Debate encerra curso “Países Árabes: Conjuntura Atual e Perspectivas”

Qui, 14/04/2011 - 17:21
Valério Arcary comparou a onda revolucionária que acontece atualmente nos países árabes com a que ocorreu entre os anos de 2000 e 2005 na América Latina. Colocou também que as nações da região passaram por transformações muito intensas por conta do dinheiro do petróleo, fazendo a transição de uma sociedade agrária para a urbana em pouco tempo. Para ele, os acontecimentos recentes mostram que o povo da região passou a acreditar que é possível transformar a situação desses países. Arcary disse também que o regime ditatorial da Arábia Saudita, um dos mais aberrantes, está por um fio, e que essa queda tem preocupado muito os Estados Unidos, por conta de seus interesses na região.Samy Adghirni, jornalista que passou meses cobrindo os conflitos na Líbia, e que tem grande experiência em assuntos relacionados ao mundo árabe, deu seu depoimento sobre a situação atual do país. Segundo ele, a população da Líbia vivia em um estado de relativo conforto, com acesso à educação e saúde públicas e algum poder aquisitivo, mas, em compensação, em situação de ausência total de liberdade. O regime de Muamar Kadafi, extremamente autoritário, não permite a existência de imprensa ou de oposição. Adghirni ressaltou que o chamado “rebelde líbio” é o cidadão comum, pessoas que tomaram armas e foram para o front. Para ele, os rebeldes possuem não têm como ganhar este conflito, e têm enfrentado exércitos profissionais e mercenários com pouquíssimos recursos. O jornalista acredita que o massacre poderia ter tido conseqüências ainda piores caso não houvesse a intervenção da Otan.O professor Mamede Jarouche também se colocou a favor da intervenção na Líbia. Ele esteve no Egito por dois meses e acompanhou de perto as mobilizações que derrubaram a ditador Hosni Mubarak, trazendo seu depoimento para o debate. Jarouche se disse impressionado com a obstinação da juventude egípcia, que não deixou de ocupar o espaço público até que Mubarak deixasse o poder, mesmo diante da repressão que sofreram. Para ele, tanto a revolução como a contra-revolução estão em curso, mas mesmo assim, nada será como antes no mundo árabe.  Murched Taha criticou a forma como o imperialismo tenta dividir e acabar com a história dos povos árabes, utilizando-se também de técnicas de propaganda para difundir preconceitos culturais. Para ele, as revoluções em curso têm ainda o mérito de despertar o interesse de todo o mundo para a região. Ele ressaltou que as ditaduras existentes na região foram impostas pelo Império e questiona a duplicidade de intenções existentes na intervenção militar na Líbia e na ordem para que a Arabia Saudita contivesse as revoltas no Bahrein, demonstrando que a preocupação das potências está longe de ser humanitária.José Farhat refletiu sobre a questão do petróleo e o impacto da descoberta de grandes reservas para o Oriente Médio, lembrando também da grande quantidade de gás natural que foi encontrada nas águas territoriais do Líbano. Lá, assim como em outras regiões do mundo, a prospecção tem sido feita por empresas estadunidenses, cujos interesses ameaçam a soberania de diversos países. Farhat alertou para os riscos que o Brasil corre nesse sentido após a descoberta do pré-sal.Emir Mourad, engenheiro civil, trabalhou na Líbia por três anos e contou suas experiências. Logo ao chegar no país, Mourad contou que foi expulso do hotel em que estava junto a outros hóspedes, pois o local iria abrigar uma delegação do governo em Benghazi. Mourad atribui os levantes na Líbia á falta de liberdade e a fatores socioeconômicos, ressaltando que os jovens na Líbia, sem perspectivas, têm legitimidade para fazer a revolução. Ele frisou a admiração que o povo líbio sente pelo Brasil e considera que a abstenção do país na votação pela intervenção no Conselho de Segurança da ONU não deve abalar as relações comerciais. Mourad colocou também que os bombardeios têm atingido civis de ambos os lados e defende uma solução negociada para o conflito, para evitar mais mortes. Já Mohamed Habib, professor egípcio radicado no Brasil e vice-presidente do ICArabe, foi responsável por fazer uma abertura para o debate, colocando dados sobre consumo e produção de barris de petróleo e outros combustíveis por diversos países do mundo. Segundo ele, o Oriente Médio é vítima da tríade recursos energéticos – Israel – ditaduras, lembrando que desde sempre o petróleo árabe foi controlado pelos Estados Unidos. O curso “Países Árabes: Conjuntura Atual e Perspectivas” recebeu um número recorde de inscrições, com ampla participação do público ao longo dos oito encontros. Todo o material do curso segue disponível para consulta no site do ICArabe, assim como entrevistas com parte dos professores presentes.

Um grande debate envolvendo os principais temas abordados durante as aulas encerrou ontem (13/04) o curso “Países Árabes: Conjuntura Atual e Perspectivas”, coordenado por Heloisa Abreu Dib Julien, Secretária Geral do ICarabe e Coord. do Núcleo de Cursos. Participaram da discussão os professores Valério Arcay (historiador e professor do IF-SP), Mamede Jarouche (Letras/USP), Murched Taha (Unifesp), José Farhat (ICArabe) e Mohamed Habib (Unicamp/ ICArabe), o jornalista Samy Adghirni (Folha de S. Paulo) e o engenheiro Emir Mourad, que trabalhou na Líbia para a construtora Queiros Galvão. A atividade foi mediada pela jornalista Soraya Misleh, diretora de imprensa do ICArabe. 

Valério Arcary comparou a onda revolucionária que acontece atualmente nos países árabes com a que ocorreu entre os anos de 2000 e 2005 na América Latina. Colocou também que as nações da região passaram por transformações muito intensas por conta do dinheiro do petróleo, fazendo a transição de uma sociedade agrária para a urbana em pouco tempo. Para ele, os acontecimentos recentes mostram que o povo da região passou a acreditar que é possível transformar a situação desses países. Arcary disse também que o regime ditatorial da Arábia Saudita, um dos mais aberrantes, está por um fio, e que essa queda tem preocupado muito os Estados Unidos, por conta de seus interesses na região.

Samy Adghirni, jornalista que passou meses cobrindo os conflitos na Líbia, e que tem grande experiência em assuntos relacionados ao mundo árabe, deu seu depoimento sobre a situação atual do país. Segundo ele, a população da Líbia vivia em um estado de relativo conforto, com acesso à educação e saúde públicas e algum poder aquisitivo, mas, em compensação, em situação de ausência total de liberdade. O regime de Muamar Kadafi, extremamente autoritário, não permite a existência de imprensa ou de oposição. Adghirni ressaltou que o chamado “rebelde líbio” é o cidadão comum, pessoas que tomaram armas e foram para o front. Para ele, os rebeldes possuem não têm como ganhar este conflito, e têm enfrentado exércitos profissionais e mercenários com pouquíssimos recursos. O jornalista acredita que o massacre poderia ter tido conseqüências ainda piores caso não houvesse a intervenção da Otan.

O professor Mamede Jarouche também se colocou a favor da intervenção na Líbia. Ele esteve no Egito por dois meses e acompanhou de perto as mobilizações que derrubaram a ditador Hosni Mubarak, trazendo seu depoimento para o debate. Jarouche se disse impressionado com a obstinação da juventude egípcia, que não deixou de ocupar o espaço público até que Mubarak deixasse o poder, mesmo diante da repressão que sofreram. Para ele, tanto a revolução como a contra-revolução estão em curso, mas mesmo assim, nada será como antes no mundo árabe. 

 Murched Taha criticou a forma como o imperialismo tenta dividir e acabar com a história dos povos árabes, utilizando-se também de técnicas de propaganda para difundir preconceitos culturais. Para ele, as revoluções em curso têm ainda o mérito de despertar o interesse de todo o mundo para a região. Ele ressaltou que as ditaduras existentes na região foram impostas pelo Império e questiona a duplicidade de intenções existentes na intervenção militar na Líbia e na ordem para que a Arabia Saudita contivesse as revoltas no Bahrein, demonstrando que a preocupação das potências está longe de ser humanitária.

José Farhat refletiu sobre a questão do petróleo e o impacto da descoberta de grandes reservas para o Oriente Médio, lembrando também da grande quantidade de gás natural que foi encontrada nas águas territoriais do Líbano. Lá, assim como em outras regiões do mundo, a prospecção tem sido feita por empresas estadunidenses, cujos interesses ameaçam a soberania de diversos países. Farhat alertou para os riscos que o Brasil corre nesse sentido após a descoberta do pré-sal.

Emir Mourad, engenheiro civil, trabalhou na Líbia por três anos e contou suas experiências. Logo ao chegar no país, Mourad contou que foi expulso do hotel em que estava junto a outros hóspedes, pois o local iria abrigar uma delegação do governo em Benghazi. Mourad atribui os levantes na Líbia á falta de liberdade e a fatores socioeconômicos, ressaltando que os jovens na Líbia, sem perspectivas, têm legitimidade para fazer a revolução. Ele frisou a admiração que o povo líbio sente pelo Brasil e considera que a abstenção do país na votação pela intervenção no Conselho de Segurança da ONU não deve abalar as relações comerciais. Mourad colocou também que os bombardeios têm atingido civis de ambos os lados e defende uma solução negociada para o conflito, para evitar mais mortes. 

Já Mohamed Habib, professor egípcio radicado no Brasil e vice-presidente do ICArabe, foi responsável por fazer uma abertura para o debate, colocando dados sobre consumo e produção de barris de petróleo e outros combustíveis por diversos países do mundo. Segundo ele, o Oriente Médio é vítima da tríade recursos energéticos – Israel – ditaduras, lembrando que desde sempre o petróleo árabe foi controlado pelos Estados Unidos. 

O curso “Países Árabes: Conjuntura Atual e Perspectivas” recebeu um número recorde de inscrições, com ampla participação do público ao longo dos oito encontros. Todo o material do curso segue disponível para consulta no site do ICArabe, assim como entrevistas com parte dos professores presentes.

auditóriofotos Aline Baker