Marcia Dib fala sobre estereotipização das odaliscas no Ciclo de Cultura Árabe

Ter, 19/07/2016 - 12:32

 

Desmistificando a imagem construída sobre as odaliscas, a bailarina Marcia Dib, autora do livro “Música Árabe: expressividade e sutileza” e mestre em cultura árabe pela FFLCH-USP, foi a convidada desta segunda-feira (18) do “Ciclo de Conversas sobre Cultura Árabe”, realizado pelo Instituto da Cultura Árabe, em parceria com a Livraria Martins Fontes (unidade Avenida Paulista).

Marcia falou em sua conferência “Mulheres árabes como ‘Odaliscas’: uma imagem construída pelos ocidentais” sobre como o orientalismo – processo de mistificação da cultura oriental – ocorreu por meio da arte. “Falou-se pelos orientais, construiu-se uma imagem. Isso não é de hoje. Além da questão social, há a questão artística.” A estudiosa lembrou que povos tal como os árabes, persas e chineses eram considerados primitivos. “Eles estariam mais próximos da natureza, entenderiam menos da realidade”, disse sobre a concepção europeia.

Pinturas do romantismo no século XIV retratavam as odaliscas por meio do nu acadêmico. “O homem que está assistindo (vendo) a pintura é o único da história. É algo voyer. Geralmente as modelos são europeias”, analisou.

Marcia mostrou pinturas como “As mulheres de Argel (1934)”, de Eugène Delacroix, que sempre retratavam as odaliscas de formas sensuais e relaxadas. “Uma coisa é mostrar um costume diferente, outra é fantasiar ou inventar costumes”, disse. As legendas das pinturas colocavam as odaliscas sempre a espera dos homens, donas de escravos e nos harens, reproduzidos como locais sexuais, mas que são apenas locais reservados nas casas árabes.

Dança e cultura

Marcia Dib, que também é diretora do Mabruk! Companhia de Danças Folclóricas Árabes, professora e coreógrafa, abordou, ainda, o estereótipo nas danças. “Nem todas as mulheres que dançam são odaliscas. O próprio oriente vai pegar os estereótipos de si mesmo e reproduzir. A dança do ventre é um nome ocidental”, criticou.

A estudiosa demonstrou também a estereotipização e falta de conhecimento da cultura árabe na música, como na Feira de Chigago de 1893 que foi apresentado show com “As bailarinas argelinas de Marrocos”. Foi ouvida, ainda, a música norte-americana “The Streets of Cairo or the Poor Little Country Maid”, do final do século XIX, que não é árabe e retrata as orientais por meio de estereótipos.

O público do encontro elogiou o Instituto da Cultura Árabe por trazer o tema a uma palestra. “Deu para aprender bastante sobre o tema. Mudou a visão da odalisca totalmente, essa visão distorcida”, afirmou a engenheira química Kátia Philo, que é descendente de sírios e libaneses.

O Ciclo tem coordenação de Heloisa Abreu Dib Julien, secretária geral do ICArabe, com apoio de Yasmin Fahs, Natalia Nahas Carneiro Maia Calfat e Jamile Abou Nouh, membros da Diretoria do Instituto.

 

Confira as próximas palestras:

 

22/07, sexta-feira, das 19h30 às 21h30

O véu e o conflito da visibilidade - Plinio Freire

 

02/08, segunda-feira, das 19h30 às 21h30

Cinema Árabe na atualidade - Geraldo Adriano Godoy de Campos