Jerusalém em Belém - Dois Estados para Dois Povos
Durante o 3º Fórum Social Mundial, de 23 a 28 de janeiro de 2003, em Porto Alegre, realizou-se a exposição 'Artistas israelenses e palestinos pedem paz', coordenada pelo Movimento PORTAS ABERTAS. Compunha-se de quadros de alguns dos mais importantes artistas plásticos de Israel (dentre eles Gershon Knispel, David Reeb e David Tartakover) e da Palestina (entre os quais Suleiman Mansour, Tayseer Barakat e Karim Dabah), todos internacionalmente premiados e reconhecidos. Tema, os 35 anos de ocupação.
Também teve a participação especial de obras do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, com texto de Ferreira Goulart.
Após a fase brasileira e a partir do FSM, foi apresentada em Israel, na Palestina e em diversos outros países.
O Fórum Social Mundial[1] se caracteriza pela promoção de troca de experiências, pela busca de alternativas e pela discussão de estratégias de ação para a construção da paz e de um modelo de desenvolvimento global socialmente justo, econômica e ambientalmente sustentável. As tais 'condições sustentáveis' reportam, inicialmente, à ideia de desenvolvimento sustentável, mas elas têm implicações mais profundas do ponto de vista socioeconômico do que a teoria que alimenta o sentimento ambientalista.
Essas 'condições sustentáveis' dizem respeito principalmente à questão da gestão dos recursos naturais, à manutenção e à divisão das receitas obtidas com as divisas dos bens naturais. Dividir, repartir, doar recursos e, acima de tudo, garantir espaço para a emergência de manifestações religiosas, étnicas, de gênero, ideológicas, sociais ou de qualquer outro tipo, constituem a tão esperada 'condição sustentável'. Raros são os países do resto do mundo que as possuem.
O Brasil é um território de dimensões continentais que abriga diversas etnias, o que resulta numa identidade nacional multicultural. Representa também a terceira maior comunidade árabe no mundo, perdendo apenas para o Canadá (primeiro lugar) e a França (segundo). Estimam-se em torno de cinco milhões os descendentes de libaneses no Brasil, sem contar as outras etnias árabes. Não se pode esquecer o aspecto miscigenação, pois, desde a época do descobrimento, os mouros que migraram desbravando os mares latinos para o Brasil cruzaram com negros e índios.
Estamos nós, árabes, judeus, latino-americano-caribenhos, perdendo a maior chance do século XXI de fortalecer as relações econômico-financeiras com o Oriente Médio, que tem 245 milhões de habitantes e um mercado de US$ 140 bilhões. Embora esta parte do continente americano produza ou tenha tudo o que os árabes precisam, hoje detém menos de 1% desse mercado potencial. Estas relações socioeconômicas, de enorme importância cultural, foram persistentemente inviabilizadas pelo conflito árabe-israelense.
Desde 1981, artistas israelenses e palestinos têm colaborado numa série de projetos conjuntos, protestando contra a ocupação da Palestina e trabalhando pela construção de um futuro comum, com base numa coexistência pacífica, igualitária, segura e livre em que a cultura de cada povo possa se enriquecer e reforçar a do outro, ao invés de ignorá-la ou de a subjugar.
A exposição a que nos referimos no início do artigo defende o princípio 'Dois Estados para Dois povos'. Primeiro, faz 'oposição à ocupação; defende uma Jerusalém partilhada e declara apoio às formas não-violentas de resolução do conflito no Oriente Médio.' Segundo, em manifesto assinado por vários intelectuais e lideranças pacifistas, faz saber:
'O Projeto Portas Abertas objetiva reunir criadores de todos os setores culturais - artes plásticas, literatura, jornalistas e acadêmicos - dos dois povos, junto com os brasileiros (que sempre serviram de modelo de relações de amizade e proximidade entre os emigrantes), que aceitem contribuir, com sua produção artística e intelectual, para aprofundamento e a compreensão entre palestinos e israelenses.
O objetivo maior de Portas Abertas é oferecer um meio efetivo de aproximar mentes e corações, condição necessária para acabar com a demonização recíproca entre judeus e palestinos. Queremos abrir os corações dos filhos dos dois povos, e de todos aqueles que alimentem idéias preconcebidas, discriminação racial e ódio aos povos estrangeiros. Nós já aprendemos, com a Segunda Guerra, o preço pago pela população judia na Europa, quase completamente exterminada graças à demonização nazista. Não podemos, por isso, aceitar agora que, em nome da ocupação continuada dos territórios palestinos, sejam imolados no altar do nacionalismo cego dois povos que no passado viveram em relativa harmonia.
Portas Abertas rejeita a falsa solução militar e, no seu lugar, defende o diálogo; abomina a mútua destruição, e propõe a confiança mútua, condição para uma vida digna e para a liberdade irrestrita de criação; diz 'não' a um legado de frustração, desespero e tragédia, em nome da responsabilidade de todos, de construir a esperança para os nossos filhos e para as gerações futuras.'
O Brasil se tornará, mais uma vez, a capital mundial do debate pela responsabilidade sócio-ambiental, reunindo movimentos sociais, organizações não-governamentais e entidades da sociedade civil do mundo.
As 'condições sustentáveis' que o Brasil possui, na dianteira das potências econômicas, também lhe atribuem uma responsabilidade para com os povos em guerra. Temos o dever de dividir o pão, a água e o paraíso com os que sofrem o inferno por não tê-los, numa verdadeira missão de paz.
Apoiar, incentivar e divulgar a exposição 'Artistas israelenses e palestinos pedem paz' é demonstrar para o mundo que nasceu no seio deste país um novo BRASIL de PORTAS ABERTAS!
[1] (www.forumsocialmundial.org.br)
Referências:
ARBEX, José. Artistas israelenses e palestinos pedem paz. Revista
Caros Amigos. Edição 70 - Janeiro/2003.
Caros Amigos. Entrevista Gershon Ksnipel: O que é ser judeu?. Revista
Caros Amigos. Capa. Edição 63. Junho 2002.
EL KHALILI, Amyra. As Commodities Ambientais reconstruindo cidades
sustentáveis. Conferencia Internacional 'THE SUSTAINABLE CITY', 25 -
27 de abril, 2000, Rio de Janeiro, Brasil . KMPress -
http://www.unikey.com.br/clipping
EL KHALILI, Amyra. A PAZ é um bom negócio!. Revista OLAM Ciência &
Tecnologia. V.1, no 1, Julho/2001, Rio Claro, SP. www.olam.com.br~
EL KHALILI, Amyra. Commodities Ambientais em Missão de PAZ! - Revista
BIO - Brasileira de Saneamento e Meio Ambiente. Ano XI- n. 15 -
Julho/Setembro 2000
EL KHALILI, Amyra. 3º Fórum Social Mundial -Brasil com Portas Abertas.
'Artistas israelenses e palestinos pedem paz'. Porto Alegre (RS), de
23 a 28 de janeiro de 2003.
Colaboração de Juarez Segalin (revisão) email: jsegalin@gmail.com
* Publicado originalmente na newsletter Samba do Ventre