Árabes e iranianos dialogam nas telas sobre realidades e problemas comuns
Logo na abertura do debate “Os cinema árabe e iraniano na atualidade”, a presidente do Instituto da Cultura Árabe, Soraya Smaili, procurou destacar a confluência que existe entre as culturas iraniana, que costuma ser remetida ao passado persa, e árabe, que ganha várias e diferentes formas nos países pelos quais se alastrou e ganhou raízes mais sólidas, desde a fronteira leste do Iraque e o conjunto dos atuais países do Golfo até os limites do Marrocos, no noroeste africano.
“Esse é uma diálogo que ocorre há muitos séculos, mais do que podemos imaginar olhando daqui. São trocas intensas, o que faz com que seja difícil dizer onde começa a cultura árabe e termina a iraniana”, explicou Smaili.
O diálogo destacado está nas telas do Centro Cultural, no programa de filmes que foi composto para a Mostra “Imagens do Oriente”. São filmes iranianos, libaneses e palestinos, e ainda uma produção afegã, que ajudam a “entender melhor coisas que nos parecem herméticas”.
Parte do programa que chegou ao Brasil, trazido em parceria do Defc (Centro de Cinema Documentário e Experimental) com o Instituto da Cultura Árabe, ganhou forma há cerca de dois anos no Irã, quando foi realizado em Teerã o Festival “Panorama do Cinema Libanês e Palestino”.
Massoud Bakhshi, diretor de cinema e diretor de relações internacionais do Defc, diz que o interesse dos iranianos pelo cinema - conseqüentemente, pela realidade das sociedades árabes - se dá pelo fato de que em um determinado momento da história elas foram todas uma só e compartilharam laços fortes de coesão social. “Nós, árabes e iranianos, temos todos problemas em comum. Há séculos, esses países estavam unificados, todos faziam parte de um único círculo, mesmo com as diferenças de cultura, ou de cor, ou quaisquer que fossem. Estávamos unificados por uma religião, e tudo que a cultura e a arte fizeram pela religião ajudaram nessa unificação”.
Ele lembra que a separação entre o atual Irã e os outros países árabes, e também dos povos árabes entre si, ocorreu com a chegada do nacionalismo trazido pelos europeus. “Fizeram nossos países, colocaram as fronteiras e a partir daí fizeram com que nós nos entendêssemos como libaneses, palestinos, iraquianos e iranianos. Aprendemos a amar esse nacionalismo”.
Apesar dessa cisão, o diretor ainda enxerga os laços que um dia uniram com força as populações desses territórios. Por isso, e também porque muitos dos problemas que atingem uma população atingem a outra, muitos diretores iranianos viajam a países árabes, como ao Líbano e à Palestina, em busca de histórias.
CINEMA ÁRABE
Dos países do Oriente Médio, o Irã é o que tem o maior reconhecimento internacional nos dias atuais. Mas os países árabes foram grandes produtores de obras cinematográficas. O Egito foi um dos pioneiros na produção de filmes desde o início do século passado. Depois, esse cinema se espalhou e ganhou forma em outros países, como Síria e Tunísia.
A partir das décadas de 70 e 80 começam outros focos de desenvolvimento cinematográfico. Massoud revela que uma nova leva de diretores surge em países como Líbano e Palestina. “A terceira geração de jovens desses países (que surgiram no primeiro quarto de século, com os Acordos de Sykes-Piccot) começou a estudar cinema. Eles têm um material muito bom, que é a realidade de seus países e também a educação que receberam fora”. E o diretor avisa: “podemos esperar ótimos filmes de jovens diretores libaneses e palestinos”.