Reconciliação entre Turquia e Israel
Turquia e Israel viveram anos de entendimento intenso, chegaram até mesmo a efetuarem manobras militares conjuntas, enquanto cooperavam em praticamente todos os campos.
O rompimento se deu por quatro principais razões.
Primeiro, o governo turco de Recep Tayyip Erdogan seguiu o consenso do povo turco muçulmano e adotou o antissionismo como política regional considerando Israel um enxerto malquisto; a Turquia pretendeu ser exemplo de um governo islâmico moderado e democrático para todos os países islâmicos e árabes, com o intuito de dominar a todos, em nome do Islã esclarecido; Turquia e Israel divergem em amizades e inimizades, na região e fora dela, principalmente com políticas para Palestina, Síria, Irã, curdos, armênios e outros; e finalmente, com a finalidade de romper o bloqueio israelense à região palestina de Gaza e agradar ao mundo, a Flotilha da Liberdade, formada por vários barcos de diversas nacionalidades, transportando também ativistas de 60 países foi interceptada pela Marinha israelense o que resultou, no caso do barco turco Mavi Marmara, na morte de 9 turcos e ferimento em 30, o que azedou de vez o relacionamento turco-israelense.
Por mais que o relacionamento entre os dois países tenha se deteriorado, o interesse econômico pode servir de desculpa.
A Turquia tem interesse no gás abundante do Mediterrâneo oriental, mas não pode obtê-lo de Chipre por ocupar parte da ilha onde estabeleceram um governo. Obter o gás da Síria se tornou impossível já que o posicionamento turco contra o regime sírio que está, ao que tudo indica, ganhando a guerra civil, o impede. Do Líbano onde a prospecção só começa 2015 é impraticável. Sobrou Israel, que tem divergências quanto à limitação das fronteiras marítimas com o Líbano e a Palestina (Gaza) e tem problemas técnicos também para explorar o gás.
Assim mesmo os governos de Israel e da Turquia estão considerando um projeto comum. Em 23.03.2014, o jornal financeiro israelense Globes anunciou que mais de 10 companhias submeteram propostas de um gasoduto submarino que levaria gás natural do campo israelense chamado Leviathan para o sul da Turquia e o diário israelense Today’s Zaman publicou que na reunião entre o enviado pessoal do primeiro-ministro Benyamin Netanyahu, o especialista em assuntos de energia e segurança David Meidan com Hakan Eidan chefe da Organização Nacional de Inteligência da Turquia foi discutida a reabertura das embaixadas dos dois países, fechadas desde o problema do Mavi Marmara em 2010.
Se assim foi, a questão do gás é sonho e desculpa para arrefecer o isolamento de Israel e Turquia na região, o que vale como razão para trabalharem juntos novamente. O partido turco ganhou as eleições e se acha em condições de impor comportamentos ao povo de seu país, afastando-se do antissionismo. Do lado de Israel, com o esfriamento de suas relações com os Estados Unidos, causado, entre outros motivos pelo fracasso das negociações com a Palestina e o repúdio que tem encontrado na Europa e através do mundo devido ao seu comportamento desumano com relação aos palestinos, qualquer aproximação com qualquer país é um ganho.
Reconciliação entre Israel e Turquia é possível, mas é solução para o isolamento?
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