Concurso de cinema “Os Árabes e a 25 de Março”: Biblioteca Mário de Andrade abre exibições da categoria Júri Popular
Para André Albregard, produtor do concurso, o objetivo de formar um acervo cinematográfico da imigração árabe na região da Rua 25 de Março, em São Paulo foi atingido. “Agora temos um acervo de mais de 25 filmes para explorar em diversos projetos que o ICArabe possa fazer por São Paulo, pelo Brasil e por outros países nos quais temos uma boa rede de relacionamentos”, ressaltou.
E acrescentou que um dos diferenciais do projeto é garantir um circuito de exibição para filmes, “que muitas vezes acabam ficando na gaveta, em espaços muito prestigiados da cidade. Estamos assegurando sessões para estes quatro filmes e, eventualmente, em outros projetos podemos inserir outros”, disse André, lembrando que os vencedores deverão entrar na programação da Mostra Mundo Árabe de Cinema, que ocorrerá entre agosto e setembro deste ano.
Os finalistas
Dirigido por Gustavo Brandão, “25 de Março: A Memória do Mundo Árabe” retrata a história dos imigrantes por meio das lembranças do desenhista Paulo Sayeg a partir de sua infância na Rua 25 de Março. É por meio delas que o diretor reconstitui a identidade do povo árabe na região.
Ter sido selecionado já foi um grande passo, disse Gustavo, que ficou bastante satisfeito com as escolhas dos jurados. "O Júri conseguiu fazer um recorte muito interessante para esses quatro filmes finalistas. São quatro visões bem diferentes sobre a história dos árabes e a relação com a 25 de Março, isso me deixou muito feliz. Vi que realmente dentro de um tema único conseguiu-se ter uma variedade de pontos de vista."
Denise Lara, que trabalhou na produção do curta, ressaltou a importância da iniciativa. “Parabéns ao ICArabe e à Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, que estão promovendo este concurso, essa memória cultural. Espero que venham muitos outros.”
“O Cheiro de Zattar”, de Zeca Miranda, mostra os desafios na administração de uma loja que está nas mãos da terceira geração de uma família árabe. A produção faz uma viagem entre passado, presente e futuro.
“Fiquei muito feliz por estar entre os quatro selecionados. Porque a gente não espera. Quando se trabalha com cinema, na verdade, se quer filmar, contar uma história e era isso que eu queria. O processo final, que é o cinema, a exibição numa tela grande de uma sala escura com as pessoas tendo esta emoção que o filme passa é o mais importante”, afirmou Zeca. “Estou feliz por ter conseguido alcançar o que tinha pensado no inicio. Parabenizo os idealizadores por esta iniciativa maravilhosa e espero que sigam dando oportunidades a outras pessoas porque o cinema cresce com isso”.
Daniel Nasser, dono da loja retratada do documentário, acredita que o filme de Zeca conseguiu traduzir a questão árabe no Brasil, assim como os outros, cada um à sua maneira. “Os colegas representados [pelos outros finalistas], de uma forma ou de outra, exprimem a importância e a força que os árabes ainda têm. Eu, que trabalho na 25 de Março, posso dizer que essa memória árabe é bastante viva”, ressaltou.
“Arabescos: do Mascate ao Doutor” foi produzido para um projeto acadêmico em 2004 e nunca exibido. Ele foi editado para o formato de curta-metragem para este concurso. A direção é de Beatriz Le Senechal, que conta o percurso dos árabes desde momentos de guerras e de fome até prosperarem como comerciantes no centro de São Paulo.
Para ela, redescobrir os personagens e o conteúdo que eles passaram, com toda a bagagem cultural que possuíam foi um presente. “Vi que isso poderia ajudar a criar esse acervo audiovisual. Tinha realmente informações muito valiosas e achei que seria pertinente participar do concurso”, disse a diretora. “Quero que todo esse material chegue às pessoas mais interessadas. Não era legal deixar isso guardado para mim. E o fato de ter sido selecionada para votação do público, que tem suas peculiaridades, foi uma surpresa muito boa. Os outros filmes também são muito sensíveis. Será uma escolha difícil”, pondera.
Pedro Jorge dirige “Ao Mundo Novo” e narra a história da família a partir de uma conversa com seu pai. O curta nasceu mais pela finalidade de aproximação com o pai do que qualquer outra questão, explica. “É um filme emocional, a partir dele fiz toda uma busca de trajetória da minha família e isso já é um prêmio", revelou. “Sinto-me muito honrado de ter sido um dos escolhidos. Fico contente por ver meu trabalho na tela, uma oportunidade tão rara de se conseguir e isso é muito gratificante. Além disso, a votação popular é muito significativa, é a voz do público.”
O público
Os curtas emocionaram o público que compareceu à estreia das exibições. “Os filmes são maravilhosos. E a iniciativa incrível porque ela liga várias coisas. Liga a cidade a uma colônia que foi muito importante para nossa cultura e liga a memória, e faz tudo isso do ponto de vista de quem quer falar sobre o assunto. Pude ver na tela muitos descendentes. Acho que este é um trabalho que deve continuar, é um resgate fundamental”, afirmou Ariela Goldman,diretora cinema e teatro.
Mateus Rodrigues, que está no primeiro ano da faculdade de Cinema e estava em dúvida em qual filme votar, também gostou do que viu. “Os curtas são bastante interessantes, principalmente a parte de contar histórias, inicialmente bem realistas, e a forma de contá-las sob diferentes olhares."
Para a jornalista Joana Gondin, o concurso é uma oportunidade de conhecer mais a temática árabe. “Achei a sessão muito bacana. É bom ter contato com uma cultura que eu não conhecia bem. Cada filme traz uma perspectiva diferente sobre as histórias com a 25 de Março. Tem o mais emocional, o mais jornalístico, o poético. Gostei da iniciativa e aprendi um pouco mais sobre o tema".
Votação até 10 de março
Em sua primeira edição, o concurso “Os Árabes e a 25 de Março” foi criado para incentivar a produção cinematográfica e para criar um acervo com a história da imigração árabe na região da Rua 25 de Março. Famosa pelo comércio e pelos preços baixos, a região é reduto de famílias árabes que imigraram para o Brasil a partir do fim do século 19. Apesar de atrair milhões de pessoas de todo o Brasil, a região tem um acervo histórico pequeno, sobretudo de imagens.
Os filmes serão exibidos em conjunto em uma sessão em diversos endereços, até o dia 10 de março. Ao entrar na sala de cinema, cada espectador recebe uma cédula. Após assistir aos filmes, seleciona nesta cédula seu preferido. A cédula é entregue a um fiscal do ICArabe, que a deposita em uma urna. Os vencedores serão anunciados em uma cerimônia que será realizada em São Paulo em 25 de Março, data que homenageia a imigração árabe ao Brasil.
No total, 30 produções foram inscritas. Os jurados se reuniram em 05 de fevereiro e fizeram a seleção dos filmes. Nesta reunião foram escolhidos, mas ainda não divulgados, os vencedores nas outras duas categorias. O júri é formado por Silvia Antibas, diretora de Cultura da Câmara Árabe, pelo diretor Cultural do ICArabe, Geraldo Adriano Godoy de Campos, e pelos cineastas Lina Chamie, Otávio Cury e José Roberto Sadek.
Confira os filmes e as datas e horários de exibição:
Arabescos: do mascate ao doutor
Brasil|2004| Documentário| 15 min. | dir. : Beatriz Le Senechal
Filmado em 2004, Arabescos – do mascate ao doutor conta o percurso de um povo que, expulso da sua terra pela guerra, pela fome e por perseguições, protagonizou a ascensão da atividade comercial em São Paulo, alcançou o sucesso e se integrou de maneira extraordinária.
O Cheiro de Zattar
Brasil| 2014| Documentário| 14 min. | dir. : Zeca Miranda
O filme acompanha a rotina de tradicional loja de artigos árabes nos arredores da 25 de Março. Comandado pela terceira geração, o comércio tenta manter a tradição das origens e ao mesmo tempo acompanhar e se adaptar às mudanças dos tempos atuais, fazendo uma viagem entre passado, presente e futuro.
Ao Mundo Novo
Brasil| 2014| Documentário| 11 min. | dir. : Pedro Jorge
Uma foto em preto e branco de um homem sorrindo, essa foi por anos a única imagem que Pedro tinha de seu avô. Em uma conversa com seu pai fragmentos remontam a história de sua família, revelando movimentos, paisagens e acasos até então submersos.
25 de Março: A Memória do Mundo Árabe
Brasil| 2014| Documentário| 13 min.| dir.: Gustavo Brandão
O artista e desenhista Paulo Sayeg relembra sua infância na rua 25 de Março. Através das suas lembranças o filme vai pintando um quadro do tempo onde a memória e a identidade do povo árabe são as tintas da história.
Exibições – entrada franca
28 de fevereiro, 16h
Esporte Clube Sírio
Avenida Indianópolis, 1192 - Planalto Paulista, São Paulo - SP, 04062-001
(11) 2189-8500
01 de março, 17h
Clube Atlético Monte Líbano
Av. República do Líbano 2267
02 de março, 20h
Centro Cultural do Banco do Brasil
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
02 de março, 16h e 18h
UFABC Campus Santo André
Rua Abolição, s/nº - Vila São Pedro – Santo André (ABCD paulista)
11 4996-0000
03 de março, 16h e 18h
UFABC Campus Santo André
Rua Abolição, s/nº - Vila São Pedro – Santo André (ABCD paulista)
11 4996-0000
04 de março, 16h e 18h
UFABC Campus Santo André
Rua Abolição, s/nº - Vila São Pedro – Santo André (ABCD paulista)
11 4996-0000
05 de março, 16h e 18h
UFABC Campus São Bernardo do Campo (ABCD paulista)
Rua Arcturus, 03 - Jardim Antares
(11) 2320-6000
06 de março, 16h
Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro 1000 – Paraíso
06 de março, 20h
Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro 1000 – Paraíso
06 de março, 17h e 18h
UFABC Campus São Bernardo do Campo (ABCD paulista)
Rua Arcturus, 03 - Jardim Antares
(11) 2320-6000
07 de março, horário a confirmar
Memorial da América Latina
Av. Auro S. de M. Andrade, 664 – Barra Funda
10 de março, 20h
Escola Livre de Cinema e Vídeo
Av. Utinga 136 - Santa Terezinha - Santo André, região do ABCD paulista