ICArabe e jornal O Estado de S. Paulo debatem filme tunisiano “Weldi – meu querido filho”
Com apoio do Instituto da Cultura Árabe – ICArabe e do jornal O Estado de São Paulo, a Pandora Filmes realizou nesta quarta, 9 de janeiro, uma sessão debate do filme tunisiano "Weldi – Meu querido filho", de Mohamed Ben Attia (o mesmo diretor de “A Amante”, que foi atração da Mostra Mundo Árabe de Cinema em 2018).
O evento, que lotou a sala do Cinema Caixa Belas Artes, contou com a participação de Salem Nasser, doutor em Direito Internacional pela USP, professor da Escola de Direito de São Paulo (Fundação Getúlio Vargas) e membro do ICArabe, do editor Ubiratan Brasil e do crítico Luiz Carlos Merten, ambos do Estadão.
O filme estreou no Brasil no dia 3 de janeiro. Retrata, na Tunísia atual, a família de Riadh, um homem que está prestes a se aposentar. Ele e a esposa, Nazli, têm as atenções voltadas para o único filho, Sami, que está se preparando para os exames do ensino médio. Mas as rotineiras crises de enxaqueca do jovem deixam o casal sempre em alerta. Quando tudo parece estar melhor, Sami desaparece de repente.
Na visão de Salem Nasser, a questão central da produção é o isolamento. “Não se percebe através do filme o que ocorre na Tunísia nesse momento da história. Não há referência de que ali houve a Primavera Árabe (onda de protestos, revoltas e revoluções populares contra governos do mundo árabe, que teve início no final de 2010), a situação econômica atual, a política, que é muito intensa”, destacou.
Em comparação com a realidade, o especialista ressaltou que há uma espécie de mistério no filme, que está relacionado com o processo da Primavera Árabe, com o Estado Islâmico e os jovens que se juntam lutando na Síria. “É um paradoxo. A Tunísia é apresentada como o caso mais bem sucedido da Primavera Árabe - apresenta melhor resposta do mundo árabe. Além disso, antes das revoltas, já apresentava um quadro entre os países árabes no qual era visto como o mais ocidentalizado e que mais tinha avançado no sentido do estado civil”, explicou.
Para Merten, que também destaca o isolamento como aspecto fundamental na narrativa, “não só sobre os personagens, mas também sobre o próprio país”, o filme é anticartático. “É um retrato de mundo assustador. A desumanização do mundo em que vivemos hoje e que o diretor coloca na tela”, salientou.
De acordo com o crítico, na Tunísia a reação ao filme foi polêmica. “Os jovens não se sentiram representados no e polemizaram em quase todos os debates, não reconhecendo o país como que mais envia recrutas para a Síria”, disse.