Ideia de terrorismo religioso é fictícia, diz José Farhat

Qui, 28/05/2015 - 00:23

Vice-presidente do ICArabe ministrou palestra sobre o tema no Instituto de Relações Internacionais da USP.O vice-presidente do Instituto da Cultura Árabe, José Farhat, proferiu palestra nesta quarta-feira (27) sobre o tema “terrorismo religioso” no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. O evento fez parte da segunda rodada do “IV RI USP em Debate”.

Farhat afirmou aos cerca de cem espectadores que não existe a configuração de terrorismo religioso. “É fictícia. Estão usando a religião para transformar a situação atual dos países árabes e muçulmanos”, disse.

Segundo o especialista, atribuem-se motivações religiosas a atos terroristas, sendo que as religiões não os fundamentam. “A pergunta é: o judaísmo permite, manda isso? Não, assim como também não o fazem o islamismo e o cristianismo.” Para Farhat, os ataques para promover o terror possuem motivações políticas. “É o uso dos fundamentos interpretados do islã que vão contra os próprios fundamentos”.

O palestrante lembrou que o Alcorão (livro sagrado do Islã) proíbe tirar a vida de outras pessoas, a menos que haja justificativas. “Esses criminosos não cumprem o que diz o livro. Matam para adquirir poder e constituir o seu Estado”, afirmou, sobre o Estado Islâmico.

Mídia

À reportagem do ICArabe, Farhat pontuou que o noticiário ajuda a relacionar a ideia de terrorismo com religião. “A mídia brasileira, e da maioria dos países que não têm capacidade de manter repórteres nas regiões de conflito, recebem as informações através de agências de notícias bastante interessadas na forma que interessa às grandes potências”, afirmou. “Não estão interessadas nas reivindicações dos povos árabes e muçulmanos que estão lutando pelo pão, pela liberdade”, disse.

Outro palestrante do evento foi o professor de relações internacionais da USP, Álvaro de Vasconcelos, que concordou com as colocações de Farhat. “Fala-se em terrorismo religioso para fazer uma amálgama entre religião e violência.”

Para Vasconcelos, o caso do ataque à redação da revista francesa Charlie Hebdo, em janeiro deste ano, é um exemplo do uso da ideia de terrorismo religioso. “Há correntes islamofóbicas cada vez próximas do poder, capazes de ganhar as eleições, influenciar a opinião pública”.

Tanto Farhat como Vasconcelos defenderam que o terrorismo, ao invés de ser definido como um ato com o objetivo de promover o terror, acaba tornando-se para as pessoas um sinônimo de ações islâmicas, o que é reforçado por charges da revista francesa, como a de Maomé com uma bomba na cabeça.

Os palestrantes discordaram, entretanto, na interpretação das ações dos EUA de combate ao Estado Islâmico.

Para Farhat, o país norte-americano estaria auxiliando o Estado Islâmico, interessado na formação de novos governos no Iraque e na Síria. 

Já Vasconcelos acredita que a versão poderia ser uma teoria da conspiração apenas mais favorável aos interesses da Síria.

A terceira e última palestra nesta quinta-feira (28), às 17h30, será sobre Terrorismo e Mídia com o jornalista José Arbex Jr., membro do ICArabe, Leandro Ortunes e Marcelo Rech. Saiba mais no link do evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/500726683407761/