Icarabe coloca o cinema de diretores árabes no circuito de São Paulo
Com a exibição dos filmes ganhadores das Bienais de Cinema Árabe do Imarabe, no MIS e no Centro Cultural, surge a oportunidade de conhecer a geração de cineastas árabes de produção recente. Em 2007, novas mostras.Na nota que deu a respeito da Mostra de Cinema com os vencedores das Bienais de Cinema do Institute du Monde Arab – promovida pelo Icarabe em parceria com o Museu da Imagem e do Som em outubro -, o colunista de cinema Luiz Zanin, no seu blog no site de “O Estado de S. Paulo”, definia no título a mostra como uma oportunidade para ver “o raro cinema árabe”. Assim definia o colunista: “Nós, paulistanos, temos muitos motivos para nos queixar da nossa cidade. Oferta cinematográfica não é um deles. Além de tudo o que as salas comerciais oferecem, há também o chamado circuito off, alternativo, com sua programação fora do mercado”. O Icarabe, com as exibições e parcerias que fez nos últimos dois anos, colocou, de fato, ainda que timidamente, o cinema produzido por olhares árabes e em língua árabe nas telas de cinema de São Paulo. A primeira mostra de cinema do Icarabe, “Cinema e Debate”, ocorreu em junho de 2005, no Centro Cultural São Paulo. Uma seleção de filmes que faziam um retrato então representativo das sociedades e países do mundo árabe, mas que não necessariamente eram produções de diretores árabes. “Uncovered Iraq” - uma produção norte-americana que abordava a cronologia dos passos que levaram à invasão do Iraque -, “Selves and Others: A portrait of Edward Said” – um retrato do intelectual que tornou-se uma das mais proeminentes figuras na desconstrução do estereótipo do árabe e do muçulmano – e “A Batalha de Argel” – o clássico filme de Gillo Pontercovo sobre o movimento de libertação nacional na Argélia – foram os destaques de estrangeiros. Além disso, pela primeira era exibido “Os Silêncios do Palácio”, filme da egípcia Moufida Tatli, da nova geração de diretores árabes. A exibição dos filmes foi acompanhada de palestras e debates que procuravam aprofundar o que havia sido visto nas telas. Em 2006, em julho, o Icarabe promoveu em parceria com a Casa das Rosas o ciclo “Árabes: viagens e exílios”. Ali, a linha que guiou a escolha dos filmes foi a necessidade de reflexão do lugar do árabe no mundo, fosse como imigrante em “Sendo Osama”, ou como exilado, em nova exibição de “Selves and Others: a portrait of Edward Said”, ou como um despossuído em sua própria terra, em “Escritores nas Fronteiras”, uma visita de intelectuais à Palestina ocupada. Em agosto, na mostra que fazia parte da Mostra fotográfica Amrik, o mote foi semelhante, mas procurava aprofundar-se na imigração dos árabes, principalmente aquela feita por sírios e libaneses ao Brasil. Para isso, foi exibido “O Povo Brasileiro”, baseado na obra intelectual de Darcy Ribeiro, seguido de uma palestra do geógrafo Aziz Ab´Saber, que analisou a presença árabe no Brasil a partir da experiência de sua família. Seu pai foi um dos imigrantes libaneses que cruzaram o Atlântico. Agora em outubro e dezembro, no MIS e no Centro Cultural São Paulo respectivamente, o Icarabe trouxe pela primeira vez uma seleção com filmes, feitos por olhares e mãos árabes, premiados nas Sete Bienais de Cinema árabe realizadas pelo Intitute du Monde Arab, de Paris. A mostra de final de ano trouxe a geração de cineastas que se destacaram em produções dos anos 90 e 2000. Eles revisitam, como Ziad Doueiri e Danielle Arbid, em “Beirute Ocidental” e “Nos Campos de Batalha”, um passado recente e ainda não distante, com o sentimento de conflitos que assolam populações ainda feridas pelas aflições da guerra civil. Em 2007, o Icarabe segue com a promoção e o esforço de fazer esse “raro cinema árabe” cada vez mais presente no circuito alternativo de São Paulo. Já em março, o Instituto traz uma mostra de filmes do Oriente Médio, com produções do Centro de Cinema de Documentário Experimental do Irã. “São produções do Líbano, da Palestina e do Irã. Entre os filmes, vamos exibir ‘Jenin, Jenin’, ainda inédito no Brasil”, diz Arlene Clemesha, diretora do Instituto que organiza a mostra. Além do documentário ‘Jenin, Jenin’, Arlene revela que serão exibidos ficções e animações. Além disso, a mostra com os filmes das Bienais do IMarabe de Paris devem ser levados pelo Icarabe para outras cidades, como Porto Alegre, São Bernardo do Campo, Aracaju e Rio de Janeiro.