Emoção e homenagem a Edward Said marcam a abertura da 18ª Mostra Mundo Árabe de Cinema no CineSesc
Realizado pelo Instituto da Cultura Árabe – ICArabe em parceria com o Sesc São Paulo – Serviço Social do Comércio, o evento irá até 6 de setembro.
A sala do CineSesc foi palco, nesta quinta-feira, 31 de agosto, de um momento emocionante do cinema, com a abertura da 18ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, em seu retorno 100% após a pandemia. O evento, realizado pelo Instituto da Cultura Árabe, em parceria com o Sesc São Paulo – Serviço Social do Comércio, marca os vinte anos da morte do renomado intelectual palestino, Edward Said, que foi a inspiração para a criação do ICArabe. A mostra acontece até o dia 6 de setembro apresentando 10 filmes inéditos que celebram a diversidade e a riqueza dos países árabes.
A sessão de abertura foi marcada por discursos em homenagem a Said e celebração do retorno do público às salas de cinema.
“A Mostra Mundo Árabe de Cinema tem proporcionado viagens, paisagens e ambientes que não se confundem entre si. Mundos que se conflitam ou se conectam a seres humanos que compartilham problemas comuns, não apenas com o objetivo de entreter, mas para cristalizar as aspirações de seus povos e representar suas lutas”, afirmou o curador da mostra, Arthur Jafet. “O mundo árabe vivencia desafios, extremismo, polarização e violência. Mas também é capaz de se reinventar. A expressão criativa é uma ferramenta extremamente poderosa que hoje, mais do que nunca, conta com nosso endosso e apoio. Capacitar a produção cultural independente é crucial para criar sociedades vibrantes, e é em apoio à expressão criativa que geramos pensamento crítico, engajamento social, valorização da excelência e promovemos colaboração cultural”.
O gerente do Cinesesc, Gilson Parker, abriu a Mostra falando em nome do diretor do Sesc São Paulo, Danilo Miranda, que não pôde estar presente. Ele agradeceu a presença de todos e lembrou dos 18 anos de parceria com a Mostra. “Esses 18 anos de relação do CineSesc com a Mostra do Mundo Árabe tem sido muito profícuos. Nós temos conseguido explorar a diversidade desse mundo árabe, que muitas vezes desconhecemos; mesmo aqui em São Paulo com a nossa proximidade com diversas comunidades árabes, temos uma visão local”, afirma. “Eu costumo dizer que o CineSesc é uma porta para augusta e uma janela para o mundo; nós conseguimos visualizar uma outra realidade”.
Com sala lotada, a noite de abertura teve a exibição do filme "Ventre Materno", dirigido por Carlos Chahine. A produção, ambientada no Líbano de 1958, segue a história de três irmãs que, durante suas férias nas montanhas libanesas, são impactadas pelos eventos de uma revolução em Beirute e pela chegada de turistas franceses. O enredo também destaca a luta da protagonista, Layla, contra a sociedade patriarcal que as aprisiona.
“Ventre materno (ou a noite do copo d'água, como é seu título original), tem como plano de fundo o reencontro do diretor Carlos Chahine, de volta do seu exílio na França para a religião do Vale do Qadisha, do Vale Sagrado”, afirmou o curador. “Há uma guerra no país; e uma guerra familiar entre homens e mulheres; cristãos muçulmanos; chefes de clãs e agricultores; tradição e modernidade”.
Representando o presidente do ICArabe, Murched Taha, a diretora cultural do ICArabe, Soraya Misleh, relembrou a importância do intelectual palestino Eduardo Said, cujo trabalho e legado moldaram a iniciativa do ICArabe e também homenageou a idealizadora da Mostra, Soraya Smaili. Ela enfatizou a necessidade de desmistificar estereótipos sobre a região do Oriente Médio e destacou o protagonismo feminino presente na cultura árabe.
"Ventre Materno traz o protagonismo feminino; nessa ideia de desconstruir e informar sobre o protagonismo histórico feminino nessa região do Oriente Médio e Norte da África”, diz Misleh. “Em homenagem a Eduardo Said, acho bem importante que a Mostra tenha três filmes inéditos sobre Palestina”, complementa a palestino-brasileira Soraya Misleh. “Inclusive de diretores palestinos, protagonistas da sua própria história, que vivem uma Nakba contínua, de 75 anos da formação do estado de Israel, em 15 de maio de 1948, mediante limpeza étnica planejada. Aqui nós vamos poder ver um pedacinho, um microcosmo dessa história, a partir da ficção”.
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Osmar Chohfi, destacou a relevância desta edição da mostra, citando Edward Said. Ele enfatizou que o cinema é uma ferramenta poderosa para celebrar a cultura árabe e promover a compreensão mútua entre as culturas.
"O festival celebra a diversidade do cinema nos países árabes e seus povos. Essa edição é importante porque marca os vinte anos da morte de Edward Said, grande orientalista, grande ativista da cultura ambiental, ele se destacou no campo acadêmico internacionalmente", disse Osmar Chohfi. “A Mostra Mundo Árabe de Cinema representa uma oportunidade ideal para revisitar a história [árabe] sob o ponto de vista do presente, enriquecido com as mudanças e avanços do mundo que se refletem na criação artística”.
A 18ª Mostra Mundo Árabe de Cinema conta com o patrocínio da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e do Instituto do Sono, e é uma oportunidade única para o público vivenciar a cultura e a diversidade dos países árabes através do cinema. Tem o apoio da Unifesp, Cátedra Edward Said de Estudos da Contemporaneidade, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, CineFértil e Editora Tabla. Idealizada por Soraya Smaili e com a curadoria de Arthur Jafet, a mostra tem como tema central neste ano a temática social, proporcionando ao público uma imersão nas histórias e realidades contemporâneas dos diretores árabes.
Para obter mais informações sobre a programação e aquisição de ingressos, visite o site oficial da mostra neste link.