Amin Maalouf conversa com leitores na Livraria da Vila
O encontro teve início com uma apresentação sobre o escritor realizada pela Dra. Safa Jubran, professora livre-docente em Língua, Literatura e Cultura Árabe da Universidade de São Paulo (USP). Safa fez um resumo dos livros que fazem parte da bibliografia do autor, como “As Cruzadas Vistas Pelos Árabes” e “O Périplo de Baldassare”.
Perguntado por ela sobre como entende o tema da identidade, um dos principais de “O Mundo em Desajuste”, e que permeia muitos de seus livros, Amin Maalouf respondeu: “Minha posição nesta questão é que a maioria é pressionada a assumir uma identidade ou uma única identidade. Não se pode resumir uma pessoa a apenas uma única identidade.” Ainda sobre este tema, o escritor lembrou sua própria trajetória: Amin, que vive fora do Líbano há 36 anos, é considerado um escritor libanês pela imprensa libanesa e um escritor franco-libanês pela imprensa francesa. “Mas não sou um ou outro. Ambas as vidas, no Líbano e na França, fazem parte de minha trajetória”, ressaltou.
Entre as perguntas feitas pelo público presente, algumas questões sobre Ocidente e Oriente. Amin Maalouf afirmou que não há um “choque de civilizações” entre os dois lados, porém, ambos encontram-se em crise. “Cada um dos lados não soube transmitir os seus valores para o outro.” Em relação à Primavera Árabe, cujo nome ele não considera feliz - prefere levantes ou sublevações árabes -, diz ser muito positivo esse pedido por participação democrática pelas populações dos diferentes países árabes.
Ele também respondeu sobre o seu país, o Líbano. “Costumo ir para lá, a cada dois ou três anos. Fico feliz ao ir e visito as cidadezinhas ao longo do caminho para minha cidade-natal. Mas eu não consegui trabalhar no Líbano e isso me incomoda.”
Segundo Michel Sleiman, presidente do Instituto da Cultura Árabe, o encontro reafirma a política cultural do ICArabe, que é o de aproximar, pela cultura, o Brasil e o universo multifacetado do mundo árabe. “Uma das vias de acesso mais privilegiadas é justamente a literatura, a ficção e a crítica, o pensamento ensaístico. Hoje, nós tivemos o Amin Maalouf, que pôde se debruçar sobre questões que perpassam toda a obra dele, tanto de ficção, como de não ficção, que é uma visão de revisão histórica, da visão que as pessoas têm do árabe e da visão que o árabe tem do mundo. Então é uma visão privilegiada que fica entre dois mundos.”
O encontro com Amin Maalouf encerra a atividade promovida pelo ICArabe na segunda, dia 8, com o poeta Adonis. “Hoje houve pontos de contatos entre as posições deles na necessidade de revisar a sociedade árabe, de levá-la a uma revolução de fato; a evolução de costumes, de valores e de política de convivência, de aceitação das diferenças, das mulheres, das minorias como fundamental para que haja a sonhada democracia. Então, eu acho que esse dois autores mostram que, nesse momento, a Primavera Árabe, que se levanta e se dá em várias partes do mundo, que ensaiam e apontam para uma troca de regimes, ainda é insuficiente. E chamam atenção para a necessidade de olhar esse processo com um pouco mais de crítica, porque a sociedade, em princípio, parece ter regredido no que se refere aos direitos humanos e a garantir que, com as mudanças, venham as mudanças sociais de base, para que a revolução de fato pegue os países árabes verticalmente também.”