Debate abre exposição fotográfica sobre refugiados da Palestina promovida pela ONU, com apoio do ICArabe
Com estas palavras, o presidente do ICArabe, Salem Nasser, expressou o sentimento e o temor de diversas organizações e pessoas no Brasil e no mundo que trabalham para apoiar o povo palestino em sua luta pela autodeterminação e soberania. Salem foi um dos debatedores, no último sábado, 24, da mesa redonda “Refugiados da Palestina: ajuda humanitária e o papel do Brasil”, realizada durante a abertura da exposição fotográfica inédita no Brasil “Uma longa jornada”, organizada pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) e o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), com o apoio do ICArabe, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), do Centro Cultural São Paulo (CCSP) e do Atelier Marko Brajovic.
O debate contou ainda com a participação do chefe da Coordenação Geral de Ações internacionais de Combate à fome (CGFOME) do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, ministro Milton Rondó, e do chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (SMDHC), Giordano Magri, representando Rogério Sottili. Também participaram da mesa o diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), Giancarlo Summa, e a assessora de Relações Exteriores da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Paz Fernandez.
O presidente do ICArabe ressaltou a importância da exposição e da discussão sobre o tema. “Ainda que sejamos parte apoiadora, nos sentimos parte integral do esforço de organização desta mostra tão importante”, afirmou.
Com relação à participação do Brasil neste cenário, Salem ressaltou a relevância do país no transcurso de mais de uma década. “Temos intensificado nossa participação neste esforço, com base numa tomada de consciência profunda de que é também responsabilidade do Brasil remediar as tragédias do mundo”, afirmou. “Temos um desafio – enquanto Brasil, ONU, instituições e comunidades de Estados - que é participar mais ativamente na resolução do problema político que está na base disso e que paira para além desta tragédia”.
O ministro Milton Rondó enfatizou que agora que o Brasil é parte do comitê construtivo da UNWRA (único país da América Latina, cuja entrada foi aprovada na última Assembleia Geral da ONU) as responsabilidades aumentam. O sentido de estar aqui numa exposição muito importante, afirmou Rondó, é justamente o que foi colocado no Itamaraty como objetivo para este ano, que era falar para os jovens, buscar apoio do país para este trabalho. “Se não tivermos este apoio não vamos conseguir dar a resposta necessária e que é imensa”, afirmou e ressaltou que “Gaza é um campo de concentração a céu aberto”.
É fundamental, segundo Rondó, que haja uma resolução política do conflito. Sem isso, todo o esforço feito no campo humanitário será insuficiente. Algo importante na base deste trabalho, conforme o ministro, e em que o Brasil tem uma evolução interessante, é o tema dos Direito Humanos. “Passamos a ter muito claro que os Direitos Humanos têm de ser fundamentais, universais e têm de ser protegidos, promovidos e providos”, pontuou. “Quando alguém passa fome na Cisjordânia ou em Gaza isto é responsabilidade do governo brasileiro e do povo brasileiro”.
Ainda nas palavras do ministro, “falhamos com o Itamaraty e essa é a nossa reflexão ao abrir esse debate, buscar o apoio da sociedade brasileira. O Brasil é a sétima economia do mundo e não estamos fazendo nada mais que nossa obrigação”, concluiu.
Missão mais antiga da ONU
De acordo Giancarlo Summa, muitas ações já foram desenvolvidas, mas a situação na Palestina continua uma ferida aberta para a comunidade internacional - sobretudo para a ONU - na qual os refugiados são as vítimas mais prejudicadas, “o elo mais frágil da corrente”. Esta, lembrou ele, é a crise de refúgio mais antiga do mundo - são 65 anos desde o seu inicio. “O sentido do que estamos fazendo aqui é ajudar a conscientizar, a lembrar desta crise porque o que acontece hoje é que a última crise acaba fazendo esquecer a anterior. É fundamental manter a atenção”, alertou.
E enfatizou: “O Brasil é um país solidário que acolhe e está acolhendo os refugiados também da guerra da Síria. Um país tradicionalmente de braços abertos e sempre empenhado no multilateralismo, em participar na solução pacífica de conflitos através da ONU e que acredita nas Nações Unidas.
Segundo Summa, nunca houve tantos refugiados no mundo desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Em 2014 foram registrados pela ACNUR mais de 54 milhões de refugiados no mundo. Cerca de 10 milhões de pessoas no ano passado precisavam da ajuda alimentar fornecida pela ONU. Estas são as vítimas de longo prazo dos conflitos. “Pessoas, famílias que têm que abandonar suas casas, seus países, suas terras, perspectivas e raízes para tentar salvar sua vida, na esperança de poder voltar um dia ou recomeçar em outro lugar.”
Paz Fernandez afirmou que a exposição fotográfica é a melhor maneira de narrar a historia do refugiado palestino. E salientou a importância do trabalho do Brasil com a UNRWA nos últimos anos. “O apoio do Brasil aos refugiados é um exemplo perfeito de compromisso político e ajuda material às necessidades deles”. Nos últimos cinco anos, de acordo com Paz, o país já repassou quase 10 milhões de dólares aos programas de saúde, educação e alimentação. “Este apoio tem sido importantíssimo para os refugiados de todas as nações, principalmente para os 800 mil pessoas que dependem de assistência alimentar.”
A assessora de Relações Exteriores da UNRWA fez um pedido para que cada visitante olhasse a exposição como um espaço comum e de direitos, com empatia, e que em cada foto tentasse ver pessoas e não refugiados, simplesmente. “Somos todos seres humanos, no Brasil, na Espanha, na Palestina”, refletiu.
Ações da Secretaria de Direitos Humanos
Segundo Giordano Magri, pela primeira vez a cidade de São Paulo tem uma política direcionada à situação dos imigrantes. Em 2013, junto com a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, foi criada a coordenação de políticas para a proteção de migrantes internos, imigrantes e refugiados, entre eles, os palestinos. “Trabalhamos no sentido de garantir que estas pessoas sejam reconhecidas como sujeitos de direitos e que elas possam ser acolhidas econômica, política e culturalmente na nossa cidade.”
Um dos projetos desenvolvidos neste sentido, segundo Magri, foi o curso de português para imigrantes e refugiados, o que consegue de certa forma ajudar a romper a primeira barreira dessas pessoas que foram muitas forçadas a saírem de seus locais de origem. “Com o domínio da língua eles conseguem se inserir na lógica do país. É o primeiro passo.”
Outro avanço neste cenário, de acordo com Magri, foi a inauguração do Centro de Referência e Acolhida para o Imigrante, que atende em sete idiomas, prestando, orientações jurídicas, encaminhamento para documentação, avaliação psicológica, psicossocial; serviços sociais de acolhimento e inclusão no cadastro único de transferência de renda, entre outros. “O intuito é fazer com que eles se sintam bem acolhidos e tenham aqui toda a possibilidade de reconstruir suas vidas e participar do desenvolvimento da cidade.”
Segundo ele, não há dados quantitativos do número de refugiados palestinos no município de São Paulo.
Sobre a exposição
Composta por 40 fotos e cinco curtas-metragens (os filmes têm curadoria doICArabe), “Uma Longa Jornada’’ conta a história da prolongada crise de refugiados. Por meio de fotografias históricas e filmagens do arquivo da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), o espectador pode testemunhar um dos mais longos casos de migração forçada da história moderna, as violações de direitos humanos perpetradas e os desafios enfrentados pelos refugiados da Palestina.
As fotos retratam diversos períodos da história da Unrwa e dos refugiados palestinos. Elas mostram momentos desde agosto de 1948, quando 700 mil pessoas foram deslocadas em consequência do conflito com Israel, passando pelas duas Intifadas (levante palestino contra a ocupação israelense) em 1987 e no ano 2000, até os dias atuais, quando os refugiados palestinos estão sendo afetados pela guerra civil na Síria.
As imagens fazem parte do acervo de fotos da Unrwa, que é composto por 430 mil negativos, 10 mil fotografias, 85 mil slides, 75 filmes e 730 fitas de videocassete. Em 2009, esse acervo foi todo digitalizado e incluído no Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O conceito da montagem da exposição no Brasil foi desenvolvido pelo arquiteto Marko Brajovic.
São Paulo é a primeira cidade da América Latina a receber a exposição A longa jornada. A mostra foi organizada pela primeira vez em 2013, na cidade de Jerusalém. Depois passou por Amã, Dubai, Gaza, Roma, Turim, Nova York, Jacarta e Marrakesh. Há planos ainda de levar a exibição ao Rio de Janeiro e Brasília. No Brasil, o projeto foi desenvolvido exclusivamente pelo escritório de arquitetura e design Atelier Marko Brajovic, apoiador do evento e mostra também o trabalho da UNRWA nos cinco locais onde atua (Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria).
Serviço
Exposição “Uma Longa Jornada”
Em cartaz: até dia 15 de março - de terça a sexta-feira, das 10h às 20h (entrada permitida até 19h30) e sábado, domingos e feriados das 10h às 18h (entrada permitida até 17h30).
Onde: Praça da Biblioteca do Centro Cultural São Paulo - Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro 1000, Paraíso, São Paulo, SP
Entrada franca
Informações sobre a UNRWA
www.unrwa.org.br
www.facebook.com/UNRWABrasil