Mamede Mustafa Jarouche revela contos inéditos do autor de Mil e Uma Noites em evento da Cátedra Edward Said
Especialista em literatura árabe ministrou palestra no ciclo “O Estranho e o Estrangeiro”, promovido pela Cátedra Edward Said, uma parceria entre a Universidade Federal de São Paulo e o ICArabe.O professor e especialista em literatura árabe Mamede Mustafa Jarouche, único tradutor de “As Mil e Uma Noites” diretamente do árabe para o português, foi o convidado, na última segunda-feira (25), do ciclo “O Estranho e o Estrangeiro” promovido pela Cátedra Edward Said, uma parceria entre a Universidade Federal de São Paulo e o ICArabe.
Jarouche abordou um relato de viagem do século XVIII de um maronita sírio, Hanna Diap, escrito em árabe dialetal e encontrado recentemente na Biblioteca Apostólica Vaticana. Diap contou algumas das mais famosas histórias incluídas na primeira tradução realizada no Ocidente de As Mil e Uma Noites por Antoine Galland, no século XVIII. Entre elas estão Aladim e Ali Babá. O escriba sírio foi citado nos diários de Galland, mas sua existência nunca foi comprovada até a descoberta do manuscrito.
Diap descreve uma fantástica viagem de ida e volta empreendida entre a Síria e a Europa em 1707. Esta foi a primeira vez que Jarouche falou publicamente sobre o texto, que não tem previsão para ser traduzido para o português.
O acadêmico leu contos presentes no manuscrito de Hanna Diap, documento que comprova a existência da figura a quem o orientalista francês e tradutor Antonie Galland atribuía a origem dos contos. “Antes eu pensava que Hanna era uma invenção e um ‘golpe de mestre’ de Galland para atribuir suas histórias, mas vejo hoje que pensar isso era uma estupidez de mestre”, brincou o professor.
Um dos contos, por exemplo, que o estudioso planeja publicar futuramente, fala sobre a história de um padre que se apodera de um elixir da vida após uma confissão, testa-o em um cachorro e foge do convento para viver os anos a mais adquiridos. Outra história fala sobre um judeu que enganou um duque pedindo a posse do sol como presente e utilizando o título que ganhara para cobrar impostos dos súditos, mas que acabou por ser punido. “O antijudaísmo oriental tem raízes europeias antes do que do Oriente Médio”, aponta o professor.
Segundo Jarouche, pouco se sabe sobre a figura de Hanna Diap, que habitou a França por dois anos e retornou para o Egito. Os contos de As Mil e Uma Noites mostrariam sua frustração por não ter alcançado postos como o de curador da Biblioteca Real, ocupado já por Antonie Galland.
Línguas e traduções
O estudioso também falou sobre a possibilidade de a tradução de Galland ser diferente dos contos originais contados a ele por Diap. “Quando você compara os primeiros rascunhos com as histórias atuais veem-se diferenças. O Ali-Babá possuía outro nome”. Segundo ele, os contos poderiam também ter sido escritos décadas depois de contados por Diap a Galland.
Para Geraldo Adriano Godoy de Campos, membro da Cátedra Edward Said e o curador da Mostra Mundo Árabe de Cinema, a palestra foi interessante por conta de tratar da obra As Mil e Uma Noites. “Gostei de conhecer mais sobre a história. É uma obra central para o imaginário da literatura mundial.”
Já para o estudante descendente de libanês Samer Serkan, 20, a palestra foi boa por tratar da literatura árabe. “Eu gostei, é um tema que a gente quase não vê ser discutido. É importante para preservar a cultura árabe.”
Sobre a Cátedra
Parceria entre a Unifesp e o ICArabe, a Cátedra Edward Said foi criada há cerca de dois anos para promover o debate de questões contemporâneas do mundo árabe. Será lançado em breve pela Unifesp um site com as cátedras existentes na universidade.
Interessados em participar da cátedra e do seu grupo de estudo podem entrar em contato pelo e-mail catedrasaid@gmail.com ou pela página “Cátedra Edward W. Said - Unifesp” no Facebook (https://www.facebook.com/catedraews/?fref=ts)