18ª Mostra Mundo Árabe de Cinema trouxe visão única sobre questões socioculturais da região
A mostra foi realizada pelo Instituto da Cultura Árabe – ICArabe, em correalização com o Sesc São Paulo, entre os dias 31 de agosto a 6 de setembro
A 18ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, realizada entre 31 de agosto a 6 de setembro pelo Instituto da Cultura Árabe – ICArabe, em correalização com o Sesc São Paulo, trouxe dez filmes inéditos e um espaço para importantes debates sobre questões sociais e culturais do mundo árabe. Sob a curadoria de Arthur Jafet e com direção cultural de Soraya Smaili, esta edição se encerrou com salas lotadas no CineSesc.
Em homenagem aos vinte anos da morte do autor e professor palestino Edward Said, a mostra apresentou filmes com foco na temática social, abordando questões políticas e sociais. Arthur Jafet, o curador da mostra, afirma que todos os filmes e diretores se destacaram nesta edição. "Sempre a gente procura trazer filmes de grandes diretores, que despontam pela juventude, pela sua vontade de desafiar o status quo social e político. E a temática envolveu, desde a ocupação israelense sobre os territórios palestinos, até questões sociopolíticas do Líbano Contemporâneo e do Iraque. Nós tivemos também um drama histórico muito interessante que se passa na Argélia, A última rainha."
O filme A última Rainha, dirigido por Damien Ounouri e Adila Bendimerad e exibido inédito na Mostra, estreou em 14 de setembro no circuito nacional, com distribuição da Imovision. O protagonismo histórico feminino é retratado através da lenda histórica da rainha Zaphira, na Argélia de 1516, que enfrenta o corsário Aroudj Barbarossa, suspeito de assassinar o rei após libertar Argel da invasão espanhola. Apesar da existência real da Zaphira não ter sido comprovada, o longa retrata um momento histórico da região, quando o Império Otomano conquista a região.
Também retratando o protagonismo feminino, “Ventre Materno”, exibido na abertura da Mostra, retrata três irmãs da sociedade cristã no Líbano de 1958. Foi tema de debate com Thiago Mendonça, diretor e crítico de cinema, Yanet Aguilera Viruez Franklin de Matos, Professora Dra. de História do Cinema, e mediação de Isabelle Somma, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais (Nupri-USP) e diretora do Instituto da Cultura Árabe.
A tradicional mostra de cinema também realizou um debate sobre a questão palestina, comentando os filmes “Bir’em” e “Uma casa em Jerusalém”. A mediação foi de Gil Rodrigues, jornalista e membro do Conselho Cultural do ICArabe; com a participação de Soraya Misleh, diretora cultural do ICArabe, jornalista palestino-brasileira e autora do livro "Al Nakba – um estudo sobre a catástrofe palestina," e a cineasta Lina Chamie. “Bir’em”, dirigido por Camille Clavel, se passa na Galileia, quando uma garota palestina decide voltar para a aldeia de sua família, destruída durante Nakba, criação de Israel em 1948. “Uma casa em Jerusalém”, dirigido por Muayad Alayan, onde uma garota judia-britânica se muda para Jerusalém, mas encontra o fantasma de uma menina palestina separada de sua família.
A decisão de realizar a mostra de forma presencial após edições anteriores ocorridas virtualmente ou em formato híbrido provou ser um sucesso, proporcionando ao público a experiência de assistir a filmes árabes em uma atmosfera de cinema tradicional.
"Tivemos um recorde de público mais uma vez, com as salas sendo retomadas, algo que tem sido muito expressivo para o CineSesc. Desde o final da pandemia, e diríamos até que em momentos anteriores à pandemia, a sala este ano atraiu uma quantidade significativa de espectadores”, ressalta Jafet.
Ele também citou os desafios de realizar um evento presencial em um cenário onde o streaming está em ascensão. "De certo há muitos desafios, que são cada vez maiores, principalmente por conta do streaming. Por isso nós temos a preocupação de exibir filmes que não estão em streaming, todos inéditos no Brasil."
Quanto ao futuro da Mostra Árabe de Cinema, Jafet expressa seu desejo de continuar com o projeto e manter o compromisso de enriquecer o cenário cinematográfico brasileiro com filmes árabes de destaque.
Com o sucesso, as perspectivas para as edições futuras permanecem otimistas, prometendo continuar a oferecer ao público brasileiro uma visão única do cinema árabe e fortalecer o diálogo cultural, permitindo ao público aprofundar sua compreensão das questões sociais e culturais da região.