Mohamed Habib participa da abertura do Congresso do ANDES-SN e fala sobre a democracia no Oriente Médio
"Os países do Oriente Médio não são democráticos porque isso não interessa ao imperialismo ocidental. Quanto mais democrática e livre é uma sociedade, mais ela participa dos processos decisórios e busca decisões mais justas para todos. Um país desenvolvido jamais vai exportar energia ou água. Irá exportar material com valor agregado, o que não interessa para o ocidente/capitalista".
Para o egípcio, é de extrema importância que uma entidade com o ANDES-SN se debruce sobre o assunto. "Nós professores, intelectuais, temos o desafio de não apenas contar o que se passa hoje no Oriente Médio, mas de explicar porque isso se passa", justificou.
Segundo ele, desde o início da revolução industrial, o mundo se tornou bipolar. "Há os povos que dominam e se apropriam do conhecimento, e os povos que fornecem matéria prima e mão de obra baratas para os primeiros. Esses últimos são 80% e incluem o Oriente Médio, tradicional fornecedor de petróleo, de energia, cravado numa região estratégica e de grande importância geopolítica".
Mohamed Habib lembra que há um outro fator que condiciona a importância da região para o Ocidente, que é a presença do Estado de Israel. "Desde a 1 Guerra Mundial, o Oriente Médio sofre influências negativas para atender as demandas que lhe foram impostas pelo ocidente. O Egito, por exemplo, perdeu sua autonomia, ficou sujeito a governantes autoritários que, independente dos regimes, se sustentaram a partir de normas que mantinham a sociedade desorganizada e utilizavam a corrupção e o nepotismo como instrumento de controle e opressão".
Organização popular
De acordo com Habib, as recentes revoltas registradas na Tunísia, no Egito, Argélia e Iêmen, embora tenham tido um caráter inicial espontâneo, demonstram que, apesar dos muitos anos de ditadura, os povos árabes ainda estão articulados para lutar por seus direitos de forma pacífica e civilizada.
"No Egito, em especial, os jovens sempre foram a energia nos processos de luta contra a opressão. As universidades e escolas secundaristas sempre foram palcos desses movimentos", afirmou, acrescentando que, no caso da revolução atual, eram justamente esses jovens os que mais tinham motivos para lutar contra o regime.
"Há cinco anos, nenhum universitário formado no Egito consegue emprego no país. A economia está parada, abalada pela corrupção. Quase metade da população (42%) vive abaixo da linha da pobreza. Enquanto isso, a família do ditador Mubarak acumulou uma fortuna estimada em U$S 70 bilhões", denunciou.
Mohamed Habib está esperançoso com a revolução que, primeiro, varreu a ditadura da Tunísia, depois chegou ao seu país, e, agora, continua, em efeito dominó, a inspirar mobilizações em outros países como Argélia e Iêmen. Conforme ele, as forças armadas do Egito têm uma história diferente das da América Latina. Elas integraram-se com os anseios populares e, por isso, têm legitimidade para conduzir o país até as eleições democráticas previstas para outubro.
"As novas tecnologias como a internet e o celular tiveram papel fundamental nessa revolução, porque espalharam rapidamente para o mundo o que acontecia no Egito. Precisamos, agora, que o mundo continue apoiando as revoltas do mundo árabe, para que as populações do oriente médio possam viver com mais democracia e liberdade".
Fonte: ANDES-SN