Mundo árabe sob o olhar de sua poesia e dança
Na próxima segunda-feira, 18 de junho, o Icarabe apresenta o Dîwân de poesia e dança. Veja aqui a importância desta manifestação que tem sua riqueza na diversidade de formas artísticas, pois, como diz Márcia Dib, o “corpo traduz coisas que o verbal não pode dizer e a escrita narra estados e histórias que não podem ser representados com o corpo”.por Julia Dietrich “Historicamente o termo Dîwân está ligado a um momento de socialização. Desde os tempos do Alandalus, e até provavelmente antes, ele representava a reunião das pessoas em torno da poesia, na poesia do poema, da dança e da música”, conta Lelia Maria Romero, poetisa e organizadora do III Dîwân do Instituto da Cultura Árabe que acontecerá no dia 18 de Junho, às 20h, no Teatro Aliança Francesa, unidade central da capital paulistana. Declamados em português e em árabe, os poemas que serão apresentados no evento, embora não pertençam a um bojo temático, reúnem características comuns que evocam imagens da vida do povo árabe, seja ela no deserto ou no cotidiano dos imigrantes. “É importante compreender que o mundo árabe é vivo, repleto de pessoas que vão à padaria, que passeiam no parque, criam seus filhos, partilham histórias”, explica Romero, ao apontar que nesta edição do evento, só serão lidos textos de autores árabes ou descendentes, e não poemas autorais dos declamadores, como em outras edições. O próprio vocábulo que dá título à reunião também significa conjunto de textos, indicando como a própria coletividade faz parte da compreensão e apreço da arte. “É interessante ver que mesmo aqueles que dizem não gostar de poesia, ao participarem de um evento como esse, saem comovidos pela beleza e riqueza das imagens ali apresentadas”, explica Romero. Seguindo a idéia de conjunto e reunião, Márcia Dib, coreógrafa e bailarina do grupo Mabruk!, apresentará um número de dança folclórica beduína, cuja característica é justamente os movimentos em círculos, o que reforça a idéia do coletivo. “Esse tipo de dança é mais denso, mais pesado”, explica Dib. Ela conta que o bailado narra o encontro de um jovem que volta a sua aldeia e a descobre deserta, sem a sua amada. “Mas não é um número triste, é sobre as alegrias que ele viveu ao lado dela”, observa. O folclore que será apresentado é bastante diferente da chamada dança do ventre exibida nos bares, restaurantes e festas, pois sua sensualidade é menos explícita e mais velada, congregando movimentos mais tensos e ligados à terra, ao chão. Além do repertório tradicional, o projeto EntreVentres, das bailarinas Leandra Yunis, Mariana Serafim e Sylvia Affonso-Silva, apresentará uma leitura contemporânea desse repertório, buscando compreender, à sua própria maneira, as imagens do mundo árabe. Marcado pela presença de Franciso Miraglia, K. Mahassen, Nabil Arida, Nael Qassis, Safa Jubran, Samia Arida, Soraia Makhamra e Wafah El Hage, importantes professores, pensadores e entusiastas da poesia árabe estarão reunidos no III Dîwân para celebrar uma herança cultural pouco divulgada pela mídia brasileira. “Poucos conhecem a forma de ver e sentir desse mundo, poucos sabem como esse povo traduz suas percepções e sensibilidade ao olhar o mundo”, explica Michel Sleiman, professor do departamento de Língua, Literatura e Cultura Árabe da Universidade São Paulo (USP). Para ele, compreender a linguagem e a forma com que os árabes, descendentes ou residentes, comunicam sobre suas vidas permite andar na contramão da exploração negativa da imprensa sobre o assunto. “A arte não fala só do fato político, fala também. Ao compreender o cotidiano, compreende-se o fator humano. Conseqüentemente, passa-se a entender o que acontece em determinada sociedade”, explica o professor, apontando que a poesia, a dança e outras linguagens transgridem barreiras e alcançam áreas de compreensão diferentes do discurso político ou filosófico. Romero, sem querer estragar as diversas surpresas da noite, adianta que será feita a recitação pela primeira vez de um texto de poeta iraquiano e uma homenagem aos quarenta anos de resistência da ocupação da Palestina pelas tropas israelenses. Para a bailarina Márcia Dib, a beleza do evento está justamente na troca entre as linguagens artísticas nele apresentadas. “O corpo traduz coisas que o verbal não pode dizer e a escrita narra estados e histórias que não podem ser representados com o corpo”, conclui.