Em 11 dias, Israel destrói e sufoca o Líbano
Líbano sofre ataque pesado de Israel e vive novamente passado da guerra civil. Destruição de estrutura, morte de civis – entre eles crianças – e suspeita de uso de armas proibidas marcam a incursão israelense ao país que tem quase um terço da população refugiada e sem lugar seguro para permanecerSão Paulo, fim de tarde de sábado, por volta das 16h37. Do outro lado da linha, já fim de noite, algo em torno das 22h37, horário do Líbano, a brasileira Fifi Rahhal atende, voz abatida. Esta é a segunda de nossas conversas – a primeira havia sido na terça – e ela esclarece que este é o pior momento do dia - durante toda a noite e o começo da manhã -, que é quando os bombardeios israelenses se intensificam. O território libanês vive desde 12 de julho sob ataques aéreos de Israel e vê os 16 anos de reconstrução pós-guerra civil serem destruídos em poucos dias. Neste domingo, o país viveu o 11º dia dos ataques ao país. As baixas incalculáveis começam pela morte de civis libaneses. Números oficiais indicam que o número de mortos chega a 350. A maioria dos mortos foi muçulmana, mas sem qualquer ligação com o movimento político islâmico Hizbollah, que, oficialmente, era o alvo dos ataques de Israel. Tampouco se explica o número de crianças mortas nos ataques, por volta de 40. O drama dos libaneses passa pelas inúmeras perguntas que se fazem quando levantam os escombros e enxergam cadáveres de jovens, velhos, inocentes. Fifi diz que os ataques diminuíram, “há uma trégua de duas ou três horas por dia, coisa que não existia no começo da agressão”. Mas a previsão é que, quando todos os estrangeiros forem retirados, as coisas piorem ainda mais. Durante os 11 dias de agressão, além de matar civis, a estratégia israelense incluiu isolar o país. Com a experiência em Gaza e na Cisjordânia, o Líbano também se tornou uma espécie de prisão. Logo no começo dos ataques, Israel garantiu um bloqueio marítimo e destruiu portos. Fifi, que fugiu de Beirute e está no oeste do vale do Bekaa, conta que no início dos ataques, as bombas israelenses cortaram de dez em dez metros estradas e pistas de aeroportos libaneses. Além de caminhos de saída e de entrada, Israel abateu reatores de eletricidade, áreas industriais e centenas de casas e prédios. “As pessoas estavam fugindo, mas não estão conseguindo mais. Bombardearam em vários pontos, como se cortassem as estradas de dez em dez metros. Foi assim que fizeram com a pista dos aeroportos”, diz Fifi. No início dos ataques, a impressão que se tinha era que a população ficaria sem comida, mas aos poucos, a entrada da ajuda estrangeira foi permitida. O isolamento do Líbano, no entanto, incluiu em certo momento dificultar a entrada da ajuda estrangeira ao país. No início da semana, quase todo material enviado era bombardeado. Os Emirados Árabes mandaram segunda-feira três caminhões com farinha, mas Israel, alegando que poderiam ser transporte de armas, os bombardeou. Dos mesmos Emirados, 25 ambulâncias chegavam ao Líbano, mas cinco foram destruídas e outras vinte voltaram à fronteira da Síria. A partir da quinta-feira, Israel começou a deixar alguma ajuda estrangeira entrar no Líbano, mas fiscaliza o que pode e exerce controle sobre grande parte do que entra no país. Ziad Majed, cientista político e vice-presidente da esquerda Democrática libanesa, em entrevista ao Icarabe, também aponta as imensas perdas econômicas que o país já sofre, diretas e indiretas. “Especialistas estimam que os danos diretos estejam perto de US$ 2 bilhões, e os danos indiretos - pois o Líbano deveria receber nos próximos seis meses perto de 1 milhão de turistas, além do investimento esperado, dos ganhos no trânsito dos portos e aeroportos, do comércio, das transações financeiras – estão também em torno de US$ 2 bilhões”. ARMAS PROIBIDAS DE ISRAEL? Uma trégua ainda parece incerta e os apelos de libaneses e palestinos, que ainda estão sob ataque em Gaza, é de que a comunidade internacional pressione Israel a cessar os ataques. Relatos do Líbano indicam que o exército israelense usa armas químicas. “Essa bomba solta um pó que entra na pele da pessoa e parece que o sangue congela, a pessoa fica roxa e rígida como se tivesse sido queimada, E há crianças que morrem assim. Não há ferimento, mas a pessoa parece um carvão”, diz Fifi. A jornalista Hanady Salman informa do Líbano que ainda não foi possível detectar o tipo de produto que há nas bombas israelenses, pois todo o esforço é feito em salvar vítimas ainda com vida. Mas há suspeitas de que haja produtos químicos proibidos nos artefatos militares. O diretor do Nabatiyeh National Hospital, no sul do país, Hassan Wazni, fala sobre “bombas de vácuo, como se o ar saísse do corpo e parasse a respiração da pessoa e o coração”. O médico também citou a morte de Sadek Hamed como "morte de causa desconhecida".