A Causa Nacional Palestina... (6 de 7)
Do 11 de Setembro às guerras do Afeganistão e do Iraque
A premissa segundo a qual o fim da Guerra Fria não levou as nações do Oriente Médio a adotarem uma política de contenção e de aproximação diplomáticas ou a reduzirem seus gastos militares, mas sim a uma nova “corrida armamentista”...A premissa segundo a qual o fim da Guerra Fria não levou as nações do Oriente Médio a adotarem uma política de contenção e de aproximação diplomáticas ou a reduzirem seus gastos militares, mas sim a uma nova “corrida armamentista”, acentuou fortemente a participação, nesse cenário, de novas organizações políticas e econômicas representantes da chamada “violência armada transnacional” ou, como é mais conhecido, do “terrorismo internacional”, do qual a rede terrorista “Al-Qaeda” de Osama Bin-Laden é hoje um dos grupos mais famosos. Os atuais conflitos no Afeganistão (onde o Talibã (1) está ressurgindo com força) e no Iraque representam a consagração desses “conflitos de baixa intensidade” entre Estados e movimentos armados que buscam conquistar pelo menos algum tipo de poder (em algumas regiões, eles já detêm o controle territorial e institucional parcial ou total), ou que pretendem, em última instância, tomar realmente o poder nacional. Esses enfrentamentos resultam, por sua vez, diretamente dos atentados de 11 de setembro de 2001, assim como da “guerra contra o terrorismo” do governo republicano neoconservador do presidente estadunidense George Bush Jr., e, indiretamente, remetem, conforme já referimos, à guerra do Golfo de início dos anos 1990 e à deterioração do conflito árabe-israelense a partir de 1995-6. Em 2001, quando ocorreram os atentados de 11 de setembro a Nova York e Washington, ainda permaneciam pendentes questões centrais de política interna e externa do Oriente Médio oriundas da década que transcorrera desde o fim da Guerra Fria. Por exemplo, quando da invasão iraquiana do Kuwait, este e o reino da Arábia Saudita (apoiados pelas monarquias árabes do golfo Pérsico) aceitaram a oferta de ajuda dos EUA em forçar Saddam Hussein a desocupar aquele país, apesar das repetidas insistências de Osama Bin-Laden e da al-Qaeda de que possuíam as condições materiais e morais para expulsarem o líder árabe “comunista e ateu” e, portanto, “infiel” do Kuwait. Diante das negativas sauditas e kuwaitianas em recorrerem a Al-Qaeda, a guerra foi, então, desencadeada pelo poderio militar ocidental que, após o fim do conflito em 1991, instalou-se na região, onde se mantém até hoje. Assim, o principal legado político-econômico da guerra do Golfo, no período que se estendia de 1991 a 2001, ainda era a presença massiva de tropas da coalizão anglo-estadunidense em solo islâmico, notadamente na Arábia Saudita e nos emirados do golfo Pérsico, onde se dedicavam a defender os maiores fornecedores de petróleo ao Ocidente de uma possível incursão iraquiana e, sobretudo, a proteger essas elites governantes das suas próprias sociedades. Além disso, o processo de paz palestino-israelense havia entrado numa espiral de violência e descrédito desde a irrupção da “Segunda Intifada” em setembro de 2000, após a manobra eleitoreira de Ariel Sharon ao visitar a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém que visava ganhar as eleições parlamentares de 2001. Hoje, essa nova Intifada (2000-2007) nada mais é o resultado do retrocesso praticado pela ultradireita sionista israelense (de ímpetos fascistóides) e agravado pela insensata luta contra o “terror” de George W. Bush. Rotular as formas de resistência e de luta palestina contra a ocupação israelense meramente como “atos terroristas” fruto de uma religião supostamente “irracional” é esquecer a verdadeira raiz do problema, que é de ordem política e econômica e, portanto, social: a profunda desesperança sócio-econômica em que vive a população palestina – e, especialmente, os jovens –, todos pseudocidadãos de um proto-Estado e de uma sociedade sitiada e forçada a exilar-se em sua própria terra, que é vítima de retenções de tributos e de receita pública praticados por Israel, além da destruição de casas, plantações e aldeias inteiras. A verdadeira “caçada” à população civil palestina mantida pelos governos Sharon-Olmert desde 2001, a desocupação unilateral da Faixa de Gaza em 2005 e a construção do “Muro da Vergonha” na Cisjordânia representam a expulsão de mais e mais palestinos para a Jordânia e outros países, como bem demonstram a colonização silenciosa do vale do rio Jordão (na porção oriental da Cisjordânia) e os assentamentos judaicos de Ma’ale Adumin, colocando a questão diante de um impasse que ainda perdura. Enfim, podemos perceber como os “conflitos de baixa intensidade” ocorrem, a partir de pelo menos um dos pólos rivais, à margem das instituições públicas e estatais, mesmo porque muitos desses movimentos pretendem derrocar regimes e governos que consideram ilegítimos, corruptos ou subservientes a interesses de determinados grupos ou classes sociais e seus apoiadores no exterior. 1 Grupo militante de estudantes e líderes religiosos que fundaram a República Islâmica do Afeganistão em 1994-96, a fim de terminarem com a longa guerra civil que se seguira à retirada da URSS da região em 1989 e à queda do regime comunista afegão em 1992. O governo talibã manteria-se no poder em Cabul até a invasão estadunidense ocorrida após os eventos de 11 de setembro de 2001.