Do Monitor do Oriente Médio: mais de 300 cineastas rejeitam recursos de Israel em protesto ao apartheid

Seg, 05/09/2022 - 23:00
Publicado em:

Em um dos maiores protestos de categoria contra o apartheid israelense, até então, mais de 300 cineastas assinaram uma petição para declarar sua recusa em trabalhar com o Fundo de Cinema de Shomron.

Entre os signatários estão autores indicados ao Oscar, que denunciaram o fundo israelense como “parte do mecanismo de apartheid”.

Shomron é o nome em hebraico para Samaria – termo bíblico adotado por colonos fundamentalistas para referir-se à Cisjordânia ocupada.

Fundado pela controversa ex-ministra da cultura Miri Regev, o fundo concede recursos públicos exclusivamente a judeus radicados nos assentamentos ilegais da Cisjordânia. Ao negar incentivo a produtores não-judeus, a política expõe o racismo e a discriminação institucional por parte de Israel – denunciado por grupos de direitos como crime de apartheid.

Os signatários assumiram o compromisso de não obter recursos ou cooperar com o Fundo de Cinema de Shomron, após seu festival inaugural – intitulado Festival de Cinema de Samaria –, realizado em julho no assentamento ilegal de Ariel.

Após a controvérsia deflagrada pelo evento, afirmou a petição: “O cinema israelense não será instrumentalizado para encobrir os crimes da ocupação”.

Os signatários – incluindo produtores israelenses e estrangeiros – desmentiram as alegações do projeto de apoiar a diversidade e o pluralismo. “O termo ‘diversidade’ torna-se nula quando, na prática, ofusca a violência sistemática e graves abusos de direitos humanos”.

LEIA: ‘Israel é um estado de apartheid – legal, politica e moralmente’, conclui conferência histórica

“O Fundo de Cinema de Shomron não é um projeto pluralista, mas sim parte essencial dos mecanismos de apartheid … acessível a um grupo étnico e proscrito a outro, que reside na mesma área geográfica”, prosseguiu o documento.

Os signatários apelaram a colegas cineastas para que repudiem efetivamente a ocupação e a anexação israelense em curso nos territórios palestinos. Segundo a denúncia, o festival e seu sistema de financiamento “não se trata de amor à cultura, mas sim política deliberada com o intuito de apagar a Linha Verde e a distinção entre um regime civil e militar”.

A Linha Verde representa a fronteira acordada internacionalmente entre Israel e os territórios ocupados, sob a promessa de estabelecer um estado palestino na região.

“Pedimos à Academia Israelense de Cinema e Televisão, sua diretoria e seus membros em geral que não transformem nosso cinema em mais outra ferramenta de opressão empregue contra o povo palestino”, concluiu o documento.

Uma campanha contrária reuniu 50 personalidades do audiovisual israelense, em carta aberta em apoio ao sistema discriminatório de financiamento. “Vemos o fundo como novo lar para a criatividade, acolhemos sua criação e cremos que fornecerá solo fértil para vozes importantes do cinema de Israel”.

“O Estado de Israel é um mosaico complexo que requer diálogo entre todas as partes e não boicotes”, afirmou o texto, em aparente alusão à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções contra o apartheid israelense – que ganha tração internacional.

O grupo alegou “encorajar a liberdade de expressão e criação de cidadãos israelenses sem referência a religião, raça, gênero, filiação política ou lugar de residência”. Entretanto, não mencionou a política expressa de financiar exclusivamente colonos judeus.

Publicado originalmente em https://www.monitordooriente.com/20220905-mais-de-300-cineastas-rejeitam-recursos-de-israel-em-protesto-ao-apartheid/

 

Legenda da foto Ex-ministra da Cultura de Israel Miri Regev [Miri Regev/Facebook]