Outros destaques foram a reconstrução de Beirute e seção para esclarecer pessoas sobre o preconceito com relação ao Islã
Beirute, capital do Líbano, e Palestina foram dois temas que tiveram destaque na Mostra. A reconstrução da cidade de Beirute ganhou uma exposição de fotos onde se mostrava o antes, com as construções em ruínas, e o depois, a cidade posta novamente em pé. Já a Palestina ganhou outra abordagem. Sabidamente uma terra fracionada, dividida e ocupada, a Mostra preferiu construir um olhar mais sutil e trazer formas cotidianas da cultura da região. Um exemplo foram dois vestidos expostos que datavam de mais de cem anos e se encontravam em meio a uma placa que lembrava da possibilidade da construção de uma terra palestina. No domingo, o espetáculo de encenação com poesias palestinas simbolizou uma possível reconstrução para os povos árabes. Ali el Khatib, organizador do evento, acredita que o espetáculo “era a representação desse momento que alternava tristeza e alegria entre uma família libanesa e outra palestina. Essa reconstrução só é possível com a fibra de um povo milenar”. ÁRABE NÃO É ISLÂMICO – Parte da Mostra também procurava esclarecer talvez uma das maiores confusões que se faz quando se fala da cultura árabe. Em uma das partes da aldeia simulada, vídeos de especialistas sobre o islamismo e esclarecimentos sobre a religião. Hadi a. Khalifa nasceu na Líbia, mas, depois de formar nos Estados Unidos, na década de 80 veio para o Brasil fazer sua pós-graduação na Unicamp. Hoje ele dá aula de eletrônica e matemática por aqui. Ele é muçulmano e diz que a religião do islã no Ocidente é pouco conhecida, principalmente porque os relatos que a descrevem são feitos por escritores que não são da região do Oriente Médio ou que não tem uma ligação maior com o islamismo. “A maioria das pessoas quer saber como é a oração, como é Deus para nós, como é a questão da mulher, que é uma coisa muito polêmica, mas também informada com muita ignorância. Como é o conceito de adoração e como se diferencia para as outras religiões”. Para ele, também há um sensacionalismo na cobertura da imprensa sobre a região e qualquer manifestação do Oriente Médio. “A cobertura não é equilibrada, não existe imparcialidade que analise os fatos. Na questão Palestina, por exemplo, só mostram um lado. Não menciona, por exemplo, que 7000 judias se casaram com árabes-palestinos. Que existem judeus comunistas que são contra o Estado de Israel e que muitos foram consultores de Arafat. Só mostram o conflito quando tem bomba explodindo”. Hadi é parado a todo o momento por pessoas que lhe pedem informação. Atencioso com todos, faz questão de não deixar ninguém sem resposta. Um conhecido se aproxima e lhe mostra sua mais recente aquisição na feira da Mostra. É um instrumento musical, segundo Hadi, usado pelos beduínos da Jordânia. O conhecido se afasta e continuamos a conversa. Ele tira o sapato e pisa no tapete que simula o chão de uma mesquita. Os tapetes todos estão virados para Meca. “Outro problema quanto ao Islã é que as pessoas confundem o ser islâmico com o ser árabe. Muitos perguntam, por exemplo, e querem saber se o Irã é árabe. As pessoas confundem”, explica Hadi. CULTURA ISLÂMICA ENTRE AFRODESCENDENTES – Hadi faz questão que converse com seu companheiro que também cuida da seção do Islã da Mostra. Brasileiro, Jorge Luiz Florêncio se converteu em 1997 ao islamismo. Era um católico não muito fervoroso. Ele lembra que, se a cultura árabe chegou ao Brasil através de portugueses e espanhóis, e depois com a migração de sírios e libaneses, as manifestações culturais da região também chegaram ao Brasil através da influência de escravos muçulmanos. "Os afrodescendentes têm essa influência muçulmana e não sabem. Tem uma praia em Pernambuco chamada Canoa Quebrada. Ali, tem um sinal do crescente vermelho que as pessoas acham que é uma coisa mística, mas estão ali por causa dos povos que chegaram ali como escravos. As pessoas acham que só escravos de Angola e Moçambique vieram ao Brasil, mas os franceses e holandeses, quando faziam as invasões no Brasil, traziam escravos do Egito e da Arábia Saudita”.