Qatar Foundation ensina árabe em escolas cariocas

Seg, 21/10/2013 - 18:08
A língua árabe não é matéria comum no ensino das escolas brasileiras, mas este ano ela passou a fazer parte do currículo de alunos de cinco escolas da rede municipal do Rio de Janeiro. A novidade é fruto de um convênio firmado entre a Secretaria Municipal de Educação daquela cidade e a Qatar Foundation International (QFI), braço norte-americano da organização sediada em Doha.

A parceria começou em março, com um projeto-piloto que introduziu as aulas no Ginásio Experimental Carioca (GEC) Anísio Teixeira. Deu certo e hoje outros quatro GECs já oferecem as aulas do idioma. O Ginásio Experimental Carioca é um projeto da prefeitura do Rio voltado para crianças de 12 a 15 anos, do 7º ao 9º ano do ensino fundamental. Estas escolas funcionam em horário integral, das 8 às 16 horas, e além das aulas comuns, os estudantes contam com disciplinas eletivas, que são escolhidas de acordo com os interesses dos alunos.

“O Ginásio Experimental Anísio Teixeira, na Ilha do Governador, verificou que seus alunos têm vocação para idiomas. Ao mesmo tempo, a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016 serão grandes oportunidades de aprimoramento na formação e de trabalho para jovens. Nesse sentido, esta escola resolveu aumentar o oferecimento de disciplinas eletivas de idiomas, além do inglês e do espanhol. A Fundação Qatar Internacional nos apresentou uma proposta de ensino de língua árabe, que veio ao encontro dos anseios desta escola”, explica Heloisa Mesquita, assessora do Gabinete da Secretaria Municipal de Educação e gerente do Projeto Ginásio Experimental Carioca, sobre o início da parceria entre a fundação e a prefeitura do Rio.

O convênio foi oficialmente assinado em agosto. Com validade de um ano, ele pode ser renovado. Atualmente, além do GEC Anísio Teixeira, as escolas que também oferecem aulas de árabe são o GEC Rivadávia Correa, GEC Bolivar, GEC Mario Paulo de Brito e GEC Embaixador Araújo Castro.

“Há previsão de expandir para outras escolas no sistema municipal, mas ainda não foi definido para quantas. Isso vai depender do treinamento de professores”, comenta Robert Feron, coordenador de Programas para o Brasil da QFI. A Qatar Foundation International tem sua sede em Washington, nos Estados Unidos, e sua atuação é focada em todo o continente americano. Os recursos de suas atividades, porém, vêm de Doha. De acordo com Feron, a QFI também está mantendo conversas com a Secretaria Estadual de Educação do Rio e é possível que até três escolas estaduais sejam incluídas no projeto, no início do próximo ano.

Segundo o executivo, porém, as aulas de árabe não devem ficar restritas ao Rio de Janeiro. “Temos interesse em levar para outros lugares. Estamos negociando com outras cidades do país, mas as discussões são preliminares. É muito provável que, no futuro, venhamos a expandir, mas isso vai depender do interesse das escolas públicas e do treinamento de professores”, explica.

Feron conta que os professores são contratados pela QFI por salários similares aos dos outros professores da rede pública. O objetivo desta politica salarial é que, futuramente, estes profissionais possam vir a ser incorporados à rede municipal. Atualmente, são cinco professores brasileiros atuando nas escolas cariocas. Cada educador atua em duas instituições. Todos os docentes que trabalham no projeto são brasileiros. “Sempre recrutamos os professores da população local”, relata Feron.

Aprendizado visa comunicação com falantes de árabe


As aulas de árabe são eletivas, ou seja, os alunos escolhem se querem ou não frequentar o curso. Assim, é fácil notar o crescente interesse dos jovens pelo idioma. Só na primeira escola que adotou o curso, as aulas passaram de 28 para 64 alunos. Hoje, somadas as instituições, cerca de 130 estudantes se dedicam ao aprendizado da língua.

As classes são ministradas por dois professores. A formação das turmas é diferente em cada instituição de ensino, podendo haver três aulas semanais de 50 minutos ou uma ou duas aulas de 90 minutos cada por semana. “Alguns alunos têm tanto interesse que querem frequentar mais de uma turma no mesmo semestre”, diz Feron.

Segundo Mesquita, os estudantes optam pelas aulas de árabe “pela vocação para idiomas, pelo interesse, curiosidade e pela chance de conseguir melhores oportunidades futuras”.

Os alunos que frequentam as classes de árabe aprendem palavras que podem ser usadas no dia a dia e o contexto cultural na qual elas estão inseridas. “A ideia é ensinar uma linguagem que facilite o contato com pessoas de países que falem árabe. São conversas sobre turismo, que podem acontecer no aeroporto, sobre comércio, compra e venda em um mercado, por exemplo”, diz Feron.

O coordenador conta que o modo como as aulas são dadas também estimula o aprendizado dos estudantes. “Os alunos conversam entre si, acompanhados pelas professoras. Este método, no qual os alunos conversam entre eles, é muito mais dinâmico do que ficar ouvindo uma professora falar lá na frente. Os alunos adoram e ficam muito mais engajados no projeto”, avalia.

Pelo lado da prefeitura, Mesquita indica que há uma avaliação positiva. “A Fundação Qatar Internacional é muito cuidadosa com o ensino da língua árabe, fazendo uma constante avaliação dos seus professores. Estamos analisando outros fatores no desenvolvimento cognitivo dos alunos, para ver se há melhoria em função do aprendizado de mais de duas línguas”, afirma.

Os professores contratados pela QFI são acompanhados pela fundação e recebem orientação por telefone de especialistas no ensino do idioma. Eles também poderão participar de treinamentos fora do Brasil, além de serem acompanhados por representantes da fundação que vêm ao País, como ocorreu na última semana, com a vinda de um professor egípcio ao Rio de Janeiro. “Ele esteve uma semana no Rio, assistindo as aulas e dando dicas. Esta visita de observação vai orientar treinamentos futuros”, explica Feron.

Outros projetos

Além do ensino de língua e cultura árabe, a QFI também desenvolve outros projetos menores no Brasil. A fundação está, por exemplo, apoiando financeiramente a ida de um grupo de seis alunos e três professores brasileiros ao Catar e à Índia para participar de uma competição de ciência, tecnologia e matemática. O concurso acontecerá em novembro. A fundação também já desenvolveu projetos em escolas sobre mudanças climáticas e colaboração na internet. Vale lembrar ainda que, uma vez por semana, o GEC Anísio Teixeira oferece aulas de árabe também para a comunidade e para os demais professores da escola.