A arte de contar histórias
Ao lado de Sabine Choucair, Chantal fundou a companhia libanesa Whispered Tales – “Histórias Sussurradas” e, juntas, foram conhecer as narrativas de sua terra. “Fomos ouvir as histórias do povo, principalmente sobre o que aconteceu na época da guerra e dos últimos 50 anos”. A atriz faz teatro corporal, que, como conta, é o movimento do corpo como uma metáfora da viagem do pensamento. Ela aliou a expressão muda do teatro com o prazer de contar histórias. “Há uma necessidade humana da palavra e eu sentia essa necessidade”.
Morando no Brasil há dois anos, a atriz faz apresentações para um público diversificado, que abrange crianças e adultos, brasileiros e árabes e praticantes de yoga. “As histórias são para todos independentemente da origem, da cultura de cada um. Sou libanesa e descendente de franceses. Meu repertório inclui histórias árabes, do Líbano, da África, China, Japão, Mongólia, Brasil e países da Europa”.
Em seus espetáculos, Chantal apresenta, entre outras narrativas, contos da sabedoria sufi e anedotas de Mullah Nasreddin. Ela explica que a história sufi fala do encontro do homem com Deus, com a espiritualidade. “As histórias do Oriente são poderosas. Elas vão encher os vácuos que estão sendo cavados com os conflitos atuais. É muito importante para despertar a confiança. São um resgate para lembrarmos quem somos”.
Chantal ressalta a importância de contar as histórias árabes para os brasileiros. “É uma forma de abrir os horizontes. Elas ajudam a mostrar que, apesar da história moderna geopolítica do Oriente e da distorção midiática, não há só fanatismo, tem muita sabedoria na cultura árabe. Essa conexão também contribui para o próprio reconhecimento do brasileiro frente ao outro.
As histórias, diz ela, são um espelho do ser humano, do funcionamento da mente e do coração. São baseadas em fatos reais e por serem repetidas ao longo do tempo ficam no imaginário popular. “Nessa viagem no tempo e no espaço, colhem no meio do caminho o que no Líbano chamamos de sal e pimenta. São os detalhes que adicionamos, o nosso tempero, a nossa identidade”.
Para Chantal o contador é o primeiro ouvinte da história, é aquele que a acolhe. A história chega para o contador e exige que seja contada, criando uma continuidade em um mundo cheio de conflitos que deixam marcas profundas nas sociedades, que jamais se recuperarão. “Não estou falando da morte, ela é necessária para que a vida siga. Falo da guerra. A guerra é diferente. Ela borra, cria um vácuo, elimina. Os conflitos eliminam, não há como reexistir depois deles”, argumenta.
Já o ouvinte, destaca, é um colaborador, um transmissor que nunca vai deixar que a história se perca, passando-a de geração a geração. “O ouvinte se transforma espontaneamente em contador. Vai perpetuar a história. Para mim, ser contadora é uma responsabilidade grande porque estou passando algo importante. E nesse momento concretizo a minha necessidade de transmitir o que eu sei, o que aprendi. O momento de contar só pode acontecer entre mim e outra pessoa”. Assim, acrescenta, a história atravessa o tempo e o espaço e se torna o fio que amarra a trama do mundo. “É por isso que as histórias são sempre atuais”, finaliza.
Para conhecer o trabalho de Chantal, acesse http://chantalmailhac.blogspot.com/