Exposição destaca ligação dos descendentes com o Líbano
Memorial da América Latina recebe exposição sobre vinda de libaneses ao Brasil, que acabaram por formar a maior colônia fora de seu paísDesde o dia 8, última quinta-feira, a biblioteca latino-americana Victor Civita do Memorial da América Latina recebe a exposição “Imigração Libanesa no Brasil”. Quem decidir conhecer um pouco da história da vinda desses árabes ao país, encontrará entre os destaques da mostra painéis fotográficos da reconstrução de Beirute, uma coleção de selos do Líbano no Brasil - colaboração dos Correios - e alguns exemplos da força da colaboração que essa colônia árabe deu ao Brasil, como a obra do escritor Milton Hatoum e do geógrafo Aziz Ab´Saber. A exposição do Memorial representa um pequena parte de uma longa história. Os árabe-libaneses, principalmente no fim do século XIX, procuraram o Brasil como refúgio de um contexto local conturbado e violento, quando a região ainda estava sob o domínio otomano. A inauguração da exposição, na quinta à noite, foi em si um pequeno retrato do que significa a origem para esses descendentes cujos pais ou avós vieram de cidades e vilas do atual Líbano. A cerimônia começou com a execução dos hinos libanês e brasileiro. O coral que entoou ambas as harmonias teve acompanhamento de parte da platéia. Depois, uma pequena palestra, com as palavras do presidente da Associação do Memorial da América Latina, Fernando Leça, e do professor de literatura Paulo Daniel Farah, que na ocasião lançou o livro “ABC do Mundo Árabe”. Na mesa, também estava presente o cônsul libanês em São Paulo, Walid Minkara, que não falou na palestra, mas deu entrevista ao Icarabe após a cerimônia. Walid ainda não se sente seguro com os apenas cinco meses de contato que teve com o português, mas já se comunica sem problemas. O cônsul destaca que quando os libaneses do século XIX e início do XX deixaram a região, fugiam de uma série de problemas conseqüência principalmente do domínio otomano sobre diversas regiões do Levante árabe, que incluía Síria, a Palestina e o próprio Líbano. “As pessoas fugiam para procurar novas oportunidades”. Jorge Mofarrej Nicolau, presidente do Clube Atlético Monte Líbano, é brasileiro, mas tem a maior parte de suas origens na vila libanesa de Rashaya. A mãe e a avó paterna nasceram no país às margens do mediterrâneo. “A ligação forte que existe entre Brasil e Líbano, entre os imigrantes e os descendentes e a terra de origem pode ser explicada em parte pelas fortes raízes familiares que existem na região árabe. Os laços que ligam pessoas separadas por um oceano é o sentimento de que todos pertencem à família. Todos perguntam de onde a família veio, onde os ascendentes nasceram, quem a pessoa conhece”, explica o líbano-brasileiro. Esses laços se estenderam e se mantiveram entre os libaneses no Brasil. “O Brasil recebeu os libaneses de braços abertos, onde há uma maior possibilidade de igualdade de chances”, diz Walid. Os números por si só demonstram a força da presença libanesa no país. Walid Minkara diz que o Líbano tem dentro de suas fronteiras uma população de cerca de 3 milhões de habitantes. Calcula-se que existam 15 milhões de libaneses imigrantes e descendentes ao redor do mundo, sendo que aproximadamente metade desse contingente, entre seis e oito milhões de pessoas, esteja no Brasil. O presidente do Monte Líbano enxerga parte dessa imigração, a primeira fase, ainda no final do século XIX, como uma aventura. “A primeira leva viajava para uma terra desconhecida, para conquistar novos mercados, ter novas chances. Os que vieram depois, na maioria, sabiam para onde vinham, eram chamados pelos familiares que haviam chegado primeiro”. Jorge Mofarrej destaca ainda que o libanês tem consciência dessa ligação com o Brasil, o que se reflete em constantes viagens de brasileiros para o país do Oriente Médio e no contato entre familiares de brasileiros que vivem no Líbano. Walid dá exemplo dessa presença brasileira no Líbano. Agora, em plena época de Copa do Mundo, é possível ver bandeiras brasileiras por todos os lados do Líbano, comparável à visão, exagera o cônsul, que temos nas ruas do Brasil. Apesar de alguns libaneses torcerem por times europeus, Alemanha e França principalmente, mais da metade da população escolhe o Brasil como time preferido. Ele explica: “primeiro porque vocês têm um grande time, depois, porque há os primos por aqui”. E a qualidade de sua seleção? Walid pede discretamente que não publique sua opinião sobre o time do país, mas fica a dica: como jogadores, os libaneses são grandes expectadores.