“Povo egípcio espera por mudanças após três gerações sob ditaduras”
O professor Mohamed Habib, vice-presidente do ICArabe e professor da Universidade Estadual da Campinas (Unicamp), acredita que Mohammed Mursi, da Irmandade Muçulmana, sairá vitorioso. “Após três gerações sob ditaduras, o que resultou em 47% da população abaixo da linha da pobreza e a classe média vivendo sob forte dificuldade, acredito que essa parte da população egípcia não teria votado em Ahmed Shafiq”, afirma.
Para Habib, o que ocorrer no Egito terá repercussões em outras revoltas e levantes no mundo árabe. “Uma vitória de Mursi e um Egito democrático não seriam interessantes a países, como, por exemplo, da Península Arábica, nem a Israel. Como também não seriam interessantes para os Estados Unidos ou Europa.”
Na última segunda-feira (18), tanto Mursi, do partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, quanto Shafiq, militar aposentado e ligado ao antigo regime, declararam-se vencedores. No dia 14, a Junta Militar que tem governado o Egito desde a queda de Hosni Mubarak, dissolveu o Parlamento, formado em sua maioria por deputados ligados à Irmandade Muçulmana. Esses reafirmaram transferir o governo ao presidente eleito, porém o Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) sofre forte desconfiança por parte da população egípcia, principalmente por causa do fechamento da Câmara dos Deputados e do “golpe constitucional” ocorrido domingo (17), com clara motivação de diminuir os poderes do presidente escolhido e de manter a autonomia das forças militares.
Segundo o porta-voz da Irmandade Muçulmana, Ahmed Rabia, “todas as forças revolucionárias têm que deixar claro à Junta Militar que não vão permitir que tomem o poder. Que rechaçam a dissolução do Parlamento e que quando Mursi for presidente o Parlamento seguirá funcionando”. O porta-voz de Mursi, Yasser Ali, explica que “não buscamos nenhum confronto; ninguém no Egito quer confronto”