Os 40 anos de 1967
Parte 1 - Os palestinos na diáspora como parte essencial da resistência
Soraia Makhamra, palestino-brasileira que viveu nos territórios entre 1978 e 1984, fala da importância da manutenção e do fortalecimento da cultura palestina por parte das comunidades na diáspora.Diante da longa ocupação israelense – que se expandiu para Jerusalém Oriental, Gaza, Cisjordânia e Golã na chamada Guerra dos Seis Dias, há 40 anos –, preservar a cultura e identidade palestinas tem sido questão de sobrevivência para essa população. É o que enfatiza a palestino-brasileira Soraia Makhamra, para quem “manter o nosso dabki (dança), o nosso falafel, é muito importante”. Ela lembra que uma forma crucial de resistência tem sido conservar hábitos, costumes e a arte. Soraia recorda-se de como isso era presente quando morou na Palestina, de 1978 a 1984, ainda adolescente: “Nos anos 80, por exemplo, cantávamos a poesia Carteira de Identidade (de Mahmud Darwish), na escola. Eu trabalhava o verão inteiro como voluntária em acampamentos infantis. A gente tinha aula de artes e passava o período inteirinho cantando essas músicas. Tem uma fantástica que se chama Meu nome é povo palestino que a gente ensinava para as crianças”. A situação se agravou ainda mais na Palestina dos anos 80 para cá e a cultura se consolidou como forma não-violenta de luta frente a um regime segregador, o qual impõe condições de vida insustentáveis à população que vive sob ocupação israelense. Assim, ampliaram-se ainda mais os grupos folclóricos e centros culturais que, tradicionalmente, sempre existiram e passaram a ter na poesia, dança, arte e música instrumentos imprescindíveis à sobrevivência e oposição a toda opressão e exclusão impostas. “Li há pouco tempo que foi inaugurada uma galeria de arte em Jerusalém Oriental. Ainda como exemplo, existe o Instituto Nacional da Música em Jerusalém, cujo diretor, se não me engano, é Suheil Khouri, que foi pioneiro em várias iniciativas relacionadas à questão da resistência através da música. Ele foi diretor do Centro da Arte Popular em Ramallah, uma ONG de onde saiu o grupo folclórico Al-Funoun, cujo trabalho é fantástico e os participantes são todos voluntários”. Na opinião dessa palestino-brasileira, a cultura foi essencial à resistência à ocupação israelense. Assim, manter sua identidade mesmo na diáspora é questão de sobrevivência, explica ela. E propiciar a jovens de origem palestina a oportunidade de conhecerem a terra ocupada e sua história é essencial. Em julho, um grupo de latino-americanos fará essa viagem. Do Brasil, serão cinco adolescentes a integrá-lo. “Esse intercâmbio é fantástico. Mas o que faz esse trabalho com a diáspora urgente é que, com o acordo de Oslo, criou-se a ilusão de que teríamos um Estado palestino, que seria questão de tempo. E as comunidades na diáspora foram deixadas meio de lado, a necessidade de manter sua estrutura parece que se tornou dispensável, até mesmo porque muita gente voltou para a Palestina. Com a degradação do processo de paz, esse quadro piorou. Contudo, quando se fala de unidade nacional, inclui-se não só quem está nos territórios, até mesmo porque grande parte dos palestinos está fora hoje e não consegue voltar, nem para visitar a família.”