Libaneses na “Guerra do Pente” em Curitiba - Sofrimento étnico e integração cultural
A chamada “Guerra do Pente” ocorrida em dezembro de 1959 em Curitiba, foi um acontecimento excepcional e que causa ainda interrogações. Por que logo em Curitiba, se deram esses acontecimentos? Cidade de perfil europeu, com grande concentração de grupos étnicos alemães e eslavos, que se miscigenaram e que continuam neste processo de forma pacífica com os descendentes das outras etnias que aqui arribaram: claro os portugueses, os italianos, espanhóis, suíços, os árabes e os nossos autóctones. Interações étnicas que promoveram a modelação de seus habitantes, conhecidos como gente pacata e ordeira, praticantes religiosos e de um refinamento cultural acima da média brasileira. Proclamados como cidadãos de costumes sóbrios e um tanto tímidos em suas manifestações sociais, os curitibanos naqueles anos, ostentavam com orgulho o título da sua cidade: “Cidade Sorriso”, que se associava à sua pretensa cordialidade ou a “Cidade Universitária”, apontando para o seu bom nível cultural.
Proponho inicialmente neste artigo, dar uma versão destes acontecimentos procurando assinalar alguns detalhes que sublinhem seu caráter xenófobo e anti-árabe. Em seguida rememoro a situação político-social da época para inserir a revolta de Curitiba na onda de protestos nacionais da época. Na segunda parte passo a centrar-me na família libanesa envolvida no caso e seu processo de integração na sociedade local. Gostaria de sublinhar de antemão, que estes fatos ilustram a abnegação ao trabalho e um firme desejo de se integrar do árabe na sociedade que o acolhe. Apesar de muitas vezes ser alvo de pré-conceito e sofrer revezes em seus projetos, o libanês em nosso caso, redobra os seus esforços e mostra abertura aos povos que os acolhem em sua travessia. A análise psicossocial do percurso identificatório dos filhos do imigrante é exemplar.
Os fatos
Os órgãos competentes da época, interessados em aumentar sua arrecadação de impostos sobre a circulação de serviços, implantou uma campanha intitulada “Seu talão vale um milhão”. Consistia em incentivar o consumidor a pedir a nota fiscal de sua compra no comércio da cidade e, depois, trocá-la por bilhetes nos quais o cidadão concorreria a um milhão de cruzeiros (soma considerável então) em sorteio alardeado com insistência nos canais de comunicação disponíveis. O povo estava motivado pela campanha, e ao final da tarde do dia 8 de dezembro de 1959, na praça Tiradentes, um indivíduo, ao adquirir um pente em loja de propriedade de um libanês, exigiu-lhe a nota fiscal. Em vista da exígua quantia e sendo sabedor que a sua obrigação era a de emitir a nota para um montante mínimo de cinqüenta cruzeiros (bem superior ao valor do pente que custava mais ou menos Cr$5,00) o comerciante, que tinha a seu lado o filho de cinco anos, recusou-se inicialmente a cumprir a demanda do freguês. Mas em seguida diante da insistência, mandou sua funcionária atender o seu pedido. Este tomado de indignação passou a destratá-lo com palavras de baixo calão. Os ânimos se exaltaram e acabaram por entrar em violenta luta corporal, vindo o freguês a ter uma perna fraturada. A partir daí, o caos tomou conta da cidade. Era final de expediente e os pontos de ônibus, existentes na praça, estavam repletos de gente. Transeuntes que passavam e fregueses de um bar ao lado, indignados com a cena e mobilizados pelos gritos do cidadão ferido, começaram a apedrejar o bazar. E mesmo com o rápido abaixar das portas pelo comerciante, a turba que imediatamente se formou arrancou-as e invadiu o local, fazendo com que a sua mulher e os filhos pequenos fugissem para o fundo da loja, subissem para o primeiro andar e pulassem através da varanda, para as casas vizinhas. Lá embaixo o rastilho de violência pegou fogo e o quebra-quebra começou. Depredando as casas vizinhas, a massa que se robustecia cada vez mais repartiu-se em duas ou três frentes e continuou a depredar todos os estabelecimentos comerciais, que eram em sua maioria de árabes. Estendeu-se a horda pelas praças e ruas adjacentes, depredavam então tudo o que encontravam pela frente: casas comerciais, não só de árabes, assim como prédios públicos. Com a vinda dos homens da segurança pública, a região transformou-se em batalha campal, tiros, violências, correrias, vaias e bagunça geral. Agentes da polícia civil, batalhões da polícia militar e do corpo de bombeiros se debateram com os mais afoitos, realizando prisões, dando bastonadas e esguichando jatos de água na turba que parecia incontrolável. Alguns elementos chegaram a cortar as mangueiras dos bombeiros e a entrar em luta com agentes da segurança. Todo o miolo da cidade foi percorrido pela procissão de indivíduos e pelas viaturas da ordem pública. Os ânimos vieram a se acalmar somente depois da uma hora da madrugada, quando uma garoa desceu na cidade.
No dia seguinte a cidade acordou em calma, mas logo a atmosfera do centro da cidade começou a esquentar. O pessoal vindo dos bairros pela manhã, começaram a se aglomerar novamente no local onde iniciaram os distúrbios do dia anterior. A praça Tiradentes foi tomada aos poucos por indivíduos que ficaram em atitude de espera. Em outros locais naquela manhã, a polícia em ronda pela cidade dissolvia pequenos grupos de provocadores que se formavam com grita e apupos, fugiam e logo se juntavam a outros elementos. Em torno das 9 horas, ouviu-se um grito de “quebra” na praça, e repentinamente a turba explodiu reiniciando as depredações. Cenas bárbaras aconteceram, como o libanês que em frente de sua loja atirou ao chão na tentativa de fazer recuar a horda. O efeito foi o contrário, e este acabou por ser arrastado pela turba por mais de uma quadra a socos e pontapés. Foi internado em estado grave no hospital. Todo o centro da cidade foi tomado pela confusão: pedras, correrias, apupos e busca-pés espocavam na cidade. Como a situação escapava ao controle dos policiais, o governador do estado foi avisado e este então pediu ao comandante do exército da região o apoio de suas tropas. Com tanques, metralhadoras e fuzis calados, os militares ocuparam o centro da cidade e os pontos estratégicos na sua periferia. Com a demonstração de força, os ânimos foram apaziguados e já pela tarde a ordem estava restabelecida, mas sob vigilância cerrada até o dia seguinte.
Extensão dos distúrbios
O quebra-quebra em seu início foi transmitido por uma estação de rádio de grande audiência e que era ouvida pelas classes populares. O repórter recebeu apelos do delegado para interromper com a transmissão e impedir maior divulgação, pois os distúrbios alastravam-se temerariamente. Em pontos diferentes da cidade pipocavam grupos espontâneos que apedrejaram mercearias afastadas do miolo da cidade.
Tanto a polícia como comerciantes árabes e os insurretos fizeram uso diversas vezes de armas de fogo. Uma zeladora que limpava no segunda andar os vidros de um prédio, foi atingida no braço por disparo (pelas leituras de jornais, suponho de um comerciante árabe). Foram mobilizados todos os recursos de segurança : tropas de cavalaria da PME, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Civil e finalmente as tropas do Exército.
Houve várias confrontações, chegando a se reunir uma multidão em frente da chefatura de polícia, na procura de liberar os detidos. Estimou-se em mais de dois mil o número de participantes. Um total de 181 casas comerciais foram danificadas.
O Exército desconfiado que por trás de tudo estivesse a mão do Partido Comunista, e temendo alguma ação mais organizada, tomou a iniciativa de colocar destacamentos nas entradas da cidade para controlar e impedir entrada de caminhões ao centro da cidade. Entretanto a versão do delegado de polícia em seu relatório ao comandante da região militar, observa somente a participação de marginais e desocupados.
E o final dos acontecimentos terminou como o estampado nos jornais: “Tanques de guerra e baionetas silenciaram o motim popular.” (O Correio do Paraná, 10/12/59).
Os sintomas de xenofobia e o despertar do nacionalismo
Na primeira noite, em local afastado dos acontecimentos, a residência de conhecido e abastado comerciante libanês, foi apedrejada no momento em que oferecia à notáveis da sociedade, um jantar comemorativo ao ordenamento de seu filho, o padre Emir Kaluf. Casa e automóveis dos convidados foram danificados. O general comandante da região, presente na ocasião, teve seu carro alvejado.
Durante a marcha dos exaltados, por entre apupos, vaias e xingamentos dirigidos aos árabes, se ouviam frases como: “O Brasil é de brasileiro, não de estrangeiro” e “Viva o Brasil”. Reproduzo o que foi publicado nos jornais:
... os ânimos se incendiaram e sob gritos de “Viva o Brasil”... o povo então começou a exigir que todas as casas comerciais de propriedade de sírio-libaneses fossem fechadas, e foram atendidos. Os que não atendiam os brados da multidão tinham seus estabelecimentos apedrejados violentamente.
Além de gritos e xingamentos explícitos à colônia árabe, ouviram-se refrões: “Queremos justiça: o Brasil é de brasileiros, não de estrangeiros”. E também: “Queremos justiça. Quem manda nesta terra somos nós”. Em certo momento do quebra-quebra, um grupo virou uma carrocinha de verduras, mas a colocaram de pé novamente quando gritaram que a carroça não era de “turco”.
Os jornais reproduziram e foram agentes do ódio xenófobo
Os jornais, com exagero sem dúvida, publicaram em manchetes: “Uma declaração de guerra aos ‘turcos’ ”. Revolta de “características de um ‘progroom’ e ‘de ordem nazista’ ”. Afirmaram que a “Polícia levou a pior nas ruas e nas praças contra o povo” (Diário do Paraná, 9/12/59).
Houve tendenciosidade na cobertura ou inversão de fatos por testemunhas: Um jornal (Diário do Paraná) publicou a defesa realizada por um agente de polícia: “[...] ante a agressividade dos desordeiros, o guarda civil primeira classe A.W., muniu-se de uma barra de ferro e enfrentou a turba com coragem e sangue frio... os manifestantes arrefeceram o entusiasmo”. A outra versão do fato:
Abdo F., detido durante as manifestações, disse que o policial A.W... começou a incitar as pessoas que aí se aglomeravam, gritando que o comerciante havia matado o subtenente [o freguês que comprou o pente] e fazendo comentários sediciosos acerca dos acontecimentos que ocasionaram por fim a revolta popular contra o estabelecimento de Hamad N. (O Estado do Paraná 10/12/59).
O primeiro jornal também afirmou que “os donos do estabelecimento embora armados (e com carteirinha de inspetor) não ofereceram resistência, alarmados ante a extensão da revolta e a antipatia de que gozam no seio da massa, pagando inclusive pela exploração desenfreada de todos.” (Diário do Paraná 9/12/59)
Houve sofrimento real e moral para a família
Quando a loja foi invadida, os filhos, protegidos pela mãe, fugiram pela porta dos fundos e refugiaram-se nas casas vizinhas. Num segundo momento quando foi reiniciado o quebra-quebra, a senhora empunhou um pedaço de madeira e plantou-se de guarda na porta do estabelecimento. A conselho de autoridades a família retirou-se da cidade por alguns dias. O chefe da família foi preso. Houve intensa veiculação desses fatos (com fotos) nos jornais locais e de outros estados. Também a matéria saiu em revistas de circulação nacional como O Cruzeiro e teve repercussão nos jornais do Líbano. Segundo meus depoimentos colhidos na colônia árabe, até mesmo Gamal Abdel Nasser no Egito, o grande líder do mundo árabe na época, teria se referido aos fatos em seus discursos transmitidos pela rádio e ouvido por todo o Oriente Médio. Ele teria pedido a defesa de seus compatriotas em terras do Brasil.
A memória do repórter que irradiou os distúrbios
A transmissão do quebra-quebra pela rádio, teve papel preponderante no incitamento popular nos arrabaldes da cidade. Em nossas pesquisas conseguimos localizar o radialista que reportou os fatos iniciais (atualmente procurador do estado e conhecido causídico da cidade). No seu depoimento relata que trabalhava para um dos programas mais populares da cidade e confessa que auxiliou na exacerbação dos ânimos. Segundo ele:
Como a coisa estava pegando fogo e se alastrando pela cidade, o chefe da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), telefonou ao proprietário da rádio, pedindo para que eu parasse de incentivar a revolta no povo, e assim eu baixei o tom da reportagem e diminuí o acento ideológico da locução. Mas a coisa já estava sem controle.
Naqueles anos eram grandes as insatisfações populares no país, e em Curitiba o povo criticava entre outras coisas, a Cia. Força e Luz pela venda dos antigos bondes da cidade pelo preço irrisório de um cruzeiro. O radialista e estudante de Direito na época, era também candidato a vereador pelo PTB, e aproveitava estas situações para se promover: “Como nós da rádio tínhamos muito audiência em dois programas, eu aproveitei a bola de neve e mobilizávamos o povo”.
Como sinal do clima político e social que dominava Curitiba, Osman de Oliveira (o nome do advogado) acrescenta que existia uma campanha patrocinada pelos comunistas que se chamava “Campanha contra a carestia”:
Havia um jornal clandestino, então, que veiculava essa campanha contra a alta dos preços... contra os “tubarões” da cidade, como se dizia na época. Então nós estudantes, e eu que tinha programa na rádio, fazíamos uma campanha adoidada nos bairros. Eu participava dos comícios e fazíamos aquele carnaval na rádio mais ouvida da cidade.
Os programas populares das rádios para as classes menos favorecidas tinham às vezes papel único na informação e na formação da opinião pública naqueles anos. Notícias da situação nacional chegavam pelas manchetes de jornais e pelo rádio, dando conta da situação da construção de Brasília e os gastos carreados dos cofres públicos pela empreitada de Juscelino Kubitschek. O presidente sofria oposição de partidos políticos, e no seio das forças armadas ocorriam fatos de insubordinação no alto comando. Por todo o país aconteciam greves e manifestações populares contra o governo. O sul do país sentia-se lesado pela falta de verbas e atraso nos salários. Exemplo impensável em nossos dias, os funcionários da RVPSC (estatal ferroviária) estavam há 2 anos sem receber seus proventos. À oposição popular em Curitiba, acresciam-se os diversos escândalos de corrupção cometidos pelo governo do Estado.
Considerações psicossociais sobre o evento
“As depredações continuaram e inexplicavelmente procuravam as casas de comerciantes árabes, numa espécie de explosão nacionalista sem nexo”. Gal. Iberê de Matos (depoimento no documentário).
Esta declaração feita por um general e antigo prefeito da cidade mostra a surpresa das autoridades e sua paradoxal tonalidade.
Quem deu início à violência foram alguns freqüentadores de um bar que existia ao lado das lojas dos árabes. Alguns amigos do proprietário do Bazar Centenário saíram em sua defesa quando da altercação, ao mesmo tempo em que os fregueses do bar foram às calçadas açular os ânimos e atacar a loja. Naquela região além de comerciários, transitavam muitos desocupados e marginais que freqüentavam bares de “gente da pesada” segundo O. de Oliveira. Foram estes tipos que tomaram a iniciativa e espalharam o quebra-quebra pelas imediações. Os jornais publicaram no dia 9 de dezembro:
Agitadores insuflavam os grupos de marginais à desordem e à violência, orientando- os contra as casas a serem destruídas. ”(Diário do Paraná, 9/12/59). Relatam também grande número de menores de idade. N’uma declaração do Chefe de Polícia, este afirmava que os « manifestantes em sua maior parte eram elementos desclassificados, sem trabalho e com ponto na praça Tiradentes.
O súbito irrompimento do quebra-quebra, sua propagação e a violência demonstrada, afora sua especificidade de atacar os “árabes”, não portam nenhuma novidade quanto à série de distúrbios urbanos, que se espalhavam no momento político da época. Tampouco quanto à morfologia comum de uma turba explodindo subitamente. Lembrando o historiador Hobsbawm (1978) podemos classificá-la como “uma forma instintiva de patriotismo municipal”.
Quando indivíduos se juntam em uma multidão formada repentinamente como a reação aos fatos presenciados, estes acabam se agregando como células de um corpo vivo e provisório. Anulam-se as repressões individuais e passa-se a agir sob o contágio das emoções e a sugestionabilidade. O ódio despertado subitamente serve como sentimento agregador que faz unir e disparar os afetos.
O interesse pelo estudo das massas já vem do século XIX. Mais tarde Freud entre outros, analisaram as transformações psicológicas que sofrem os sujeitos inseridos em uma multidão. Atado ao contágio de emoções, o sentimento de poder que se alia a possibilidade de anonimato, propicia um verdadeiro estado hipnoidal que vai provocar no indivíduo, um sentimento de diluição na massa que o acolhe. O afrouxamento do censo crítico decorrente, levava nossos agitadores a um inebriamento que nos faz lembrar G. Tarde (1992: 57), quando observava o “orgulho grotesco” e a perda do sentimento de medida das massas nos tempos da Comuna de Paris. Ilustro o nosso caso com as notícias veiculadas: ...“íam meninos e jovens açulando os ânimos, chamando a atenção dos adultos para alguma loja e também lançando bombas de São João” (Última Hora, 9/12/59). Houve registros também de mulheres que participavam dos saques e gente bebendo pela rua. Alguns estudantes presentes não alardeavam propostas políticas, mas participavam das depredações como participantes da massa, que homogeneizava as disparidades individuais.
A “revolta do pente” começou pela indignação de um brasileiro ter sido agredido por um estrangeiro e árabe. A insatisfação reprimida contra os governantes se associa ao ressentimento contra os estrangeiros e estoura contra os comerciantes árabes. Representações negativas já tinham sido veiculadas anteriormente na história da cidade. Em 1947 os jornais moveram campanha contra o “trust das frutas” durante meses visando aos comerciantes japoneses e árabes. Qualificavam-nos de “quadrilha” e “aproveitadores mau educados” (Diário do Paraná, 23/10/47 ) que exploravam a venda de frutas no Mercado Municipal.
Na história da cidade, já em 1934-1936 os jornais registram a insatisfação de alguns intelectuais e políticos locais, que acompanhavam o debate nacional sobre a possibilidade de o estado vir a receber (por interesse da Inglaterra) imigrantes assírios (curdos?) nas terras do norte do Paraná. Estes estariam para vir da região que conhecemos hoje como o Iraque. O Instituto da Ordem dos Advogados do Paraná citado por Jeffrey Lesser (2001: 129) organizou intensa campanha (falavam de crise cósmica) nomeando-se em declaração pela rádio como “sentinelas alertas, a bradar contra os males que ameaçavam o Brasil”.
A insatisfação social curitibana, aliada ao sentimento de ultraje provocado pelos gritos do freguês atirado à calçada pelo árabe, desperta um nacionalismo primitivo. Antigas representações de aversão étnica deságuam em um dever pândego de defesa nacionalista violento. Os brios apelados mobilizam os sujeitos de massa a uma bagunça jocosa, inserindo-os no que Hobsbawn (1978) e Rudé (1982) classificariam como uma reação social protopolítica. A exemplo do remarcável levante popular ocorrido nas barcas de Niterói em maio do mesmo ano. [1]
Os árabes são vistos primeiro como “aproveitadores” e depois como os responsáveis pela alta dos preços. O estigma se fecha e toma sentido político na associação destes com as classes dominantes que por sua vez são corruptas. Ao meio da massa desabrida o ódio vai se dirigir também à classe política ou o que podia representá-los. O secretário da educação, reconhecido pela turba, “precisou correr para se colocar a salvo de uma agressão” (Última Hora 9/12/59). Os jornais registram que pessoas oportunistas e com interesses partidários (da campanha de Jânio Quadros à presidência) tentaram na rampa em frente à Biblioteca Pública se apropriar da revolta e organizar rapidamente um comício, mas foram impedidos e atacados pelos manifestantes que os fizeram correr do local. Este fato nos dá a impressão de que havia um acordo grupal implícito de não querer estranhos nos seus propósitos contestatórios e a recusa de serem invadidos por ações outras que não fossem a sua, a “farra” contra os turcos. Sublinho o termo farra porque, neste mesmo local, quando o alvo das depredações estava sendo a biblioteca da cidade, o guarda que então cuidava do local pediu aos manifestantes consideração pelo prédio público. O homem foi carregado nos ombros sob aplausos da patuleia que “o achou muito simpático” (sic).
O desenvolvimento da arruaça tomou força quando mais adiante os revoltados entraram em choque com policiais que atiraram com balas verdadeiras em sua direção. Estes fatos revelam o seu caráter contraditório de ódio e de alegria, dando um traço tropicalista “à guerra” do lumpemproletariado curitibano.
Há muitos aspectos a serem analisados nesta curiosa baderna, entre outros, a história da imagem do árabe, o despertar do nacionalismo e a brasilidade, discussão que teve seu apogeu nos anos vinte a quarenta do século passado e que hoje no plano internacional retoma com furor. Seria instigante analisar em mais detalhes a formação da opinião pública e o papel do rádio na mobilização popular, mas por falta de espaço somos obrigados a terminar estas observações, ilustrando com uma nota irônica sobre o provocador da rebelião: declaração publicada nos jornais: “A esposa do subtenente, abordada pela reportagem, afirmou que seu marido é débil mental, tendo sido por este motivo internado por quatro vezes. É entretanto pacífico”. (Última Hora 9/12/59). O que fez a Tribuna do Paraná fazer uma chamada: “Comerciante analfabeto. Oficial demente”.
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Nesta segunda parte, vou dedicar-me à representação que o “evento do pente” teve para a família árabe, as possíveis marcas traumáticas e a sua experiência de integração na sociedade local. Assinalo que estas interpretações foram feitas a partir de entrevistas com a esposa e filhos do comerciante libanês, já falecido, e seus amigos.
A vivência de perigo experienciada pela família nos momentos da revolta, o tratamento pré-conceituoso dos jornais, e evidentemente, ver a loja destruída e contabilizar as suas perdas financeiras vai caracterizar a experiência traumática nos planos físico, psicológico e moral. Este último constrangimento perdura, pois a memória da cidade continuamente é acionada em publicações dos eventos em revistas, jornais, debates acadêmicos e até um filme documentário foi realizado. Nestas ocasiões é plausível que um ressentimento possa se apossar de nossos sujeitos.
A possibilidade de trauma
De início sublinhemos que um evento se inocula como traço simbólico na memória de um sujeito, segundo a significação que lhe é atribuído. Ele marcará afetivamente o presente do sujeito segundo este sentido encontrado. No entanto esta marca sofrerá modificações na memória, quero dizer no seu inconsciente, e seu significado de dor ou de prazer incitará a predisposição do sujeito a negá-la, exaltá-la ou “esquecê-la”. Seria correto dizer então neste último caso, de um processo de assimilação que esta marca sofreria, pela ação de mecanismos intrapsíquicos, encontrados pelo sujeito depois de um trabalho de elaboração da vivência estressante. Somente depois deste processo (de simbolização) pode-se falar de uma reconstrução subjetiva.
Parto desse pressuposto para desenvolver nas linhas que se seguem a idéia de que estes acontecimentos não configuraram um evento traumático que perdurasse intransponível para o nosso imigrante. Tampouco provocaram marcas de rancor racial em sua memória, pois a sua significação é debitada à fatalidade e interpretada como um acidente que deveria ser deixado de lado, sem alguma importância emocional na sua vida. Portanto, de acordo com os depoimentos, [2] suas representações não tiveram efeitos de trauma, por uma injúria pessoal vivida como sofrimento acachapante. O afeto despertado não transforma esta experiência em corpo irresoluto e encapsulado no inconsciente de nosso sujeito e que estaria prestes a se exteriorizar como sintoma.
Em depoimento no filme realizado, Hamad aventa a possibilidade de um complô para desencadear uma revolta urbana naqueles tempos convulsos:
Num lado tinha um bar, Marabá. Parece que o coisa, a história tá bem arrumada. Mais que 18 pessoas dentro do bar. No mesmo instante que aconteceu comigo saiu todo mundo do bar e saiu o quebra-quebra. Antes um dia, 07 de dezembro, ele [o freguês do pente] teve na Casa da Pechincha. [Ele] chama seu Aron, um judeu, ele fez, conforme fez pra mim, ele fez pro judeu. Mas o judeu, homem mais de idade assim não, não fez conta bra isso, chamou, xingou ele e tudo, então não fez conta.
Seus filhos repetem a interpretação de seu pai quanto às causas do quebra-quebra, mas não fornecem qualquer argumento que fundamente suas desconfianças. Atribuem à inveja de alguns (de quem?) pelo sucesso que a loja tinha na época. Aventam também causas políticas e assim teriam “plantado nela um agente da desordem”.
Na continuação dos depoimentos não há registro de medo durante a invasão da loja, mas é vívida a lembrança da mãe no segundo dia “com um pedaço de pau na calçada, defendendo a loja”. Lembram do abatimento dos pais, mas
“não demorou uns três quatro dias e a loja já estava funcionando. Foi assim jogo rápido: já chamou (pedreiros), já mandou refazer, era tempo das compras de Natal... Não se falou mais sobre o assunto em casa, caiu no esquecimento.” (Hamud)
A experiência subjetiva de Hamad na sua travessia cultural
A experiência de ruptura vivida por Hamad quando decidiu partir do Líbano, no que ela traz de desorganização interna e de tensão, é processo longo e singular que todo imigrante sofre na travessia de uma cultura à outra. É momento de transição, espaço entre dois momentos de um período vivido como paradoxal, marcado por junções e disjunções reais e simbólicas.
Hamad aportou jovem e solteiro na cidade e logo construiu uma pequena loja. Chega mais tarde sua noiva, casam-se e juntos cuidam do comércio de roupas. Juntam um capital e se transferem para um estabelecimento maior.
Suas atividades rendem-lhe um bom ganho, e seus seis filhos podem estudar em colégios particulares que são frequentados pela sociedade abonada local. Acontece a destruição de sua loja no quebra-quebra, quando um ano antes o estabelecimento fora inundado por uma enchente. Na sequência a loja pega fogo e sofrem falência nos negócios de roupas. Abrem então outra loja com dinheiro emprestado, no ramo de calçados. Foram “coisinhas”, que ele sempre se lastimava consigo, mas não tanto, segundo Hamud. Pois a tendência era esquecer e “tocar pra frente a vida”. Neste percurso Hamad se viu obrigado a manter um diálogo constante consigo mesmo, na procura de refletir sobre as conseqüências dessas experiências e seu sentido para o seu projeto de imigrante. Os impasses sofridos e sua ameaça de provocar o caos interno, impunha a necessidade de se entabular, nem sempre bem conscientes, negociações consigo mesmo entre o desejável e o realizado no campo da conquista. Pois as pulsões desorganizadoras, alimentadas pelo medo e a incerteza, vão abalar os mecanismos psíquicos socialmente organizados, nestas progressões e recuos que serão estabelecidos.
Nas linhas abaixo tentarei mostrar esta dinâmcia ocorrida com nosso libanês e a relação com a organização de sua família.
O percurso do filhos
Os depoimentos permitem resumir as lembranças marcantes do roteiro identificatório dos filhos. Na primeira infância jogavam baralho e brincavam na praça onde conviviam com a colônia de muçulmanos. Saem dessas relações endogâmicas, quando são matriculados em colégio cristão que era freqüentado pelas famílias abastadas da cidade. Os meninos aprendem a jogar futebol e tornam-se aficionados do esporte. Jogavam todos os dias, inclusive nos finais de semana. E assim começaram as novas amizades. Por outro lado, em casa, lembram que auxiliavam na loja e que faziam passeios de carro com o pai. Algumas vezes ele os levava à noite até o ponto mais alto da cidade, para ouvir no rádio os discursos de Gamal Abdel Nasser.
Na medida em que cresciam formavam seus grupos e jogavam nos clubes sociais da cidade, numa miscelânea sem fronteiras entre brasileiros e meninos de outras nacionalidades. Um dos irmãos lembra que brigou, um dia depois da aula, com o irmão mais novo de seu amigo judeu pelas provocações durante a “Guerra dos seis dias” em 1967. Mas esse fato não abalou amizade entre eles.
Naquela época, para fazer os trabalhos escolares, reuniam-se em casa de amigos. Quando estes vinham à sua residência, eram recebidos com carinho pelo pai que lhes oferecia comida e doces árabes. Os estudos e os jogos de futebol estreitaram as amizades e abriram as portas da casa para diversos amigos participarem dos almoços familiares. O sabor da comida era comentada e a hospitalidade do pai progressivamente tornava-o conhecido entre os jovens. Às vezes era servido carneiro, assado atrás da loja, ou churrasco quando estavam na praia. O círculo de amigos se estendeu até a adolescência, e começaram então a participar de bailes e festas nos clubes granfinos da cidade. Com o tempo os irmãos deixaram de freqüentar a mesquita que seu pai ativamente auxiliou a construir.
A herança deixada pelo pai
O pai é lembrado com muito amor pelos filhos; foi ele o “mestre” e o exemplo para todos: alegam que tudo em suas vidas aprenderam com ele. Em seus conselhos sublinhava muito o respeito pelos outros, a educação no linguajar e o dever de honrar o nome da família. Hamud relata: Ele falou muitas vezes para mim... “Pensar nos filhos e na esposa, e como é que você tem que tratar comercialmente com as pessoas”. Os traços retidos que ficaram são de um trabalhador incansável, pessoa alegre, amorosa, que tinha satisfação de ver os filhos receberem os amigos em casa. A filha Zahra complementa com um testemunho idealizado de um pai que queria ver a satisfação de seus filhos:
Ele queria nos ver bem. A colônia árabe o criticava, diziam que ele tinha que comprar uma propriedade, ao invés de esbanjar tanto com os filhos. Achavam que ele dava muito dinheiro para nós, que nos cobria de presentes... Ele respondia que queria ver seus filhos felizes enquanto estivesse vivo, não depois de morto. Como ele era uma pessoa assim, a gente respeitava ele demais, jamais faríamos algo que o contrariasse, nenhum de nós, especialmente as meninas.
O pai mantinha o bom humor, mesmo se às vezes notavam algo de melancólico em sua fisionomia; mas não percebiam traços de rancor. Os acidentes que aconteceram com ele não lhe permitiram fazer um “pé-de-meia” substancial para voltar ao Líbano e ter uma vida tranquila. Com o passar do tempo, no final dos anos sessenta, foi aceitando esse impedimento e “passou a encarar a idéia de viver no Brasil” (Ali). Notaram então, certa transformação no pai, tornou-se mais receptivo, dirigia-se mais para o exterior e a receber mais brasileiros dentro de casa.
Quando a volta ao Líbano vai sendo abandonada, Hamad redireciona seu projeto de vida e deixa cair o sonho do sucesso financeiro, de um retorno triunfante, e mais, a admiração entre os seus. Essa decisão implica renúncia definitiva ao chamado de sua terra, é momento de ruptura com a família primordial. Como muçulmano o distanciamento da “Umma”, [3] vivido como drama subjetivo de luto pela perda interna de um objeto idealizado, acentua a decisão. Deste vazio, opera-se um deslocamento a novo investimento e concretiza-se o fio da integração. A família, como objeto de transição para os filhos, transforma-se em espaço potencial de apaziguamento para o pai. A satisfação dos filhos proporciona-lhe ganhos simbólicos e equilíbrio para prosseguir com o necessário sentimento de coesão e de integridade do seu eu. [4]
Com a aceitação dos amigos no foro familiar, Hamad acolhe os porta-vozes da sociedade local. O foro privado torna-se a sustentação do redirecionamento existencial e passo para a esfera pública onde é desconstruído o estranho. O projeto de vida é retificado e deslocado para um outro lugar, concorrendo assim à regulação apaziguadora interna de nosso sujeito. Acompanhando este nó de re-significações, acontece o descentramento dos filhos da fantasmática familial na direção de outras correntes de identificações. A abertura agora remodelada a outras formas (temidas?) de sentir e de pensar impõe ao nosso imigrante a organização de novas condutas e a solidificação das introjeções dos novos códigos sociais. Instrumentalização necessária para aparelhar-se nas interações comportamentais e nos ritos da nova cultura. Momentos de transição: aos filhos é propiciada a liberdade de suas escolhas; ao pai, a revitalização de seus laços e o encontro com o diferente.
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Os passos seguidos pelos filhos
Depois da morte de Hamad, a família, com problemas financeiros, levou o mais popular dos irmãos a abrir um bar que venderia caftas, iguaria a base de carne e salsinha. O sucesso imediato foi tão grande, que a família toda resolveu abrir um restaurante. Atualmente, e há mais de vinte e cinco anos, é o restaurante de comida árabe de maior sucesso da cidade. Os amigos do futebol foram os primeiros fregueses, motivados pelas lembranças dos antigos almoços. Provando a comida, a memória grupal é reatualizada depois de muitos anos. Os sentimentos de fraternidade reafirmam os laços de amizade e desperta a consciência de uma identificação comum. Mais tarde esses amigos trouxeram seus pais, que por sua vez trouxeram seus próprios amigos. O sucesso do restaurante torna o local ponto de encontro da cidade e garante a renda financeira da família. No comando da cozinha, a memória culinária da mãe promove agora a etapa conclusiva na direção da assimilação dos filhos.
Conclusões :
1. Pai, projeto e identificação
A interpretação de um evento é construída segundo a significação que se lhe associa. Sua evocação se dará por este nexo e por suas associações que fazem sentido. Para os filhos de Hamad, os traços da “Guerra do Pente” ficam como marcos de uma mensagem e não como fonte de ressentimentos. Dissolvidas estas marcas nas cadeias de seus processos identificatórios, o “evento do pente” ressurge em cada um como filigranas simbólicos que evocam “a abnegação no trabalho e a volta por cima dada pelo [meu] pai” (Ali).
Eles falam de um projeto paterno, que submetido às exigências da realidade, é implantado com progressões e renúncias. Estratégias comandadas pelas projeções egóicas idealizadas de um imaginário de imigrante e fadadas à frustração. A aceitação pragmática face ao impasse engendra o apelo de esforços psíquicos de superação e adequação ao contexto. As pulsões de vida se impõem como progresso e motor de saúde de Hamad. Eros venceu onde concorriam tendências de um recuo congelador.
O amparo oferecido aos filhos reverte-se como aderência à sua figura de identificação. Desde aí ele promove um continente positivo, tecendo uma membrana fluida que permite aos jovens garantias de partirem rumo ao hibridismo cultural.
2. O jogo dos filhos
Se na primeira infância a relação de identificação no grupo originário se dava pelo jogo de baralho, o encontro com o diferente se dá pelo futebol e acaba no quibe. Como bem observa Meihy em seu artigo sobre a interculturalidade, a aceitação dos árabes em nossa cultura passa por discursos paradoxais, no entanto “a apreciação da [sua] culinária implica clara aceitação”. Em nosso caso, o árabe sai de sua célula privada conduzido pelo futebol. A travessia pelo brasileiríssimo fator de união nacional induz, num segundo momento, o convite do imigrante aos representantes da “sociedade hospedeira” a sentarem em sua mesa. E neste vai-e-vem estabelecem-se o diálogo e a adesão grupal. Mais tarde a memória grupal do sabor da comida e da cordialidade familiar reagrupa os velhos amigos em outro momento, para confirmar e soldar os laços simbólicos de um sentir comum. O reencontro no restaurante, como metáfora, estabelece os vetores rumo à assimilação de nossos libaneses, a um projeto coletivo mais amplo.
Notas
1. Os usuários destas embarcações que ligava o Rio de Janeiro a Niterói, insatisfeitos com os maus serviços prestados pela empresa, promoveram um quebra-quebra de grande envergadura e de debochado colorido arruaceiro. O populacho enfurecido enfrentou a polícia, promoveu incêndios em estabelecimentos comerciais, destruiu e saqueou a casa dos proprietários da empresa, e acabaram saindo às ruas vestindo roupas e adornos femininos em inusitada performance carnavalesca.
2. Entrevistas realizadas com os filhos Hamud, Ali e Zahra.
3. A grande comunidade dos crentes muçulmanos, que seguem a mesma lei e o objetivo de solidariedade interna.
4. O projeto que orientou Hamad na sua imigração fracassa. Esse impasse terá reflexos subjetivos de desorganização e descentramento interno. A perda de um objetivo é vivida como perda de algo de si. A angustia sentida pelo vazio que se instala, é compensada na satisfação que oferece os investimentos na família. Esta retomada, proporciona a coesão interna abalada e a substituição desta perda por outro objeto, Esta compensação restaura o sentimento de integridade perdido.
Referências bibliográficas
Lesser, J., 2001. A negociação da identidade nacional. São Paulo: Fundação Editora da UNESP.
Hobsbawm, E. J., 1974. Rebeldes primitivos. Estudo sobre formas arcaicas de movimentos sociais no século XIX e XX. Rio de Janeiro: Zahar.
Meihy, J. C. S. B., 2008. “Ser árabe na cultura brasileira. Construção de identidade”, em Tiraz 5, pp. 8-33.
Nunes E., 2000. A Revolta das Barcas. Populismo, violência e conflito político. Rio de Janeiro: Garamond.
Rudé, G., 1982. A multidão na História. Estudos dos movimentos populares na França e na Inglaterra, 1730-1848. Rio de Janeiro: Campus.
Tarde, G., 1992. A opinião e as massas. São Paulo: Martins Fontes.
Filme citado: 1984. A Guerra do Pente. Direção Nivaldo Lopes (Palito). Acervo Cinemateca de Curitiba