O jogo de xadrez - O mundo
Através da convivência com os persas, os árabes incorporaram o jogo de xadrez e o passaram à Europa cristã. Permaneceu conhecido como o jogo real não somente pela peça do “rei” como também pelo simbolismo intrínseco. O que pode se chamar de arte real, está na própria concepção do jogo de xadrez, no qual se manifesta a relação entre a ação de livre escolha e a inevitabilidade do destino.
O tabuleiro de xadrez representa o mundo. De origem indiana, o tabuleiro corresponde a uma mandala na qual estão representados, geometricamente, os ciclos cósmicos que voltamos a encontrar. As quatro casas centrais expressam as quatro manifestações básicas dos pontos cardeais, das estações do ano ou dos elementos que compõem o universo: terra, fogo, água e ar. As 12 casas que rodeiam esse centro, assinalam para os signos do zodíaco, e as casas que bordeiam o tabuleiro são os 28 dias da Lua. O branco e o negro, referência ao princípio do claro-escuro, lembram a luz e a treva, nascer e morrer. Tudo em conjunto, imagens e números, modelam os movimentos cósmicos no tempo.
O rei de Toledo, Afonso X, o sábio, declarado admirador do refinamento da cultura árabe, manteve as escolas de tradução em Toledo depois de tomada pelos cristãos. Cultivou a música, a poesia e elaborou 1254 “Libros de Acedrex”. Escrito em língua romance e baseado em fontes árabes, as regras do xadrez e de outros jogos parecidos, estão expostas de forma a ressaltar o simbolismo do tabuleiro: o universo esquematizado no “jogo das quatro estações”. Nessa disputa há quatro peças com as cores das estações, ou dos quatro elementos ou dos quatro humores fisiológicos, que se movimentam lutando em forma circular.
Nos “Libros de Acedrex” há uma imagem emblemática: um cavalheiro cristão, convidado à tenda de um cavalheiro hispano-árabe, joga xadrez com ele. As lanças de ambos estão fora, fincadas no chão, uma ao lado da outra, signo de hospitalidade e respeito.