Os palestinos são os mais vulneráveis, afirma fotógrafa em abertura de exposição sobre refugiados
A exposição fotográfica “Infância Refugiada”, de Karine Garcêz, que apresenta imagens de crianças palestinas refugiadas na Síria, na Turquia e no Líbano, foi aberta nesta terça-feira, 27 de junho, no espaço Matilha Cultural, no centro de São Paulo.
Karine falou ao público sobre a proposta do trabalho, que surgiu após ela se converter ao islamismo e estudar fotografia na Faixa de Gaza. “Eu escolhi os palestinos (para serem retratados), que são o grupo em mais tempo de refúgio e os mais vulneráveis dentro do conflito da Síria - apesar de toda a catástrofe dos refugiados sírios -, porque os palestinos estão no segundo refúgio e isso é usado por muitos países e programas sociais para recusá-los. São proibidos de trabalhar, as crianças são exploradas”, afirmou.
De acordo com a fotógrafa, as crianças, as mais afetadas pelos conflitos, causam empatia e chamam atenção para o que acontece com os palestinos. “Parece que nós no Brasil estamos muito longe, mas as políticas que os países adotam afetam os refugiados. Também somos responsáveis pelos conflitos que acontecem no mundo”, criticou, destacando a decisão do Governo Temer, no ano passado, de suspender as negociações com a União Europeia para o país receber 100 mil refugiados sírios.
Entre os presentes que lotaram o salão da Matilha Cultural, estava o refugiado macedônio e professor de artes Blagojco Dimitrov, 53 anos, que afirmou ter gostado da exposição por se identificar com a realidade dos conflitos. “Sinto a dor dessas pessoas, pois é muito difícil essa adaptação. Identifico-me com os refugiados de todas as nações”, afirmou ele, que está há mais de 20 anos no Brasil após a fragmentação da antiga Iugoslávia.
Já o desenhista e estudante da cultura árabe Afonso Sarmento, 27 anos, foi convidado a fazer uma intervenção artística em fotos de Karine que não entraram para a exposição. “Sempre fui muito interessado na cultura do Oriente Médio: da Pérsia, arábica e pré-islâmica. Fui influenciado pelo Renascimento, em que os europeus tiveram contato com os povos do Oriente Médio. Também gosto das religiões surgidas na região, apesar de não seguir nenhuma delas”, revelou ele, que escreveu em uma das fotos, em língua árabe, “Em nome de Deus, o Misericordioso, Misericordiador!”
A diretora de Comunicação e Imprensa do ICArabe, Soraya Misleh, presente no evento, ressaltou a importância do trabalho. “Essa exposição é muito importante porque muitas vezes enxergamos o refugiado como o outro e não conseguimos ver humanidade nele. As imagens das crianças e seus olhares aproximam e trazem identidade. Precisamos muito disso para construir a solidariedade”, salientou. “Os refugiados saem em busca de sua dignidade e os governos não fazem nenhum favor em recebê-los, pois são cúmplices das políticas que empurram as pessoas de suas terras”, completou.
A exposição fica em cartaz na Matilha Cultural até 6 de agosto. A entrada é franca.
Serviço
Exposição “Infância Refugiada”
Data: De 27 de junho a 6 de agosto
Dias e horários: Terça a domingo, das 12h às 20h, e sábado, das 14h às 20h
Local: Matilha Cultural – Rua Rego Freitas, 452 – Centro (São Paulo)
Leia também: Exposição fotográfica em São Paulo retrata a realidade de crianças refugiadas (http://www.icarabe.org/node/3086)