Mohamed Habib participa da abertura do Congresso do ANDES-SN e fala sobre a democracia no Oriente Médio

Sáb, 19/02/2011 - 20:24
A democratização do Oriente Médio é um tema que precisa constar na agenda de todas as organizações progressistas do mundo, defende o egípcio radicado no Brasil Mohamed Habib, pró-reitor da Unicamp e vice-presidente do ICArabe, que participou da abertura do Congresso do ANDES-SN com o objetivo de conduzir uma reflexão sobre os movimentos populares em curso naquela região do planeta.

"Os países do Oriente Médio não são democráticos porque isso não interessa ao imperialismo ocidental. Quanto mais democrática e livre é uma sociedade, mais ela participa dos processos decisórios e busca decisões mais justas para todos. Um país desenvolvido jamais vai exportar energia ou água. Irá exportar material com valor agregado, o que não interessa para o ocidente/capitalista".

Para o egípcio, é de extrema importância que uma entidade com o ANDES-SN se debruce sobre o assunto. "Nós professores, intelectuais, temos o desafio de não apenas contar o que se passa hoje no Oriente Médio, mas de explicar porque isso se passa", justificou.

Segundo ele, desde o início da revolução industrial, o mundo se tornou bipolar. "Há os povos que dominam e se apropriam do conhecimento, e os povos que fornecem matéria prima e mão de obra baratas para os primeiros. Esses últimos são 80% e incluem o Oriente Médio, tradicional fornecedor de petróleo, de energia, cravado numa região estratégica e de grande importância geopolítica".

Mohamed Habib lembra que há um outro fator que condiciona a importância da região para o Ocidente, que é a presença do Estado de Israel. "Desde a 1 Guerra Mundial, o Oriente Médio sofre influências negativas para atender as demandas que lhe foram impostas pelo ocidente. O Egito, por exemplo, perdeu sua autonomia, ficou sujeito a governantes autoritários que, independente dos regimes, se sustentaram a partir de normas que mantinham a sociedade desorganizada e utilizavam a corrupção e o nepotismo como instrumento de controle e opressão".

Organização popular

De acordo com Habib, as recentes revoltas registradas na Tunísia, no Egito, Argélia e Iêmen, embora tenham tido um caráter inicial espontâneo, demonstram que, apesar dos muitos anos de ditadura, os povos árabes ainda estão articulados para lutar por seus direitos de forma pacífica e civilizada.

"No Egito, em especial, os jovens sempre foram a energia nos processos de luta contra a opressão. As universidades e escolas secundaristas sempre foram palcos desses movimentos", afirmou, acrescentando que, no caso da revolução atual, eram justamente esses jovens os que mais tinham motivos para lutar contra o regime.

"Há cinco anos, nenhum universitário formado no Egito consegue emprego no país. A economia está parada, abalada pela corrupção. Quase metade da população (42%) vive abaixo da linha da pobreza. Enquanto isso, a família do ditador Mubarak acumulou uma fortuna estimada em U$S 70 bilhões", denunciou.

Mohamed Habib está esperançoso com a revolução que, primeiro, varreu a ditadura da Tunísia, depois chegou ao seu país, e, agora, continua, em efeito dominó, a inspirar mobilizações em outros países como Argélia e Iêmen. Conforme ele, as forças armadas do Egito têm uma história diferente das da América Latina. Elas integraram-se com os anseios populares e, por isso, têm legitimidade para conduzir o país até as eleições democráticas previstas para outubro.

"As novas tecnologias como a internet e o celular tiveram papel fundamental nessa revolução, porque espalharam rapidamente para o mundo o que acontecia no Egito. Precisamos, agora, que o mundo continue apoiando as revoltas do mundo árabe, para que as populações do oriente médio possam viver com mais democracia e liberdade".

Fonte: ANDES-SN