Autoridade Nacional Palestina não tem independência, dizem jornalistas palestinas em debate em São Paulo

Seg, 18/04/2016 - 00:19
As jornalistas palestinas Rita Abu e Linah Alsaafin vieram direto de Londres, Inglaterra, para o Brasil, na última sexta-feira (15), para discutir o papel da ANP (Autoridade Nacional Palestina) frente à ocupação da região por Israel. O debate organizado pela Frente em Defesa do Povo Palestino para quase 40 pessoas, como uma das atividades na Semana contra o Apartheid Israelense, aconteceu no anfiteatro de História da USP (Universidade de São Paulo).

Linah tem origens em Gaza e na Cisjordânia e trabalhou em meios de comunicação como Al Jazeera Inglês, Electronic Intifada, Al monitor e News Internationalist. Atualmente, escreve para o Middle East Eye, com sede em Londres. Já Rita nasceu na Jordânia e produziu reportagens investigativas em árabe sobre a política e economia palestina. Sua família é de Jerusalém.

"Estamos falando de uma Autoridade Nacional Palestina que não tem independência nem polítca, nem econômica. Depende de ONGs, da ocupação e de acordos de cooperação", afirmou Linah. As jornalistas denunciaram o apoio da ANP ao governo de Israel. "O orçamento de 1 bilhão de dólares é expendido em grande parte para as questões de segurança."

Linah e Rita denunciam que a ANP prende manifestantes palestinos em cooperação com Israel. "Não é à toa que muitos que são soltos das prisões palestinas são presos no mesmo dia pelas forças de Israel", diz Linah.

"Esse ciclo interminável demonstra que há um acordo para conter os rebeldes e revolucionários que possam questionar a ocupação", afirma Rita, por sua vez. A jornalista investigativa conta que ela e Linah receberam ligações com ameaças por causa da iniciativa do debate. "É um sinal de que onde há fumaça, há fogo e têm medo do que possamos falar."

Torturas

Rita também falou sobre as condições nas prisões palestinas. "Tive a oportunidade de conversar com famílias de presos e ouvi que eles preferem que seus familiares sejam presos em Israel por causa das péssimas condições", disse. "São encontradas formas de tortura nas prisões palestinas que não são encontradas nem nas prisões israelenses", denuncia Linah. "No caso das ativistas, é feita violência de gênero. Fazem ameaças que podem atentar tanto contra as suas honras quanto a de suas famílias."

Linah defende que é importante expor a atuação da ANP na ocupação. "Estamos discutindo esse papel, pois a maioria dos ativistas não sabe das violações cometidas pela Autoridade Nacional Palestina. Se não houvesse esse apoio, Israel não conseguiria fazer metade do que faz", afirma. Em uma única frase: a ANP existe para fazer o trabalho sujo se Israel, pontua Rita.

Para Soraya Misleh, participante da Frente em Defesa do Povo Palestino e diretora do ICArabe, o debate foi ótimo. "As jornalistas falam de um tabu que as pessoas não gostam de falar, o apoio que é dado a Israel. Só assim podemos enfrentar a ocupação", afirma.

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