O laicismo que discrimina
O laicismo francês é fato que vai além da religião, atingindo as liberdades e direitos da pessoa humana, consagrados pelas Nações Unidas e pela própria França, a ponto de certos setores serem a ele favoráveis para alcançar muçulmanos, atingir os árabes e chegar aos palestinos, na França e através do mundo.
Anos atrás assisti a um debate na BBC do qual participavam uma mediadora, uma muçulmana e um sikh (os três súditos de Sua Majestade britânica, residentes em Londres) e um Deputado membro do Parlamento francês.
A muçulmana e o sikh foram bastante convincentes. O que mais fez o parlamentar francês foi balançar a cabeça para os argumentos dos dois, limitando-se a repetir sem cessar a sustentação governamental que acompanhou o projeto de lei e os argumentos da extrema direita francesa no Parlamento, durante os debates que antecederam a votação da Lei que proíbe os símbolos religiosos nas escolas públicas francesas.
Os dois, no entanto, não disseram aquilo que me parece fundamental nas repercussões da lei que é o seguinte: o Kippa ou o porte de Crucifixo, para judeus e cristãos, respectivamente, não são obrigatórios, já o turbante e o cabelo nunca cortado, são obrigatórios para todos os homens sikh, enquanto que o hijab, ou lenço, ou seja, lá qual o pano que cubra a cabeça das mulheres muçulmanas é também obrigatório, em alguns lugares (na Arábia Saudita, por exemplo), e absolutamente não obrigatório em outros (a exemplo do Egito) tratando-se muito mais de uma tradição do que de um preceito religioso.
A lei francesa sempre optou por um ensino laico nas escolas estatais, para retirá-las do âmbito e da influência eclesiástica. A lei adotada tinha a finalidade de atrair votos da direita para o partido do então Jacques Chirac; e, diga-se de passagem, o atual presidente Nicolas Sarkozy, está também usando-a para fins políticos. A lei discrimina os muçulmanos e, por extensão, migrantes em geral, africanos, asiáticos ou europeus orientais, entre outros grupos. Os votos da extrema direita, nas últimas eleições majoritárias francesas, chegaram a uma magnitude tal que já merecem uma consideração, pois, a cada eleição, a direita está ocupando mais espaço. Esta lei é, além de discriminatória, criminosa, pois editada com fins torpes indignos da França, considerada por muitos árabes, como fonte de cultura, berço da igualdade e da justiça. Hoje a França está decepcionando os seus admiradores árabes.
A idiotice desta lei é que ela proíbe o uso de símbolos religiosos, só nas escolas. Para que houvesse coerência mais idiota ainda, deveria também proibi-los na rua, nas casas de adoração de Deus, em todo lugar.
O uso de símbolos não é exibicionismo. A verdade é outra, são símbolos de fé, de tradição, de amor a Deus. E, além do mais, não incomodam ninguém. Os judeus que coloquem suas barbas de molho, pois o caminho está aberto para o recrudescimento do que chamam de anti-semitismo que vem se manifestando sempre com mais virulência, na França, alimentado pelas mesmas fontes e pelas mesmas razões que fizeram com que esta lei fosse aprovada. Os muçulmanos estão sentindo os efeitos da lei que deu uma roupagem legal à perseguição que já sofriam, mesmo antes de sua aprovação. Para culminar, o que se vê na França atual é ataque ferrenho e menosprezo ferino contra todas as religiões, atingindo também os cristãos.
É muito triste quando constatamos as manifestações de falta de respeito com a Religião (‘R’ maiúsculo). A lei francesa é uma, mas as notícias deste desrespeito estão por toda a parte. A imprensa brasileira fez coro e divulgou tudo ou perto de tudo o que se publicou na imprensa internacional a respeito da lei francesa.
Duas notícias à época da adoção da lei francesa são exemplares: 1- Paul Bremer, o administrador estadunidense do Iraque, logo depois que seu país agrediu a ocupou aquele país árabe, declarou que vetaria qualquer Constituição iraquiana que fizesse do Islã a principal fonte da lei; e, 2-judeus que quisessem enviar mensagens ao céu, costumavam viajar a Jerusalém e enfiá-las nas ranhuras das pedras do Muro das Lamentações, mas, a partir do anúncio publicado pela Bezeq (companhia telefônica de Israel), basta conectar-se à Internet e enviar um e-mail e a empresa prestará o serviço de levá-la até o muro, mediante módica taxa.
A primeira é um atentado contra a sagrada liberdade de escolha de um povo que vê, em sua maioria, a sua própria religião como fonte de direito e, a segunda, um escárnio contra uma tradição consagrada merecedora de respeito.
Não há ilusões. A lei em vigor na França não honra suas tradições, abre e amplia a perseguição religiosa e racial, faz regredir no tempo e transforma a Fé em objeto vil, moeda de troca eleitoral e, ao final, ninguém escapará.
Anos atrás assisti a um debate na BBC do qual participavam uma mediadora, uma muçulmana e um sikh (os três súditos de Sua Majestade britânica, residentes em Londres) e um Deputado membro do Parlamento francês.
A muçulmana e o sikh foram bastante convincentes. O que mais fez o parlamentar francês foi balançar a cabeça para os argumentos dos dois, limitando-se a repetir sem cessar a sustentação governamental que acompanhou o projeto de lei e os argumentos da extrema direita francesa no Parlamento, durante os debates que antecederam a votação da Lei que proíbe os símbolos religiosos nas escolas públicas francesas.
Os dois, no entanto, não disseram aquilo que me parece fundamental nas repercussões da lei que é o seguinte: o Kippa ou o porte de Crucifixo, para judeus e cristãos, respectivamente, não são obrigatórios, já o turbante e o cabelo nunca cortado, são obrigatórios para todos os homens sikh, enquanto que o hijab, ou lenço, ou seja, lá qual o pano que cubra a cabeça das mulheres muçulmanas é também obrigatório, em alguns lugares (na Arábia Saudita, por exemplo), e absolutamente não obrigatório em outros (a exemplo do Egito) tratando-se muito mais de uma tradição do que de um preceito religioso.
A lei francesa sempre optou por um ensino laico nas escolas estatais, para retirá-las do âmbito e da influência eclesiástica. A lei adotada tinha a finalidade de atrair votos da direita para o partido do então Jacques Chirac; e, diga-se de passagem, o atual presidente Nicolas Sarkozy, está também usando-a para fins políticos. A lei discrimina os muçulmanos e, por extensão, migrantes em geral, africanos, asiáticos ou europeus orientais, entre outros grupos. Os votos da extrema direita, nas últimas eleições majoritárias francesas, chegaram a uma magnitude tal que já merecem uma consideração, pois, a cada eleição, a direita está ocupando mais espaço. Esta lei é, além de discriminatória, criminosa, pois editada com fins torpes indignos da França, considerada por muitos árabes, como fonte de cultura, berço da igualdade e da justiça. Hoje a França está decepcionando os seus admiradores árabes.
A idiotice desta lei é que ela proíbe o uso de símbolos religiosos, só nas escolas. Para que houvesse coerência mais idiota ainda, deveria também proibi-los na rua, nas casas de adoração de Deus, em todo lugar.
O uso de símbolos não é exibicionismo. A verdade é outra, são símbolos de fé, de tradição, de amor a Deus. E, além do mais, não incomodam ninguém. Os judeus que coloquem suas barbas de molho, pois o caminho está aberto para o recrudescimento do que chamam de anti-semitismo que vem se manifestando sempre com mais virulência, na França, alimentado pelas mesmas fontes e pelas mesmas razões que fizeram com que esta lei fosse aprovada. Os muçulmanos estão sentindo os efeitos da lei que deu uma roupagem legal à perseguição que já sofriam, mesmo antes de sua aprovação. Para culminar, o que se vê na França atual é ataque ferrenho e menosprezo ferino contra todas as religiões, atingindo também os cristãos.
É muito triste quando constatamos as manifestações de falta de respeito com a Religião (‘R’ maiúsculo). A lei francesa é uma, mas as notícias deste desrespeito estão por toda a parte. A imprensa brasileira fez coro e divulgou tudo ou perto de tudo o que se publicou na imprensa internacional a respeito da lei francesa.
Duas notícias à época da adoção da lei francesa são exemplares: 1- Paul Bremer, o administrador estadunidense do Iraque, logo depois que seu país agrediu a ocupou aquele país árabe, declarou que vetaria qualquer Constituição iraquiana que fizesse do Islã a principal fonte da lei; e, 2-judeus que quisessem enviar mensagens ao céu, costumavam viajar a Jerusalém e enfiá-las nas ranhuras das pedras do Muro das Lamentações, mas, a partir do anúncio publicado pela Bezeq (companhia telefônica de Israel), basta conectar-se à Internet e enviar um e-mail e a empresa prestará o serviço de levá-la até o muro, mediante módica taxa.
A primeira é um atentado contra a sagrada liberdade de escolha de um povo que vê, em sua maioria, a sua própria religião como fonte de direito e, a segunda, um escárnio contra uma tradição consagrada merecedora de respeito.
Não há ilusões. A lei em vigor na França não honra suas tradições, abre e amplia a perseguição religiosa e racial, faz regredir no tempo e transforma a Fé em objeto vil, moeda de troca eleitoral e, ao final, ninguém escapará.