Espetáculo teatral Salamaleque ganha nova temporada em São Paulo

Ter, 20/01/2015 - 11:15
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Elizete, neta de imigrantes árabes, apresenta as histórias de seus avós e bisavós, durante o preparo de receitas árabes, na cozinha da sua infância. Esta é a sinopse do espetáculo Salamaleque da Cia. Teatral Damasco, que reestreia neste sábado, dia 24 de janeiro, na capital paulista. Contemplado na primeira edição do Prêmio Zé Renato de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura, realizada em 2014, a peça ficará três meses em cartaz, com apresentações gratuitas, no Instituto Cultural Capobianco.

Segundo a idealizadora do projeto, a atriz Valéria Arbex, que interpreta a personagem Elizete, a premiação simboliza uma grande conquista para os artistas independentes e companhias de teatro da cidade de São Paulo. Foram 24 projetos selecionados entre 316 inscritos. “Para nós, é um reconhecimento da nossa Cia e da relevância do tema abordado na peça: a memória, o resgate de cartas de amor, a importância da imigração árabe para o Brasil, e a difusão da cultura árabe”, ressalta Valéria, que fundou a Cia Teatral Damasco em 2010.

Para ela, o Prêmio, que contempla espetáculos inéditos e temporadas de peças que já estrearam, estende o apoio aos grupos, e ao cenário teatral de São Paulo. “Acredito que assim podemos trabalhar a formação de público, a democratização dos recursos culturais na nossa cidade”, diz. “É uma luta sem fim, mas estamos avançando. A aprovação do Prêmio foi um importante passo para o teatro”.

Expectativas

Apostando no horário alternativo das 16h, a companhia espera atingir um público diferenciado, incluindo a terceira idade. Além disso, o fato de a temporada ser gratuita, de acordo com Valéria, possibilita a democratização do acesso ao teatro. A peça contará com seis sessões voltadas para cegos e surdos e para atender as necessidades deles na compreensão do espetáculo, haverá tradução de libras e visita tátil. “Acreditamos que a linguagem cênica do Salamaleque - o cenário é uma cozinha e o público fica próximo da mesa central - abre a possibilidade de uma experiência sensorial reflexiva e de troca entre intérprete e público”, pontua.

Após o espetáculo, os espectadores são convidados a permanecer no cenário e degustar a ceia árabe ao redor da mesa. “Nesse momento de compartilhar o alimento, desnuda-se relatos lindos e ricos por parte do público de todas as ascendências. Todos nós tivemos uma avó ou bisavô que chegou em um navio em terras brasileiras. A comida tem esse poder de nos trazer a memória familiar”, reflete. “A mesa, a memória afetiva, a resistência de costumes, por meio da comida, pertence a todos os povos. Por isso chamamos o nosso espetáculo de ‘encontro’”, acrescenta. O "novo" gênero foi batizado pelos diretores de Salamaleque Kiko Marques e Denise Weinberg.

Durante o ano de 2014, Valéria e sua companhia viajaram por algumas cidades do interior como Ribeirão Preto e Presidente Prudente, em São Paulo, e São João da Barra, no Rio de Janeiro. A intenção é levar o espetáculo para diferentes regiões do país. “Estamos tentado via editais e leis de incentivo, esperamos conseguir em breve ‘mascatear’ com o `Salamaleque´ pelo Brasil. Fico pensando que isso iria nos levar a novos relatos de todos os cantos do nosso país, material riquíssimo e importante para dar continuidade a nossa pesquisa”.

Apresentação internacional

No final de 2014, a Cia. Teatral Damasco representou o Brasil na abertura do 8º Festival International du Théâtre Universitaire de Tanger 2014, no Marrocos, a convite de Silvia Antibas, responsável pela área cultural da Câmara do Comércio Árabe Brasileira. A experiência de conhecer um país árabe, segundo Valéria, foi surpreendente, única e profunda. “Nunca tinha passado pela minha cabeça que o Salamaleque nos levaria para tão longe”, comemora a atriz, que na ocasião se apresentou para uma plateia de 400 pessoas. “Foi muito emocionante estar diante de uma plateia, na sua maioria árabe, ouvindo a minha história familiar, um recorte da imigração árabe no meu país.

De acordo com ela, levar o teatro brasileiro para um país árabe abre uma importante porta para os festivais dos países do Oriente. “É algo novo para nós, artistas do Brasil”, diz ela. “O intercâmbio cultural, a oportunidade de assistir outras linguagens de países como Líbano, Marrocos, Tunísia, Estônia, França, Itália e Egito, isso é muito rico”. Essa troca, que só os festivais e mostras proporcionam, acrescenta Valéria, é outra grande riqueza da viagem.

Os dias que passou no país deram para Valéria a oportunidade de reconhecer características da peça que criou. As imagens que faziam parte do imaginário da atriz sobre o mundo árabe estavam diante dos seus olhos. “Ouvir a língua, provar a comida, receber a gentileza dos marroquinos, andar por Medina e viver de forma tão intensa a cultura deles deu um sentido diferente para mim como atriz e como neta de árabes”, revela.

Da curiosidade sobre sua ascendência despertou a criatividade, que gerou frutos. “Eu sempre busquei esse hiato”, diz ela. “Salamaleque surgiu pela minha inquietude, pela saudade do meu avô que não conheci, pelas cartas que herdei”, conta Valéria, que criou o espetáculo a partir da pesquisa de 68 cartas de amor trocadas entre os avós dela, nos anos 1930. Eles eram naturais de Yabroud, interior de Damasco, Síria. “Nesse ponto o teatro é generoso e acolhedor, devolve e dá sentido às questões pessoais e, ao mesmo tempo, compartilha”.

 

Ficha Técnica 

Idealização do projeto: Valéria Arbex

Realização e Coordenação Artística: Cia.Teatral Damasco

Direção: Denise Weinberg e Kiko Marques 

Dramaturgia: Alejandra Sampaio e Kiko Marques

Atriz: Valéria Arbex 

Cenografia e figurinos: Chris Aizner 

Trilha sonora original: Sami Bordokan

Iluminação: Guilherme Bonfanti 

Fotos: Lenise Pinheiro

Consultoria gastronômica: Graziela Scorvo Tavares 

Cenotécnico: Mateus Fiorentino

Produção: Carol Vidotti, Rosana Maris e Lotus Produções 

Produção de formação de público: Patrícia Gordo

Assessoria de imprensa: Fernanda Teixeira / Arteplural 

Projeto gráfico e ilustrações: Aida Cassiano

Glossário árabe / português: Mamede Jarouche 

Operação de som e luz: Fernanda Guedella 

Supervisão Luz: Adriana Dham

 

Serviço:

Reestreia do espetáculo “Salamaleque”

De 24 de janeiro a 26 de abril, sábados e domingos, às 16h 

Instituto Cultural Capobianco - Rua Álvaro de Carvalho, 97 – Centro. 

Telefone: (11) 3237 1187. 

Duração: 60 minutos

Capacidade: 40 lugares. 

Classificação: 12 anos. 

Informações e reservas: 11 97499 4243 - email:ciateatraldamasco@gmail.com

Entrada gratuita. A bilheteria abre com uma hora de antecedência.