Águas das Artes
A água, o ouro do século XXI, tem presença singular na história dos povos árabes. No Alandaluz, havia água encanada, desde o século X, na Córdoba do califado. À parte o engenho ao lidar com o precioso elemento, os alandaluzes cruzaram o sistema hidráulico dos Romanos com o dos Visigodos. Construíram moinhos d’água nas margens dos rios, e para retirar água dos poços introduziram as norias, as grandes rodas d’água.
Os hammans, as casas de banho público, espalharam-se tanto nas cidades como no campo. Além de local para banho, funcionavam também como espaço de convivência, aparelhados com uma estrutura herdada dos banhos romanos: várias salas com piscinas de água fria, morna e quente, e ainda massagistas, barbeiros e maquiadores. Homens e mulheres freqüentavam o hamman em horários distintos: de manhã, os homens, e à tarde, as mulheres. Os hispano-cristãos que não compreendiam a cultura árabe consideravam esses lugares suspeitos. Com a chamada reconquista no final do século XV, muitos hammans foram fechados sob a acusação de ser local propício para conspirações políticas e relações sexuais. De fato, no Alandaluz, a noção de intimidade, do prazer corpóreo e do asseio pessoal distanciou hispano-cristãos de hispano-muçulmanos. Estes não entendiam por que aqueles não tomavam banho.
O som do correr das águas é inerente à memória da cultura árabe e persa. Em Alhambra, a presença da água foi sublimada com a construção de um sistema de canalização, surpreendente, pelo engenho e arte. Movimento e sonoridade, comunhão com o elemento ou homenagem refinada, tudo brinda a experiência estética que vivemos ao visitar o palácio: as águas de Alhambra cantam e desenham.