O cinema marroquino e as transformações sociais
Na próxima semana, a partir do dia 26 de junho, o público de São Paulo terá a oportunidade de conhecer produções inéditas do cinema dos países árabes na 7ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. O Portal ICArabe conversou com o diretor marroquino Ali Essafi, um dos documentaristas mais premiados no Marrocos, sobre o cinema de seu país e as transformações no Mundo Árabe. Dois de seus filmes, “Procurado” e “Quarzazate”, são destaques da Mostra. Leia a seguir:
Portal ICArabe- No filme “Procurado”, o protagonista é um jovem de 23 anos que acaba tendo que se esconder devido à repressão no Marrocos durante a década de 1970. O que os jovens marroquinos e os jovens árabes têm a aprender com este personagem de quatro décadas atrás?
Ali Essafi- Eu comecei este trabalho dois meses antes da primeira revolução na Tunísia e dois meses antes o Mundo Árabe ainda estava num sono profundo. E as ditaduras quase conseguiram apagar a memória das lutas e dos sonhos da geração dos anos 70! Eu resolvi fazer este trabalho porque esperava sempre um renascimento da resistência e também para salvar a memória dessa época. Por acaso ou não, este trabalho chegou simplesmente na hora certa para mostrar para a juventude o que aconteceu na experiência passada, para aprender o que havia de bom e achar uma forma de resistência que pode conseguir mais!
Portal ICArabe- Como está o cinema marroquino atualmente?
Ali Essafi- O cinema marroquino está ainda amadurecendo. Nesses últimos anos, ele cresceu em quantidade e está se tornando o país árabe e africano que mais produz (16 longas e 70 curtas por ano). Mas esse cinema ainda não tem uma identidade própria. A gente não tem escolas de cinema, não tem nenhuma formação de roteiristas e de outras técnicas do cinema. Todo ano, as salas de cinema continuam fechando e os marroquinos não conseguem assistir nem mesmo às produções nacionais que são em grande parte feitas com dinheiro público. Em uma frase: o cinema ainda está totalmente na mão do Estado. O documentário não tem o reconhecimento e, até hoje, o marroquino não pode filmar qualquer coisa sem as autorizações do Estado Nacional e do local, mesmo que seja para um filme amador!
Portal ICArabe- Como um documentarista deve se comportar diante de tantas revoluções e mudanças que vêm ocorrendo no Mundo Árabe?
Ali Essafi- Desde a Primavera Árabe, eu participei como jurado em algumas comissões dos fundos árabes de cinema e vi muitos projetos para documentários sobre as mudanças no Mundo Árabe. Infelizmente, a maioria deles não conseguiu ainda se afastar da reportagem. Como documentarista, eu acho muito bom filmar o que acontece agora para participar dessa experiência muito rara. Mas está muito cedo para ter uma certa distância e contar a história com subjetividade. Como cineasta, eu acho que essa hora a gente tem que primeiro participar diretamente nas revoluções e viver essa aventura e mais tarde contar.
Portal ICArabe - O que tem atraído a atenção nessas revoluções e o que o senhor gostaria de registrar delas?
Ali Essafi- O que mais tem me atraído nessas revoluções é essa alquimia que aconteceu sem que todos os experts, os analistas, as inteligências dos estados, como a CIA, as mídias e até mesmo os cidadãos pudessem pressentir. Essas revoluções aconteceram apesar de tudo e da gente mesmo! O mais importante é que eu gravei, e a imagem, que sempre foi proibida, foi a maior arma dessas revoluções.
Portal ICArabe- O senhor filmou algo das revoluções da Primavera Árabe?
Ali Essafi- Pessoalmente, eu não filmei as primeiras revoluções porque estava trabalhando na montagem do meu filme “Procurado”, mas eu ajudei uma turma que filmou tudo o que aconteceu (120 horas de filmagens) com o movimento marroquino chamado “20 de Fevereiro”. Depois, eu filmei, sem roteiro, essa “Primavera” em muitos outros países, não apenas árabes, mas também os outros movimentos que aconteceram na mesma temporada nos Estados Unidos, Espanha, Alemanha...
Portal ICArabe- Como os cineastas brasileiros podem contribuir para o cinema marroquino e vice-versa?
Ali Essafi- Os cinemas do mundo inteiro são permanentemente dominados pelo cinema de Hollywood. Isso não permite ao cinema dos países do Sul trocar experiências e mostrar uma outra visão do mundo. Eu acho muito bom para o cinema marroquino e árabe se os cineastas brasileiros conseguirem distribuir os filmes deles na nossa região. A gente pode, também, aproveitar dos ensinamentos do modelo brasileiro de produção.
Portal ICArabe- No filme “Procurado”, o protagonista é um jovem de 23 anos que acaba tendo que se esconder devido à repressão no Marrocos durante a década de 1970. O que os jovens marroquinos e os jovens árabes têm a aprender com este personagem de quatro décadas atrás?
Ali Essafi- Eu comecei este trabalho dois meses antes da primeira revolução na Tunísia e dois meses antes o Mundo Árabe ainda estava num sono profundo. E as ditaduras quase conseguiram apagar a memória das lutas e dos sonhos da geração dos anos 70! Eu resolvi fazer este trabalho porque esperava sempre um renascimento da resistência e também para salvar a memória dessa época. Por acaso ou não, este trabalho chegou simplesmente na hora certa para mostrar para a juventude o que aconteceu na experiência passada, para aprender o que havia de bom e achar uma forma de resistência que pode conseguir mais!
Portal ICArabe- Como está o cinema marroquino atualmente?
Ali Essafi- O cinema marroquino está ainda amadurecendo. Nesses últimos anos, ele cresceu em quantidade e está se tornando o país árabe e africano que mais produz (16 longas e 70 curtas por ano). Mas esse cinema ainda não tem uma identidade própria. A gente não tem escolas de cinema, não tem nenhuma formação de roteiristas e de outras técnicas do cinema. Todo ano, as salas de cinema continuam fechando e os marroquinos não conseguem assistir nem mesmo às produções nacionais que são em grande parte feitas com dinheiro público. Em uma frase: o cinema ainda está totalmente na mão do Estado. O documentário não tem o reconhecimento e, até hoje, o marroquino não pode filmar qualquer coisa sem as autorizações do Estado Nacional e do local, mesmo que seja para um filme amador!
Portal ICArabe- Como um documentarista deve se comportar diante de tantas revoluções e mudanças que vêm ocorrendo no Mundo Árabe?
Ali Essafi- Desde a Primavera Árabe, eu participei como jurado em algumas comissões dos fundos árabes de cinema e vi muitos projetos para documentários sobre as mudanças no Mundo Árabe. Infelizmente, a maioria deles não conseguiu ainda se afastar da reportagem. Como documentarista, eu acho muito bom filmar o que acontece agora para participar dessa experiência muito rara. Mas está muito cedo para ter uma certa distância e contar a história com subjetividade. Como cineasta, eu acho que essa hora a gente tem que primeiro participar diretamente nas revoluções e viver essa aventura e mais tarde contar.
Portal ICArabe - O que tem atraído a atenção nessas revoluções e o que o senhor gostaria de registrar delas?
Ali Essafi- O que mais tem me atraído nessas revoluções é essa alquimia que aconteceu sem que todos os experts, os analistas, as inteligências dos estados, como a CIA, as mídias e até mesmo os cidadãos pudessem pressentir. Essas revoluções aconteceram apesar de tudo e da gente mesmo! O mais importante é que eu gravei, e a imagem, que sempre foi proibida, foi a maior arma dessas revoluções.
Portal ICArabe- O senhor filmou algo das revoluções da Primavera Árabe?
Ali Essafi- Pessoalmente, eu não filmei as primeiras revoluções porque estava trabalhando na montagem do meu filme “Procurado”, mas eu ajudei uma turma que filmou tudo o que aconteceu (120 horas de filmagens) com o movimento marroquino chamado “20 de Fevereiro”. Depois, eu filmei, sem roteiro, essa “Primavera” em muitos outros países, não apenas árabes, mas também os outros movimentos que aconteceram na mesma temporada nos Estados Unidos, Espanha, Alemanha...
Portal ICArabe- Como os cineastas brasileiros podem contribuir para o cinema marroquino e vice-versa?
Ali Essafi- Os cinemas do mundo inteiro são permanentemente dominados pelo cinema de Hollywood. Isso não permite ao cinema dos países do Sul trocar experiências e mostrar uma outra visão do mundo. Eu acho muito bom para o cinema marroquino e árabe se os cineastas brasileiros conseguirem distribuir os filmes deles na nossa região. A gente pode, também, aproveitar dos ensinamentos do modelo brasileiro de produção.