ICArabe debate a mulher palestina sob a ocupação
Atendendo a chamado global, o ICArabe (Instituto da Cultura Árabe), por intermédio de seu Núcleo de Estudos sobre a Mulher Árabe, em parceria com o Mopat (Movimento Palestina para Tod@s) e a OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes, realizou com o apoio da Matilha Cultural, no dia 10 de fevereiro uma atividade para dar visibilidade à violência que a mulher palestina vivencia por parte da ocupação sionista. A iniciativa, que reuniu cerca de 60 pessoas, contou com a exibição de dois vídeos seguidos de contextualização histórica, feita pela jornalista, diretora de Imprensa e Divulgação do ICArabe e membro do Mopat, Soraya Misleh, e debate.
Ao longo da atividade, ela relatou diversos casos de arbitrariedades e violência cometidos contra mulheres palestinas pelas forças de ocupação. “O que motivou a realização dessa atividade, por exemplo, foi a morte de uma mulher de 34 anos intoxicada por gás lacrimogêneo durante um protesto, em dezembro do ano passado”, explicou Soraya. Segundo a jornalista, além das agressões diretas, as palestinas sofrem humilhações em checkpoints e cerceamento da liberdade de ir e vir (que, em 2004, fizeram com que 70 mulheres tivessem seus filhos em checkpoints, causando a morte de 5 delas e de 35 crianças), entre outros relatos de tortura, abuso sexual, físico e psicológico.
“As mulheres têm papel histórico na resistência palestina, participando ativamente da luta por suas terras e na reconstrução de seus territórios. Na Palestina, 90% das mulheres têm escolaridade, enquanto 10% é chefe de família. Por outro lado, são elas que mais sofrem em situações de conflito armado, lá e em qualquer lugar do mundo, pois são mais vulneráveis à violência sexual e estão sujeitas a agressões como o impedimento de terem seus filhos com dignidade. Em 2004, havia 115 presas políticas na região. Atualmente 34 ainda estão nessa situação”, relatou Soraya Misleh.
Segundo Fernanda Campagnucci, jornalista que visitou a Palestina em 2007, as mulheres são muito organizadas e criaram diversas associações, apesar da mídia constantemente apresentá-las como subjugadas . Ela relatou casos de presas que não tiveram direito a julgamento, e que foram torturadas cruelmente. “Algumas delas foram detidas devido à atividade política dos maridos”, disse, ressaltando a participação das mulheres nos governos árabes, inclusive no do Hamas.
Maria Helena, do Cine Mulher, lembrou que as histórias dos conflitos armados nunca registram a importância da participação das mulheres, “no entanto elas também lutam e morrem em grande número, mas ninguém fica sabendo e a foto do mártir é sempre masculina. É para isso que também precisamos chamar a atenção”, reclamou ela.
Soraya Smaili, diretora Científica e Cultural do ICArarbe, Soraya Smaili, diretora Científica e Cultural do ICArarbe, lembrou a forte participação das mulheres nas manifestações e atos públicos não só na Palestina, mas em todo o mundo árabe. "As mulheres vão às manifestações no Líbano, na Tunísia, por exemplo. No Egito também são super atuantes e estavam na praça Tahrir" , disse. Além da participação em mobilizações e da luta cotidiana na resistência à ocupação, as palestinas têm desenvolvido ainda outros meios para enfrentar as arbitrariedades e violência sexista. Um deles é a organização de times de futebol. Por meio do esporte, as mulheres levam a questão Palestina para o mundo e desafiam a ocupação e o machismo.