Embarque para o Iraque!

Sex, 29/11/2013 - 08:05

A pesquisadora Cláudia Falluh Balduino Ferreira lança o livro 'Viagem ao Iraque', relato da viagem que fez ao país árabe antes da invasão. A obra resgata as riquezas da nação ainda inteira.Na década de 1980, a professora e pesquisadora de Literatura, Cláudia Falluh Balduino Ferreira, viajou ao Iraque para acompanhar o marido no Festival de Música e Artes da Babilônia. Aquele era o Iraque ainda sem invasão e a brasileira peregrinou por sítios arqueológicos, visitou museus e ficou maravilhada com a riqueza mesopotâmica e os tesouros da civilização que viu. Mas depois de ter acompanhado, de longe, o país sido arrasado por uma guerra e não ter conseguido fazer algo diante da situação, Ferreira resolveu resgatar a versão do país que conheceu pelas letras.

Foi assim que a estudiosa resolveu escrever o livro “Viagem ao Iraque”, um relato de viagem publicado pela Editora Kiron, de Brasília. A obra tem prefácio de Leonardo Boff e é narrada em primeira pessoa. “O foco de meu livro é mostrar em cenas distintas as várias regiões por onde passei, sua beleza, seu mistério, seu sofrimento e suas alegrias. São impressões sobre o país e seu povo, na intenção de mostrar o Iraque antes das destruições: um país prestes a dar o 'pulo do gato' nas relações internacionais, culturais, econômicas e humanas, quando é destruído por argumentos que jamais se comprovaram.”

A autora escreve sobre cidades, monumentos, encontros, rios, palácios, praças, mercados, arte, ruínas, mulheres e homens com os quais se encontrou. “Não, não se iluda o leitor em achar que é um canto lamuriento, chorão sobre um país que sofreu avarias de diversas naturezas. O povo iraquiano é durão, guerreiro e já passou por muitas guerras ao longo da história: o sentido maior é resgatar a impressão do mundo e das coisas e elevá–las através do relato poeticamente, para que não sucumbam ao esquecimento ou à indiferença. Daí a outra força deste livro: ter sido escrito por uma mulher, pois nas mulheres mora a tradição e a memória do sublime”, afirma Ferreira.

A brasileira resolveu escrever o livro porque ficou furiosa e desolada com a invasão do Iraque. “Como não pude pegar em armas (pobre de mim!), peguei caneta e papel e minha fúria me levou a fazer o livro”, conta. Ela se descreve como uma leitora e amante de relatos de viagem. “De Chateaubriand a Rugendas, de Jean de Léry a Caminha, de Spix e Martius a Darwin, de Isabelle Eberhardt à Alexandra David-Néel, sem falar é claro, do viajante mais fantástico de todos: o iraquiano Simbá o marujo! Chateaubriand é meu preferido e inspirada em suas narrativas fiz meu relato de viagem pelo Iraque.”

No Iraque, Ferreira peregrinou por sítios arqueológicos em regiões como Babilônia, Aqar Gulf, Nínive, entre outros. E afirma que quem a levou ao Iraque foi sua paixão pelas Mil e Uma Noites. “Quem sabe eu encontraria as sombras de Sherazade pelas ruas, ou [do califa] Haroun Al Rachid pelos corredores do seu antigo palácio. Ali dentro viajei de norte a sul, desde Curdistão até Bássora." Mas a professora não voltou ao Iraque pós-guerra. “Quem sabe um dia...”, diz.

A estudiosa levou alguns meses para escrever o livro, que foi concluído em 2010. Ela acredita que a obra terá procura por admiradores da cultura árabe e solidários ao Iraque. A ideia principal é mostrar o conteúdo aos brasileiros, mas ela não descarta a publicação no exterior. “Estou aberta à proposta de algum tradutor e de um editor árabes, que gostem das letras e sejam apaixonados por relatos de viagem, que venham a se encantar com o livro”, afirma Ferreira. A publicação atual tem 84 páginas e poderá ser comprada em breve no site da editora (www.editorakiron.com.br) e nas livrarias Cultura e Saraiva. Também será vendido como e-book, em formato digital.

Cláudia Falluh Balduino Ferreira é natural de Anápolis, no estado de Goiás, e se formou em Letras pela Universidade de Brasília (UNB). Ela é doutora em Literatura e atualmente trabalha na mesma instituição de ensino em que se formou como professora de Literatura Francesa, Crítica Literária e Literatura Magrebina de Expressão Francesa. A sua pesquisa acadêmica tem como foco a literatura e o sagrado, a espiritualidade e as religiões, principalmente no âmbito da literatura magrebina islâmica, além das relações da literatura com a arte sagrada no mundo ocidental e oriental.

Escritora é descendente de sírios

A escritora é descendente de sírios. Os avós eram de Bassir, sul da Síria, e vieram para o Brasil em 1926. “Cresci influenciada pelas histórias da família, contadas pelos meus avós”, diz. Na vida adulta, Ferreira viajou pelo mundo árabe, para países como Líbano, Síria, Marrocos, além do Iraque. Assim como ocorre com grande parte dos descendentes, ela foi buscar o mundo mágico sobre o qual haviam lhe contado.

“Muito dele já não existe mais. O mundo árabe, assim como o resto do planeta, está mudando a uma velocidade estupenda. Porém, é inegável que quando lá estamos recuperamos algo ancestral, algo de imortal e de belo, que é o traço imaculado das origens e que só compreendemos lá. É como se nossa natureza interna nos dissesse: ‘Oh, agora compreendo... (aquele sentimento, aquela percepção da vida, dos homens, da essência de nossos pensamentos e sensações, daquelas profundezas inexplicáveis e diferentes de todos que me cercavam)’”, afirma Ferreira.

A opção pela profissão teve relação com a origem árabe da pesquisadora. Além do trabalho na UNB, Ferreira tem um blog, Literatura Magrebina Francófona, que é também uma vitrine do grupo de pesquisas que ela lidera na universidade. O objetivo do blog, segundo a estudiosa, é abrir para o público brasileiro a visão sobre os mundos africanos árabes do norte.


Viagem ao Iraque
Autora: Cláudia Falluh Balduino Ferreira
Páginas: 84
Editora: Kiron