, Arbex acrescentou que este determina que os Estados Unidos devem manter sua liderança no mundo.
De fato, a primeira declaração que se lê no site do projeto é a de que “a liderança americana é boa para a América e para o mundo, e que tal liderança requer força militar, energia diplomática e comprometimento com o princípio moral”. Em sua Declaração de Princípios, datada de 3 de junho de 1997, lê-se que “a América tem um papel vital na manutenção da paz e segurança na Europa, Ásia e no Oriente Médio. Se nós nos esquivarmos de nossas responsabilidades, nós convidaremos os desafios aos nossos fundamentais interesses. A história do século XX deveria ter nos ensinado que é importante moldar as circunstâncias antes que as crises venham à tona, e encontrar as ameaças antes que elas se tornem perigosas. A história deste século deveria ter nos ensinado a abraçar a causa da liderança americana”. Entre outros, assinam a declaração Jeb Bush (governador da Flórida e irmão de George W. Bush), Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz (respectivamente secretário e ex-subsecretário de Defesa dos Estados Unidos) .
O jornalista libanês Paul Achcar recorda que o mundo árabe costumava ver os neoconservadores republicanos como aliados. Ele lembra ainda do papel preponderante da mídia na construção no imaginário da guerra. A afirmação foi corroborada por um jovem americano que assistia ao debate e disse ser contra a invasão do Iraque e o governo Bush, mas ressaltou que sua mãe, no entanto, devido a todas as falsas declarações do governo repetidas exaustivamente pela mídia norte-americana, realmente acredita que havia uma necessidade legítima de se fazer a guerra. Hugo Monteiro comparou as técnicas de propaganda de guerra do governo Bush àquelas usadas pelo regime nazista.
Murched ressaltou que o Instituto da Cultura Árabe não apóia nenhum regime ditatorial e que, para o Icarabe, cada povo deveria ser responsável pela derrubada de seus ditadores.
Outra importante ressalva foi feita por um participante da platéia que lembrou o modo como a imprensa brasileira reproduz o conteúdo da mídia internacional sem nenhum censo crítico. Já o iraquiano Khalid Tailche reclamou da falta de assistência dos países europeus ao povo do Iraque. Ele também acha que não há diferenças entre o regime de Saddam e a situação na qual o país está agora com os americanos.