Árabes formam o maior grupo de refugiados no mundo

Ter, 22/06/2010 - 16:26

Às vésperas do Dia Mundial do Refugiado, comemorado dia 20 de junho, o governo brasileiro e as Nações Unidas divulgaram estatísticas atualizadas sobre o refúgio no Brasil e no mundo, que destacam a comunidade árabe como o 5º maior grupo de refugiados no país e o 1º no planeta.

O Brasil possui atualmente 4.294 refugiados, sendo 199 iraquianos ou 4,6% do total, segundo estatísticas do CONARE (Comitê Nacional para Refugiados, órgão vinculado ao Ministério da Justiça que decide sobre os pedidos de refúgio no país), divulgadas no último dia 15. A maioria deste grupo tem origem palestina e foi trazida do Oriente Médio há quase três anos através do Programa de Reassentamento Solidário.

Em setembro de 2007, 108 refugiados palestinos foram acolhidos no Brasil, depois de morarem cinco anos em tendas no deserto, na fronteira da Jordânia. Antes, viviam no Iraque, de onde fugiram após virarem alvo de violência sectária, com a queda do regime sunita de Saddam Hussein em 2003.

O grupo está hoje distribuído em várias cidades do Sudeste e Sul do Brasil, escolhidas por possuírem grandes populações árabes. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que concentra a maior comunidade de palestinos, estimada em cerca de 30 mil pessoas.

Hoje no Brasil, 399 refugiados foram reassentados pelo Programa de Reassentamento Solidário, que é uma parceria entre o governo brasileiro e o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) para abrigar refugiados que, por questões de segurança ou integração, não podem permanecer no primeiro país de acolhida nem retornar ao de origem. Além de iraquianos, já foram atendidos, afegãos, colombianos e africanos.

Do total de refugiados no país, por nacionalidade, os cinco maiores grupos de refugiados são: angolanos (1.688 pessoas, ou 39,3% do total), colombianos (589 pessoas, 13,7%), congoleses (420 pessoas, 9,8%), liberianos (259 pessoas, 6%) e iraquianos (199 pessoas, 4,6%).

No mundo


Os refugiados iraquianos e palestinos também foram destaque do relatório “Tendências Globais 2009”, divulgado mundialmente pelo ACNUR no mesmo dia 15. Produzido anualmente pela agência, o documento indica que o número médio de refugiados no mundo permaneceu estável em 15,2 milhões (dos quais 47% são mulheres e meninas), sendo dois terços sob os cuidados do ACNUR e o restante sob o mandato da UNRWA (agência da ONU que se dedica exclusivamente aos refugiados palestinos).

O Iraque foi o segundo maior país de origem de refugiados no mundo, somando cerca de 1,78 milhão de pessoas.  Já os refugiados palestinos que não aparecem no relatório porque são registrados pela UNRWA, totalizam 4,76 milhões de pessoas. No total, estes dois grupos de populações árabes somam mais de 6,5 milhões de refugiados no mundo.

Em primeiro lugar da lista de 2009 do ACNUR está o Afeganistão, lar de aproximadamente 2,88 milhões de refugiados no mundo hoje. Os dois países foram alvos de ofensivas dos Estados Unidos, em 2001 e 2003, respectivamente, e enfrentam situações prolongadas de conflito que impedem o retorno dos refugiados.

Muitos destes refugiados iraquianos e afegãos permanecem abrigados em campos, localizados em países vizinhos. “Conflitos que pareciam estar terminando ou em vias de serem solucionados, como no sul do Sudão ou no Iraque, estão estagnados. Como resultado, 2009 foi o pior ano, em duas décadas, para a repatriação voluntária”, afirmou o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Gutérres, durante o lançamento do relatório em Genebra, na Suíça.

Segundo o documento do ACNUR, apenas 251 mil refugiados retornaram para casa em 2009 - o menor número desde 1990. Em um cenário como este o reassentamento - que transfere refugiados de um país e os realoca permanentemente em outro – também é considerado uma solução alternativa para evitar que gerações de refugiados permaneçam por tempo indeterminado vivendo em campos. O ACNUR submeteu um número recorde de pedidos o ano passado (128 mil indivíduos), o maior nos últimos 16 anos. Ao final de 2009, 112.400 refugiados haviam sido recebidos por programas de reassentamento em 19 países, entre eles o Brasil.

Para acessar o relatório na íntegra: http://www.unhcr.org/4c11f0be9.html


Fonte: Portal Arabesq


*Carolina Montenegro cobre jornalismo internacional há cinco anos, com passagens pela Folha de S. Paulo, Reuters e Ansa. Atualmente é repórter especial do site Refugees United (www.refunite.org) e escreve um livro-reportagem sobre os refugiados palestinos no Brasil.