Brasileiros descobrem tumba inédita no Egito
Túmulo contém sete corpos e está localizado abaixo da Tumba Tebana 123, na Necrópole de Luxor. Equipe arqueológica é a primeira coordenada por brasileiros no país árabe.
A primeira missão de arqueológica liderada por brasileiros no Egito finalizou a etapa de escavação deste ano com a descoberta de uma tumba inédita. Na primeira fase das escavações da Tumba Tebana 123 (TT 123), na Necrópole de Luxor, no Egito, a equipe coordenada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) foi até o final de um poço de mais de quatro metros de profundidade, onde encontrou uma nova tumba com sete corpos. O grupo realiza pesquisas em Luxor desde 2017.
A etapa durou 48 dias, acabou em 25 de fevereiro e faz parte do Projeto Amenenhet. “Nos concentramos na estrutura externa da TT 123. O pátio tinha um poço e ele levou à descoberta de uma nova tumba. Lá havia sete indivíduos enterrados. É uma sala pequena, sem decoração, provavelmente do que chamamos de 3º período intermediário, já no final da história faraônica. O mais interessante é que muito provavelmente a gente escavou a escavação [já realizado] de um arqueólogo do final do século 20”, detalhou o professor do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da UFMG, José Roberto Pellini, à ANBA, por telefone.
A tumba é considerada inédita já que, após vasculharem os registros egípcios em busca de algum sinal de que já tivesse sido estudada, o grupo brasileiro não encontrou nada. “Sabemos que esta é uma área em que as tumbas não foram trabalhadas. Para mim, está associado ao fato de que tinham pessoas morando nelas”, apontou Pellini.
O poço que precede a nova tumba tem dois metros por um de largura e 4,5 metros de profundidade. “Os indivíduos estavam bem cuidados. Só que provavelmente houve um desabamento. Demorou 35 dias para escavar tudo isso. Na frente da câmara tinham algumas peças de cerâmicas, mostram sinais de que foram quebradas e remontadas. Encontramos materiais do século 20, que correspondem a como a população atual utilizava esse poço para estocar grãos, comidas. Encontramos bastante material ‘qrnawi’”, explicou o professor. Segundo ele, a população que ocupou as tumbas em séculos passados e as utilizaram como moradia, chamavam a Necrópole Tebana de ‘qrna’ e, portanto, quem ali residia ficou conhecido como ‘qrnawi’.
Até três metros de escavação, a equipe encontrou evidências da ocupação da tumba como moradia, como roupas, latinhas de comida e tabaco. Abaixo disso, uma grande quantidade de materiais faraônicos. “Provavelmente, foi cavada rapidamente. Os corpos encontrados eram de três adultos e quatro crianças. Não sabemos ainda a quem pertence. E, provavelmente, não vamos saber, pois não tinha decoração e nenhum indício que nos remeta. Os restos são muito poucos. Vamos continuar estudando o material dessa tumba para ver se descobrimos informações dessa possível família”, afirmou Pellini, completando que o calcário e os sedimentos dos desabamentos também danificaram a mumificação dos corpos.
Uma das descobertas até agora, feita pela antropóloga forense da equipe, foi que alguns tinham patologia na coluna e, provavelmente, eram submetidos a trabalhos repetitivos. Agora, a equipe que inclui arqueólogos, antropólogos e especialistas em documentação, segue analisando no Brasil apenas o que foi produzido no Egito, como fotos, vídeos e medidas que foram tiradas dos objetos.
A próxima escavação começa entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020. A equipe vai avançar para a parte interna da TT 123, onde há muito material em superfície. Os arqueólogos já sabem que existe uma sala das estátuas, com um poço que deve ser o primeiro a ser escavado. Há também uma sala anexa à das estátuas, que mede cerca de 3,5 metros por 3,5 e tem pé direito de 2 metros. Ali, o professor explica que já é possível ver três ou quatro múmias, mas para se chegar a elas pode demorar ainda mais duas etapas de escavações. Tudo vai depender do poço da sala das estátuas, que se repetir o que ocorreu com o poço deste ano, pode conter ainda mais surpresas e descobertas.
Tumbas ou casas
Um dos objetos de pesquisa do grupo liderado por brasileiros são os dos ‘qrnawi’, que utilizavam as tumbas como casas ou estábulos. Por volta do ano 2000 houve um movimento de expulsão dessa população e cerca de 10 mil famílias foram tirados do local. “Normalmente, os materiais dessa época são considerados ‘lixo’. É muito raro ter arqueólogos preocupados em resgatar esse passado que foi silenciado. Isso é um dos aspectos mais importantes do projeto. Dentro dessa tentativa de resgatar e mostrar o nosso interesse nesse material, esse ano parece que houve um entendimento e eles [arqueólogos de outras nacionalidades] começaram a separar. E estamos começando a entender melhor como essa população usava as tumbas. Isso explica aspectos de mudança na estrutura das tumbas, um pouco desse comércio, clima, economia local”, destacou Pellini.
Outro aspecto abordado pelo é o chamado Projeto olhares, que levou um grupo de antropólogos da UFMG para fazer um registro fotográfico e de vídeo da experiência. A ideia é ter os olhares dos membros do time e das pessoas que moram lá, e as câmeras já estiveram à disposição dos interessados neste ano. No próximo ano, a equipe quer continuar e expandir e começar com a parte de pintura e performance musical na área das tumbas.
O arqueólogo revelou que para o ano que vem já estão programadas duas palestras no Cairo e em Luxor, que devem ocorrer em janeiro. O objetivo é mostrar um pouco do trabalho da equipe liderada pelos brasileiros do Projeto Amenenhet.