Festival de cinema árabe de Buenos Aires lança campanha na internet para financiamento coletivo
Idealizado por Pipo Bechara, diretor da Cine Fértil, o LAIFF, que este ano terá sua terceira edição, vem se consolidando no cenário cinematográfico argentino ao construir uma ponte entre o cinema árabe e cinema latino-americano, o que levou a uma renovada consciência sobre a complexidade e a riqueza da cultura cinematográfica árabe. É também uma plataforma para cineastas árabes encontrarem um público ansioso para a descoberta de cinema até hoje quase inacessível aos circuitos comerciais e festivais em nossa região. “Sabemos do interesse genuíno do público argentino pela cultura e pela realidade do Mundo Árabe que, como a América Latina, é uma região que abrange os processos de renovação, redescoberta e redefinição de sua cultura”, ressalta Pipo, que esteve no Brasil em agosto para participar da 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. “O festival visa criar um espaço para compartilhar histórias e viver a vida como universal e comum a todos, um olhar como parte da grande família da humanidade. Nós acreditamos no cinema com este olhar.”
Pipo explica que a ideia do crowdfunding é unir esforços para alcançar pequenas realizações e assim ir resolvendo questões específicas da produção do LAIFF . “Neste caso, o dinheiro de quem vai apoiar será direcionado para o transporte das cópias. Esta é a primeira experiência neste tipo de campanha. Este montante é quase 10% do valor total do festival. É baixo e é muito ao mesmo tempo.”
Outra iniciativa do tipo será lançada por ele na AFLAMNAH, uma platorma de crowfunding em Dubai. “Vamos ver o que acontece lá. Estas plataformas permitem que qualquer pessoa de qualquer lugar do mundo possa ajudar. Com pouco ou com muito, tudo soma e nos aproxima, com êxito, do que planejamos como objetivo final. Além disso, premia fãs e amigos que apreciam o projeto de uma forma simples, com camisetas, ingressos, acesso aos jantares exclusivos e eventos para receber os diretores.”
O Projeto Film Fértil começou em 2003, para documentários sobre o Mundo Árabe na Universidade de Buenos Aires, uma das principais instituições acadêmicas na Argentina. Tem colaborado com a exibição de filmes em eventos como a Semana da Cultura Árabe, o programa da Aliança Francesa, Cinema do Oriente Médio, o Festival Internacional de Cinema Mulheres em Foco, o Euro Arab Film Festival AMAL, de Santiago de Compostela, mostras da Casa Árabe de Espanha e o Festival Internacional de Cinema de Direitos Humanos DerHumALC, entre outros. Além da coprodução, em parceria com o ICArabe, da 8 ª Mostra Mundo Árabe, participa da produção do primeiro Festival de Cinema Argentino na Jordânia, o programa em espaços INCAA TOUR LAIFF e o LAIFF 3, que será realizado em novembro, em Buenos Aires.
Em sua passagem pelo Brasil, em agosto, como convidado da 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, da qual é parceiro na “Sessão Diálogos Árabe-Latinos”, Pipo Bechara destacou a importância dos eventos que difundem o cinema árabe na América Latina. “Queremos que as culturas se conheçam. Isso é o mais importante que está acontecendo no cinema entre o Mundo Árabe e a América Latina.”
Descendente de libaneses, ele ressaltou como é essencial observar mais de perto essas duas culturas, que em um primeiro momento parecem distintas, mas que, à luz da influência da cultura árabe na América Latina, dão espaço a uma nova perspectiva. O Mundo Árabe, afirma, nutre a cultura e a filosofia política de cada país latino-americano que o agrega. Nutre com ideias, valores e estética, contribuindo para consciência do que é cada um. Uma consciência aberta, que dialoga com diferentes culturas de igual para igual e que, assim como ele, também reclama um lugar no mundo.
Em relação ao momento político, social e cultural que vive o Mundo Árabe, o argentino acredita ser muito promissora a maneira como as novas gerações, tanto nos países árabes quanto na América Latina, estão mais atentas ao que acontece à sua volta. “Muitos jovens estão pegando suas câmeras e indo às ruas. Buscam recuperar a história de seu povo, contá-las de alguma forma. São histórias que não entram no discurso dos Estados Unidos ou da Europa e, se entram, é de uma maneira fechada, orientalizada. Falam de um mundo místico e maravilhoso do oriente, estranho e alheio a eles.”
Pipo destacou ainda a presença cada vez maior da mulher árabe no mercado cinematográfico. “No cinema árabe, mais de 70% dos diretores têm menos de 45 anos, dos quais a metade são mulheres. Em Hollywood, elas são menos de 12%. Se vamos falar do tema da mulher, parece-me que Hollywood tem muito que aprender com o cinema árabe”.
Para saber mais sobre o e a Cine Fértil, acesse http://cinefertil.org/comienza-segunda-edicion-del-festival-internacional-de-cine-arabe/