Depois do espetáculo, cotidiano que alimenta o conflito permanece oculto

Qui, 15/09/2005 - 04:50
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Por Arturo Hartmann, Fabiana Nanô e Fábio Sanches O escritório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que tem uma base em Jerusalém, afirmou ao ICArabe que “forças israelenses continuam demolindo casas supostamente ocupadas por militantes palestinos suspeitos e suas famílias, ou casas construídas sem a devida permissão”. O Comitê também declara que “a restrição de movimento de pessoas e bens tem acelerado o colapso progressivo da estrutura sócio-econômica palestina, privando milhares de pessoas do acesso a serviços básicos e meios de subsistência”. Recentemente, o Banco Mundial anunciou que mais de 60% de toda a população palestina passou para baixo da linha de pobreza. Com a saída dos israelenses de Gaza, a situação de conflito no território ocupado da Cisjordânia e Jerusalém deve piorar. E no médio ou curto prazo, o conflito entre a resistência palestina e o exército ocupante deve novamente caminhar para a violência. No momento, com a saída de Gaza e a impressão de que uma saída negociada para o conflito é possível, o historiador André Gattaz acredita que a administração moderada do atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ganhe força na sociedade palestina. “O que aconteceu, desde a época do Arafat, foi um esgotamento da Segunda Intifada por causa da repressão israelense e da construção do muro. Com essa aparente retirada, os moderados podem ganhar um pouco de receptividade, porque eles conseguem convencer a sociedade palestina de que Israel está interessado em uma retirada negociada”. No entanto, quando os palestinos perceberem que não haverá negociação para a saída da Cisjordânia e Jerusalém, os movimentos de resistência devem ganhar força novamente. Um dos líderes do grupo político armado Hamas, Mahmoud al-Zahar, disse à AlJazeera.net que “este exército continuará defendendo nossa terra enquanto ainda houver um centímetro da Palestina ocupado”. Para Gattaz, Israel sinaliza da seguinte maneira: ‘vocês já têm sua terra, façam seu Estado palestino lá na Faixa de Gaza’. “Dentro de um ou dois anos, isso vai decepcionar muito os palestinos e vai ter uma nova reforma violenta”. UMA VIDA CERCADA – Sandra Said é brasileira filha de palestinos de Betania. Já foi à região dos territórios ocupados por três vezes. A mais recente, em junho último, “a visita mais tranqüila”. Nas outras duas, presenciou o início da primeira Intifada dentro de uma mercadão de Ramalah e da segunda chegou já em meio à Segunda Intifada. Ao descrever a atual Ramalah, diz que muita coisa mudou em relação às outras duas vezes. A cidade em si já é controlada por palestinos. A força policial e os guardas de trânsito são forças locais. No entanto, a periferia da cidade está cercada por instalações militares israelenses e nenhum palestino pode ultrapassar o limite imposto pela força invasora. “Existe uma montanha que cerca Ramalah e atrás dessa montanha muitos palestinos têm terra. Mas existe uma ocupação militar com cerca e ninguém pode entrar. Pode até falar, ‘ah, mas eu tenho oliveiras ali’. Não interessa”. Israel fragmentou a Cisjordânia em cantões com o cercamento de regiões que terão acesso impedidos a palestinos. Com a construção do Muro do Apartheid, como é chamado por parte da comunidade internacional, Israel pretende ter para si as melhores terras da região e as margens do Rio Jordão, fonte de água para a seca região. Sandra diz que nas duas outras visitas que fez à Cisjordânia o caminho Tel-Aviv-Ramalah era mais curto, “mas agora tivemos que dar uma grande volta por causa do muro. Demoramos cerca de uma hora e meia”. Além de dar a volta ao redor do muro, é preciso cruzar uma série de postos de controle do exército israelense. “Eles param e perguntam para onde estão indo, quem são, tem que mostrar o passaporte com documento. A fila nos postos é grande (...) Quem tem passaporte estrangeiro não tem muito problema, mas quem é de lá mesmo tem restrições”.