Por meio da fotografia, crianças refugiadas revelam sua vida cotidiana em São Paulo
Chamado de #Meu Olhar, o projeto foi desenvolvido pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Brasil em parceria com a organização não-governamental Eu Conheço Meus Direitos (IKMR) e com o apoio do Studio Pier 88. Em uma série de workshops, divididos em três módulos, o projeto #Meu Olhar permitiu que esse grupo de crianças e adolescentes (todas moradoras em São Paulo) expressasse observações sobre sua condição de refugiado por meio da fotografia.
Para o ACNUR, o projeto trouxe uma oportunidade ímpar para o mapeamento de desafios enfrentados por crianças refugiadas em uma metrópole como São Paulo. Os participantes puderam expressar suas visões e opiniões sobre questões de proteção e de integração e também decisões das quais não participam, mas que afetam diretamente suas vidas.
O trabalho permitirá ao ACNUR Brasil, seus parceiros (autoridades públicas e organizações da sociedade civil) em São Paulo e ao público geral capturar com maior precisão os desafios das crianças refugiadas.
“O exercício nos workshops esteve muito centrado no empoderamento das crianças: por meio da fotografia, elas puderam contar suas próprias histórias e trazer à tona o que mais lhes chamou a atenção”, afirma Vinícius Feitosa, Assistente de Proteção do ACNUR em São Paulo e coordenador do projeto #Meu Olhar. “Cada criança foi estimulada a identificar as fotos que considerou mais interessantes e explicar por que as escolheu. A ideia é dar voz à sua própria visão de mundo”, completou.
Os seis pequenos refugiados foram selecionados entre os componentes de um coral infanto-juvenil organizado pela IKMR desde maio de 2015. No coral, cantam músicas brasileiras, todas letras que tratam do esforço de superação, e já se apresentaram em São Paulo, no Guarujá e no Rio de Janeiro, onde várias delas entraram pela primeira vez no mar.
No primeiro módulo do projeto #Meu Olhar, as crianças receberam de presente uma câmera portátil e tiveram suas primeiras aulas de fotografia. O trabalho se iniciou em março no Museu da Imigração, no bairro da Mooca, onde o coral tem seus ensaios. Nesse prédio se hospedaram milhões de imigrantes que chegaram a São Paulo entre o final do século 19 e as primeiras décadas do século 20 – antes, portanto, de o conceito de refúgio ser definido pela Convenção das Nações Unidas sobre Refugiado, de 1951. Hoje, o edifício exibe um acervo sobre a história dessas chegadas.
O segundo módulo se deu no Studio Pier 88 e girou em torno de um duplo exercício para as crianças: fotografar e serem fotografadas. Com um fundo branco iluminado, elas posaram para as lentes de Bueno saltando, brincando e rindo. Para o terceiro módulo foi escolhido um local aberto – porém tranquilo – para as atividades do grupo: o Parque Villa Lobos. Nessa última aula, as crianças comentaram as fotos tiradas ao longo das duas semanas anteriores.
Mohamed pinçou a foto que tirou de seu irmão mais novo, Ahmed, como a mais bonita das suas atividades de casa. “Achei mais legal porque meu irmão estava sorrindo”, explicou aos instrutores. Gabriela, que fotografara flores durante a semana e se alegrava por estar em um parque, queixou-se das poucas áreas verdes nos bairros em que transita em São Paulo.
Riad, de 14 anos, impressionou pelas fotos bem enquadradas de recantos com traçados harmônicos da escola onde estuda. Benedicte, que pede às pessoas para chamá-la de Benedita, a versão de seu nome em Português, exibiu com orgulho os selfies que fez: nenhum somente de si própria, mas sempre junto a muitos membros de sua família.
Em maio, as crianças, o fotógrafo Rodrigo Bueno e a equipe do Acnur em São Paulo deverão se encontrar novamente para um exercício final: a escolha das suas melhores imagens para a conclusão do processo de diagnóstico da vida delas como refugiadas e de seus desafios de integração à metrópole.
Segundo Feitosa, as crianças assumirão nesse momento a função de curadoras de seus próprios trabalhos para uma possível exposição das fotos. “Como o fio condutor desse projeto é dar voz à criança, essa tarefa final deve desencadear novas ações para que suas observações sejam efetivamente escutadas”, afirma o funcionário do ACNUR.
Fonte: ACNUR