"Meu filme muda as pessoas", afirma o palestino Emad Burnat sobre "Cinco Câmeras Quebradas", destaque da 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, que começa dia 15

Qui, 01/08/2013 - 23:51
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 ICArabe- Como surgiu a ideia do documentário “Cinco Câmeras Quebradas”?
Emad Burnat-
Eu vinha filmando desde 2005. Conheci ativistas de outros países, que vinham ao meu vilarejo para participar de protestos e encontrei um cineasta que havia vindo de fora para cobrir nossa história. Ele me pediu imagens para ajudá-lo, porque eu era a única pessoa com uma câmera ali. Eu estava filmando dia e noite, então tive a ideia de fazer o filme. Comecei focando dentro e fora da minha casa, meus amigos, meu filho Jibreel crescendo nessas condições.

ICArabe- Quando você percebeu que o material que estava filmando poderia se transformar num documentário que atrairia a atenção do público em outras partes do mundo?
Emad Burnat-
Via que havia muitos filmes feitos sobre a Palestina e a ocupação por pessoas quem nunca viveram aqui e nunca vivenciaram a experiência e, portanto, nunca sentiram o mesmo que eu. Percebi que eu tinha que manter as filmagens acompanhando as mudanças por um  longo período de tempo. Então, depois de mais de seis anos, pensei: “eu estou pronto para iniciar a edição”. A históira, a ideia, o material e a vitória, tudo já estava pronto.

ICArabe- Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas durante as filmagens?
Emad Burnat-
As maiores dificuldades foram as pressões econômicas e as pressões do exército israelense sobre mim e minha família.

ICArabe- Como surgiu a parceria com Guy Davidi?
Emad Burnat-
Ele é ativista israelense e veio à minha vila algumas vezes para participar. Eu o conheci quando estava filmando o protesto, estava trabalhando neste filme. Ele se juntou a outros ativistas israelenses e internacionais. Então, depois de ter trabalhado neste filme por muitos anos, eu estava procurando um produtor para finalizá-lo. Na última etapa, na edição, liguei para ele perguntando se gostaria de participar. Ele aceitou e nós trabalhamos juntos para terminar o filme. Então eu digo que é uma colaboração humana e não política.

ICArabe- Como foi a recepção a seu filme em festivais como o Sundance e na cerimônia do Oscar?
Emad Burnat-
A reação foi muito boa, muito forte. Em todos os lugares, eu percebi que, quando as pessoas assistem ao meu filme, elas mudam completamente.

ICArabe- Seu filho é o protagonista do filme. Isso mudou algo em sua rotina?
Emad Burnat- Meu filho Jibreel pensa como os outros meninos de sua idade, mas sua mente está se desenvolvendo muito rapidamente. Ele sabe que fez algo muito grande com este filme e começou a pensar mais sobre estudar para realizar mais coisas importantes.

ICArabe- A ocupação causa grande impacto nas vidas de Jibreel e das outras crianças palestinas. Poderia descrever de que forma isso acontece no dia a dia e como elas veem essa situação?
Emad Burnat -
Jibreel e outras crianças palestinas vivem sob a ocupação, sob muitas pressões do exército israelense, não é normal para as crianças  crescerem assim. É diferente em nosso país, porque eles enfrentam a ocupação no caminho para a escola, na rua, em todos os lugares.
Mas eles sabem onde vivem, não precisamos ensiná-los, eles veem e sofrem, mas crescem fortes.

ICArabe- Sua esposa, Soraya, é brasileira. Você acompanha o cinema do Brasil?
Emad Burnat-
Eu acompanho tudo que posso sobre o Brasil, desde criança, especialmente futebol, e minha esposa acompanha os filmes brasileiros. Sempre senti o Brasil como a minha segunda casa.

ICArabe- E Jibreel? Está animado para vir ao Brasil?
Emad Burnat-
Jibreel está muito feliz. Ele foi comigo aos Estados Unidos e a países da Europa. Ficou muito cansado de viajar e disse que não queria mais fazê-lo. Mas quando eu disse a ele sobre o Brasil, ficou muito animado para ir.

ICArabe- Os países árabes estão vivenciando importantes mudanças políticas e sociais. Como esses eventos podem impactar o futuro das produções de cinema no Mundo Árabe ou relacionadas a ele?
Emad Burnat-
Eu penso que o que está acontecendo nos países árabes ainda não é uma revolução verdadeira, nós ainda não sentimos mudanças reais, ainda é o mesmo sistema, a mesma política. Filmes são feitos, mas muitas vezes sem uma mensagem, sem uma intenção de mudança. Ao mesmo tempo, não há atenção para filmes como o meu, nem politicamente nem publicamente, mesmo no caso de “5 Câmeras Quebradas”, que causou um impacto significativo em todo o mundo.

ICArabe - Diretores como você estão mostrando a realidade da Palestina para o mundo. Em sua opinião, qual o papel dos artistas na realidade palestina?
Emad Burnat-
Se você é cantor, político ou rico, você consegue respeito e valorização. Mas um artista ou cineasta como eu não obtém reconhecimento pelo trabalho que faz, mesmo meu filme tendo sido o primeiro documentário da Palestina a ser nomeado para o Oscar.

ICArabe- Qual sua expectativa em relação ao público brasileiro durante a 8ª Mostra Mundo Árabde Cinema?
Emad Burnat-
Espero que os brasileiros apreciem e apoiem meu trabalho,  como o ICArabe está fazendo.
 
Leia mais sobre o diretor Emad Burnat em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/07/1318994-cineasta-emad-burnat-mostra-palestina-por-lente-regional.shtml

Para a programação completa da Mostra, acesse www.mundoarabe2013.icarabe.org

Saiba mais informações sobre a Mostra e assista a trailers dos filmes em https://www.facebook.com/8aMostraMundoArabeDeCinema