Apontem os inimigos das oliveiras
As intranquilidades com o assunto não vêm somente com a recente decisão da Autoridade Palestina de replantar oliveiras, um dos fatores que reativaram o assunto junto à mídia internacional.
Logo depois da retirada das forças de ocupação sionistas do sul do Líbano, em visita ao país dos cedros, fui convidado pelo Partido Comunista Libanês para ir até o sul visitar a região libertada. Aceitei o convite e fui até lá com Bernadete, minha mulher, e lá replantamos cada um de nós dois uma oliveira – mais uma terceira em nome de Sabrina, minha filha. As placas junto às mudas, hoje crescidas, estão lá fincadas em terra sagrada livre dos predadores.
O Exército Libanês, em parceria com jovens universitários, havia limpado a área, pois o exército sionista, nos locais das oliveiras, plantaram bombas terrestres e as cobriram com a terra das árvores arrancadas, uma atitude que denuncia quem afirmar que os fardados pertencem a uma força regular de um estado sério. Se merecesse qualquer tipo de consideração o estado sionista, que ocupou o sul do Líbano com a desculpa de proteger o norte da Palestina ocupada dos ataques da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e que na verdade queria o domínio sobre as águas do rio Litani, não teria levado 22 anos para cumprir a Resolução 425 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovada por unanimidade em 19 de março de 1978, cinco dias após o início da agressão contra o Líbano. Israel só se retirou do Líbano em maio de 2.000.
Isto me traz à mente um fato histórico: Antoine Lahad, desertor do exército libanês e comandante do chamado “Exército do Sul do Líbano”, a soldo do estado patife de Israel, que entre muitos crimes que cometeu contra a população civil do território libanês ocupado, mantinha o campo de concentração de Khiam, onde os combatentes pela libertação do solo libanês eram torturados e quase sempre mortos. Este safado foi meu colega de Filosofia; éramos 12 estudantes e só ele era nazista – obviamente combinou bem com os sionistas, herdeiros do nazismo no trato com os habitantes das terras que ocupam e que não lhes pertence.
Arrancar oliveiras não começou no Líbano durante a Guerra de 1948, ou na insurreição palestina de 1968 a 1982, nem tampouco na Guerra de 1982 e muito menos no conflito do sul do Líbano e das terras ainda ocupadas de Shebaa ou do Julan, nem pensar que foram na guerra de 2006 ou nos choques de fronteira de 2010, muito pelo antes, começaram quando a Palestina ainda era território protetorado britânico e os sionistas fizeram levantamento de tudo o que existia na Palestina, inclusive as árvores e principalmente as oliveiras dentre elas.
Bastou a Assembleia Geral das Nações Unidas recomendar a partilha da Palestina, em 1947, já que poder para tal este órgão da ONU não tem, e os sionistas declararam o nascimento de seu estado, atacaram todos os territórios que mesmo pela divisão caberia aos árabes destruindo tudo o que encontravam em seu caminho, expulsando as pessoas que não matavam, arrasando as casas e, preste-se bem a atenção, arrancando as oliveiras. Isto para que estas árvores milenares sumissem das mentes dos palestinos e deixassem de representar monumentos da presença palestina eterna na terra e documento do direito dos habitantes sobre suas propriedades ocupadas.
O tempo iria mostrar também outro fator não menos criminoso que levava os ocupantes a arrancar as árvores: as oliveiras consumiam relativamente muita água em terras onde esta é escassa, para que eles tivessem mais com o que irrigar suas próprias plantações.
Os sionistas vêm lutando desde a ocupação da Palestina para também apagar da memória de cristãos e muçulmanos tudo aquilo que se relaciona com Jerusalém, como se a fé e seus objetos pudessem ser eliminados assim, pela simples vontade dos ocupantes da Terra Santa.
A oliveira é um destes símbolos e é sagrada para os muçulmanos que a encontram em muitas passagens do Corão.
A árvore sagrada é ligada à Terra Santa quando diz: “E uma árvore, que brota do Monte Sinai: ela produz azeite, e tempero para que comeis” (Suratu Al-Muuminun 23:20), fato este que muçulmano algum, nos quatro cantos do planeta desconhece, e vem daí o ódio sionista à árvore.
O azeite, um de seus produtos, a liga a ninguém menos que o próprio Criador, como demonstra o seguinte versículo: “Deus é a luz dos céus e da terra. O exemplo de Sua luz é como o de um nicho, em que há uma lâmpada. A lâmpada está em um cristal. O cristal é como se fora astro brilhante. É aceso pelo óleo de uma bendita árvore olívea, nem de leste nem de oeste; seu óleo se ilumina, ainda que o não toque fogo algum. É luz sobre luz. Deus guia a Sua luz a quem quer. E Deus propõe, para os homens, os exemplos. E Deus de todas as coisas é Onisciente” (Suratu An-Nur 24:35).
O valor da oliveira que o sionismo quer arrancar das mentes e da própria Fé é sentida pelos muçulmanos quando recitam: “Pelo figo e pela oliva! E pelo Monte Sinai! E por esta Cidade segura!” (Suratu At-Tin 95:1) ligando a oliveira não somente à Palestina (Monte Sinai) como também a Mecca (Cidade segura) onde toda violência é proibida, e onde todos experimentam a segurança e a tranquilidade. Uma alusão clara a que Jerusalém também deve ser uma cidade segura, não ocupada à força.
Este fato faz lembrar que os cristãos também compartilham do mesmo sofrimento quando os sionistas os afastam de seus lugares sagrados e os fazem sofrer a humilhação de serem cercados por forças armadas israelenses hostis em uma de suas maiores manifestações de Fé, durante a Via Crucis, numa marcha que leva os fiéis mentalmente do Pretório até o Calvário, meditando a paixão de Cristo.
Qual cristão se esquece do valor que tem a oliveira para sua fé quando lê: “Dirigiu-se Jesus para o monte das Oliveiras. Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a ele. Assentou-se e começou a ensinar” (João 8:1-2).
Uma das maiores manifestações da fase pública de Jesus, todo cristão sabe disto, está no Sermão da Montanha, ou seja, do Monte das Oliveiras, entre as quais pronunciou as bem-aventuranças e seus ensinamentos. Os seguidores de Cristo se perguntam onde estão as oliveiras e só lhes resta apontar o dedo para os sionistas, aqueles que guerreiam contra as árvores sagradas.
Quem não os encontrar fisicamente com facilidade pode encontrá-los nas páginas dos jornais israelenses que relatam o fato de todos os anos, no início da primavera, quando chega a época da colheita das oliveiras, soldados armados irem aos campos palestinos dificultar e até mesmo proibir que se colham as azeitonas. O Haaretz, em um dos artigos da semana passada apontou para uma dúzia de soldados que chegou para dois irmãos, os únicos que ficaram em sua terra após a ocupação, dizendo-lhes que a atividade era proibida e, quando o mais novo deles argumentou que a terra era deles e as árvores de sua família há séculos, foram ambos presos por desacato à autoridade.
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