El Cid - A Lenda
Leia "A Lenda", a última parte do conto El Cid da escritora Lelia Maria Romero
Contam que 40 anos depois da morte do Campeador, apareceu o "Cantar del Mío Cid", conjunto de versos em canção, sobre a vida do virtuoso cavalheiro de Burgos: forte e leal, justo e corajoso, prudente e sensato.Criado espontaneamente por poetas populares, a maioria iletrados, recontava os feitos do Cid na medida em que se ouvia uma nova estória. Durante anos, as cantigas foram recitadas pelos jograis e trovadores medievais. As rimas e a força do fio narrativo facilitavam o vigor da oralidade nas apresentações. O texto conhecido, um manuscrito do século XIV, teria sido organizado por um clérigo, que colheu aqui e acolá, os cantares sobre o Cid. Primeiro monumento literário da época em língua castelhana, o “Cantar del Mío Cid” se junta a outros dois cantares, o francês, “Canção de Rolando”, e o alemão, “Cantar dos Nibelungos”, como marcos da lírica tradicional da alta Idade Média. As cantigas sobre o guerreiro, que preferia arriscar a vida a comprometer a honra, foram esquecidas no tempo. No século XIX, sua lembrança resgatada reaqueceu o orgulho nacional espanhol e o legado do Cid foi então aproveitado pela direita e pela esquerda. Ao alimentar outros mitos, válidos, falsos, estratégicos ou não, restou a lenda que é sempre maior que o personagem. O Cid histórico e o mítico se misturaram no cantar dos trovadores e permaneceram no imaginário do povo espanhol, assim como Don Quixote e Carmen. Quem passa pelos moinhos da Mancha lembra de um; quem vai ao bairro de Santa Cruz em Sevilha, lembra de outro. Ao chegar em Burgos, esbarramos com a estátua do guerreiro, reverenciado por cristãos e muçulmanos. Seja literatura, ópera ou verso, as pegadas das três lendas sobrevivem. Eu vi.