Telas trazem um Oriente Médio mais próximo. E menos desconhecido
Mesa-redonda da quarta destaca o cinema como desmistificador da imagem estereotipada que é construída a respeito do Oriente Médio.O Instituto da Cultura Árabe, o Centro de Cinema Documentário e Experimental do Irã (Defc) e o Centro Cultural São Paulo promoveram, como parte da Mostra de Cinema “Imagens do Oriente”, o debate “Os cinema árabe e iraniano na atualidade”, na última quarta-feira, 14. Na mesa, estavam o diretor Massoud Bakhshi – também diretor de relações internacionais do Defc -, a presidente do Instituto da Cultura Árabe, Soraya Smaili, e o professor de cinema, especializado em produções iranianas, Reinaldo Cardenuto. Para aqueles que assistiram ao debate, uma coisa ficou muito clara: a mostra que vai até dia 22 de março é uma grande oportunidade, para a população brasileira, de conhecer de forma profunda e não estereotipada os conflitos que são gerados no dia-a-dia das sociedades do Oriente-Próximo, sejam árabes ou iranianas. Na abertura, Soraya destacou a proximidade das culturas que em parte foram colocadas no programa que é oferecido no Centro Cultural. Libaneses e palestinos (árabes) e iranianos partilham riqueza e conflitos culturais gerados em seus cotidianos, e a maneira com que são mostrados nas telas atraem porque formam um conjunto de informações que, em geral, pouco conhecemos. O cinema iraniano é uma febre e entra no bojo de informação que as pessoas buscam a respeito da região que seguidamente é alvo de guerras. E isso aumentou, tanto no caso dos países islâmicos, como o Irã, como no caso dos países árabes, como Líbano e Palestina – depois do 11 de Setembro. Massoud Bhakhshi enxerga um outro problema além da conjuntura geopolítica para o sucesso das histórias do Oriente-Próximo. Para ele, quando as pessoas precisaram entender e refletir sobre a região, não tinham informações e eram completamente ignorantes a respeito das culturas e das sociedades daqueles países. “A demanda por filmes vem da ignorância que se tem a respeito da situação do Oriente Médio, e de como esses filmes podem ajudar as pessoas a ter uma imagem mais real. A TV e a imprensa nos dão imagens e clichês. Eles fixam-se na mente e, assim, você passa a julgar os outros através desses clichês. Você não se aproxima, mas se afasta da verdade. O bom documentário te aproxima da verdade, não te dará as respostas, mas ajudará a fazer perguntas”. O diretor, que vive em Teerã, exemplifica o fato dando a dimensão da diversidade e do universo que o cinema iraniano especificamente tenta retratar. O país tem em seu território 63 línguas e, dependendo da região em que o filme foi produzido, é possível ver essa diversidade cultural nas telas. Reinaldo Cardenuto destacou a importância do cinema no sentido de revelar, de fazer enxergar a diversidade cultural de algo que, insistentemente, é retratado como distante de nós. Em filmes como a Guerra Infantil, produção iraniana sobre a Guerra do Golfo, são expostas as formas como as pessoas se relacionam e resolvem seus problemas familiares e de convivência social, mesmo sob o jugo da guerra. “O que vemos na mídia em geral são imagens de guerra e conflitos. Seja pela violência imposta pela presença da potência, como os EUA, ou então de conflitos internos. Há uma insistência nessas imagens. Uma mostra como essa dá o privilégio de assistir a uma realidade que é pouco mostrada e que é muito pouco problematizada. Toda imagem feita a respeito do Oriente Médio é feita de forma acrítica, seja ela positiva ou negativa”, explica Reinaldo.