Palestra no Clube Sírio discute panorama do Oriente Médio após guerra na Síria
“A intervenção turca no norte da Síria provocou uma série de mudanças. A principal foi a reativação política dos curdos. Estamos falando de um território do tamanho da França”, afirmou o especialista sobre a etnia que busca hoje a independência. “O grande problema de a Turquia ter invadido a área foi que não a conseguiu controlar, o que dividiu a Síria em três, que eu acredito que vai se separar”, defendeu. “O grande problema é a ingerência externa. A Turquia ocupa o norte por meio de apoio a grupos. Se não fosse isso, o problema teria sido resolvido em duas semanas.”
Fragieh também afirmou que pode ocorrer na Síria o mesmo que aconteceu no Líbano, após o fim da guerra civil libanesa nos anos 1990. “Haverá zonas de influências, mas ainda se terá uma nação”, falou em referência à ideia de um território nacional.
Migração e imigração
O especialista tratou dos povos e etnias que têm se deslocado para fora do Oriente Médio ou do continente. “Boa parte dos sírios refugiados é cristã. Os cristãos têm buscado o Líbano ou o caminho da Europa. Os do Líbano também têm tendência a imigrar. Trata-se de uma questão econômica”, disse em relação à economia libanesa. Segundo Fragieh, enquanto os conflitos na Síria e Palestina resultam em refugiados, no Líbano há um estímulo para deixar o país para tentar melhores condições de vida.
Questionado pela plateia, o estudioso pontuou que a questão no Oriente Médio não é apenas a religião, mas a política. “Aparentemente, parece uma divisão religiosa (entre grupos), mas se puxa para o lado que lhe interessa”. Ele explicou à plateia que a diferença entre grupos muçulmanos é como existe dentro do cristianismo. “Você tem cristãos no Oriente Médio que rezam o Pai Nosso diferente. Tem curdos com ritos diferentes e isso faz com que haja perseguição dos maiores grupos. É um terreno fértil”. Entretanto, frisou, o elemento da religião não significa necessariamente maior dificuldade de resolução de conflitos. “Às vezes é mais fácil grupos se entenderem em governos com a ideologia religiosa do que em um governo laico como o da Síria.”
Ainda para Fragieh, a História tende a se repetir em algumas regiões do Oriente Médio. “Agora estamos na Era Sissi e, se acompanharmos a história, ela vai durar muito. Se a Irmandade Muçulmana assumir o poder, há um contra-golpe de novo”, disse em relação ao Egito. O atual presidente Abdul Fattah al-Sissi assumiu o poder após as Forças Armadas terem deposto o presidente eleito Mohamed Morsi, acusado de forçar uma “islamização” do país e hoje preso e condenado à morte.
O diretor cultural do Clube Sírio e também membro da Diretoria do ICArabe, Gabriel Sayegh, comentou sobre a palestra: “Eu achei muito boa, Fragieh é uma pessoa que tem conhecimento da política atual. É importante esclarecer o cenário. A mídia não dá conta de explicar com a profundidade de quem está dentro.”
Para a intérprete de língua árabe Heloisa Tuma, é importante discutir o tema. “Leva tempo para se aprofundar, mas deu para pegar alguns pontos de interpretação”, afirmou ela, que fez a pergunta ao palestrante sobre a diferença entre grupos religiosos.