Artigo: Palestina, essa desconhecida, por Lucia Helena Issa
Leia o artigo escrito por Lucia Helena Issa e publicado originalmente no Jornal GGN
Recentemente, houve uma polêmica no Youtube envolvendo a Palestina, Henry Bugalho e o professor Paulo Ghiraldelli, que me entristeceu e me surpreendeu pelo desconhecimento de alguns professores brasileiros no que se refere à Palestina e às diferenças básicas entre “muçulmanos e árabes”, “judeus e israelenses”, “Hamas e Hezbollah” etc.
O desconhecimento é imenso!
Como jornalista e escritora que esteve seis vezes no Oriente Médio, 4 delas na Palestina (Ramallah, Belém, Hebron, Campo de refugiados, etc , a Palestina real , não Israel), e que está para lançar um livro sobre o assunto, sinto – me no dever de explicar alguns conceitos básicos aos intelectuais brasileiros sobre a Palestina :
1)A palavra “judeu” nao se refere a uma etnia, mas a uma religião. E é exatamente por isso que a ONU e mundo todo condenaram Israel quando recentemente o país se declarou um “Estado Judeu”, mesmo tendo milhões de cristãos árabes e muçulmanos árabes vivendo em Israel, pois isso se configura um Apartheid religioso, sim. Pessoas que vivem em Israel são israelenses e não necessariamente judeus e há milhões de não-judeus em Israel que hoje são impedidos até de frequentar uma rodovia ou uma escola, construídas apenas para judeus. Vi em Israel ruas em que não-judeus, inclusive eu como cristã, são proibidos de entrar. E isso, em qualquer país do mundo, se chama segregação. Além disso, judaísmo (religião) e sionismo (movimento politico) são coisas completamente diferentes.
2) A palavra “muçulmano” também jamais se referiu a uma etnia e sim a uma religião. Existem brasileiros muçulmanos, indianos muçulmanos, árabes cristãos e muçulmanos chineses. Existem milhões de árabes cristãos no mundo, como eram meus avós, que imigraram para o Brasil. Os muitos cristãos que entrevistei na Palestina defendem os direitos dos palestinos muçulmanos e estão mais próximos dos palestinos em geral do que do governo de Israel! Quem acha simplesmente que o conflito em Israel é um “conflito entre judeus e árabes” nunca esteve na Palestina e não sabe nada sobre a região ou sobre o conflito.
3) A maioria dos muçulmanos hoje no mundo nem sequer é árabe. A maioria dos muçulmanos numericamente vive na Indonésia e não é de etnia árabe.
4) Ninguém jamais deixou de ir a Palestina porque o Hezbollah impediu, até porque o Hezbollah é um partido político e um exército não oficial do Líbano, e não da Palestina!
5) O Hamas é um partido político com um braço armado, e um partido que hoje domina a Faixa de Gaza e não a Palestina como um todo, que é governada pela Autoridade Palestina, que já criticou inúmeras vezes o radicalismo do Hamas.
6) Uma significativa parte do Líbano é cristã, da Síria também, e muitos cristãos só começaram a morrer na Síria recentemente depois que membros do ISIS foram armados pelos EUA para derrubar Assad (em vão), alimentando uma guerra que já dura 7 anos e já matou mais de 450 mil pessoas na Síria, onde estive recentemente.
7) Todos os países de maioria islâmica CONDENARAM os atentados de 11 de Setembro (menos o Afeganistão). Todos os muçulmanos que conheci pregam a paz e condenam os atentados dos extremistas. Assim como os cristãos condenam extremistas cristãos que pregam o ódio aos gays, a outras religiões, etc.
8) Os EUA têm milhares de muçulmanos vivendo em paz em seu território e perfeitamente integrados em suas comunidades, cientistas e médicos premiados, professores universitários muçulmanos que nunca aparecem na sua TV.
9) A prefeita da sede da Autoridade Palestina é mulher e cristã, assim como a prefeita de Belém, a quem já entrevistei e cuja foto comigo já publiquei. A mulher de Arafat, líder muçulmano histórico dos palestinos, era cristã e muito amada pelos muçulmanos!
10) Os cristãos iraquianos , que eram protegidos por Saddam Hussein no Iraque , começaram a morrer ou a deixar o Iraque, aterrorizados, depois da invasão dos EUA.
11) Os primeiros atentados terroristas na região do Oriente Médio atual foram cometidos por terroristas judeus de um grupo chamado Irgun, e não por muçulmanos palestinos. Historiadores israelenses sérios já falaram sobre isso.
12) Ytzhack Rabin, político amado por vários povos e líder dos judeus israelenses, foi assassinado em novembro de 1995, durante um atentado cometido por um judeu de extrema de direita e não por um muçulmano.
Lucia Helena Issa é jornalista e escritora