Em visita a uma mesquita, dois olhares sobre o islamismo
por Áurea Santos e Marília Chaves
A primeira visita que fizemos à mesquita foi em uma sexta-feira. Quando chegamos, fomos direto à salinha em que ficam guardados os véus e as saias. Vestimos os véus brancos, que antes estavam cuidadosamente dobrados na gaveta da penteadeira cor marfim. Nela, havia também um grande espelho, que nos permitiu ajeitar todos os fios de cabelo, sem deixar nenhum à mostra, para não chamar atenção. Vestimos uma espécie de saia, tiramos os sapatos e entramos na mesquita. As mulheres entram e oram na parte de trás para não provocar o desejo masculino, devido à posição (de cócoras) em que se reza no islamismo.
O chão é todo forrado por um carpete bege; no alto, cúpulas decoradas com desenhos árabes e escrituras sagradas, todas sustentadas por diversos pilares brancos. Nas janelas, vitrais coloridos deixavam passar a luz do sol. O Sheik inicia o sermão em árabe, depois começa a cantar. São os versos do Corão. Eles são cantados, pois a palavra sagrada não pode ser proferida ordinariamente. Logo após, ouvimos a tradução do sermão em português. Ao final da oração, conversamos com Suma, mulher do Sheik Abdel Rázik, e combinamos de passar um dia na casa deles.
A última visita foi em um domingo. Em homenagem ao ex-premiê libanês Rafik Hariri, assassinado em um atentado com um carro-bomba em Beirute.
Quando chegamos na mesquita, vestimos novamente os véus brancos. Ao nos dirigirmos ao local da oração, uma mulher nos chamou em um salão anexo. Disse-nos que não ficaríamos dentro da mesquita. Naquela noite, ela seria somente dos homens. Nós assistiríamos a tudo dali, por meio de um telão.
Sentamos-nos e começamos a reparar nas mulheres ao nosso redor. Algumas estavam vestidas tão elegantemente que pareciam arrumadas para um fino jantar. Ali, de véu, somente as mulheres mais idosas; e nós. Entreolhamo-nos e percebemos que estávamos destoando. Não havia ninguém com menos de 50 anos com a cabeça coberta. Tiramos os véus.
Enquanto sussurrávamos para não incomodar nem parecermos desrespeitosas, um burburinho de vozes invadia nossos ouvidos. Imaginávamos que, ao começar a oração, o silêncio também chegaria. Mas, mesmo depois de um bom tempo em que o Sheik já entoava os versos do Corão, o lugar onde estávamos tinha clima de chá de cozinha.
Terminada a oração, os homens começaram a adentrar o salão, onde já estava preparada uma grande mesa cheia de mahmous, chá e café. Os primeiros a chegar foram os líderes religiosos. Haviam comparecido à homenagem um padre e um bispo maronita, um bispo ortodoxo, um padre católico. Nenhum rabino. Políticos, lógico, também havia, Michel Temer, Ricardo Izar.