Casa Árabe da Espanha dedica programação especial ao Brasil

Qua, 29/09/2010 - 11:37
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Entre os dias 4 e 8 de outubro, a Casa Árabe da Espanha, sediada em Madri, realizará o ciclo “Árabes do Brasil”, como parte do Festival VivAmérica, que a instituição realiza todos os anos. A ideia principal do ciclo é levar ao público madrilenho a diversidade e importância das comunidades árabes na trajetória recente no país. O evento ocorre com o apoio do Instituto da Cultura Árabe, da Universidade de São Paulo, da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, da Câmara de Comércio Brasil-Espanha e do Experimentaclub.

O programa inclui desde palestra sobre a exploração de novos vínculos comercias triangulares (Brasil, Espanha e países árabes), até a literatura, passando pelos experimentos multiculturais da música eletrônica. “Neste último caso, estamos, pelo segundo ano consecutivo, colaborando com o festival de música experimental de Madri para juntar um músico brasileiro, Livio Tragtenberg, com um libanês, Tarek Atoui”, conta Karim Hauser, coordenador do programa Arabia Americana da Casa Árabe de Madri. “Árabes no Brasil” contará também com a exibição de quatro longas-metragens que comporão o ciclo de cinema “Árabes na América”. As películas giram em torno das experiências dos imigrantes árabes no continente americano, não penas em distintos momentos históricos, mas em distintos formatos (ficção e documentário). “O resultado é um mosaico que vai desde ‘Reel Bad Arabs’, uma investigação minuciosa sobre a imagem dos árabes nas produções de Hollywood, até ‘Lavoura Arcaica’, que conta a história de uma família libanesa que vive no Brasil rural em meados do século XX, filme baseado no romance de Raduan Nassar”, completa Karim. (Veja a programação completa abaixo e faça o download no folder no fim da matéria).

"Os caminhos do mascate"

Entre as atrações do ciclo “Árabes do Brasil”, vale destacar a exibição do documentário, produzido pela própria Casa Árabe, "Os caminhos do mascate", dirigido pelo espanhol José Luis Mejias, que passou um mês no Brasil entrevistando descendentes de árabes. “Minha intenção é expor a integração que ocorreu no país entre os imigrantes e as comunidades locais. Mostrar que atualmente essas pessoas não são nada diferentes dos descendentes de europeus que também vivem lá”, conta. Mejias acredita que no imaginário ocidental, principalmente na Europa, onde há o impacto de um grande número de imigrantes recentes, o mundo árabe é estancado, antigo e fanático.

De alguma maneira, a realidade no Brasil contraria toda essa ideia, por isso o diretor coloca em seu filme entrevistas com descendentes de árabes de diversas regiões do país que trabalham em áreas diferentes. Entre eles estão o escritor Milton Hatoum, os professores universitários e pesquisadores Soraya Smaili e Michel Sleiman, o músico Sami Bordokan, entre outros. Para desenvolver o trabalho, ele procurou evitar um “olhar classificador”, estereotipado, como o que liga o árabe apenas às relações de comércio, “o homem da feira e da pechincha”, explica Mejias. Apesar disso, ele não pretende se desfazer da figura do mascate, mas sim resgata-la e mostrar suas contribuições positivas para o comércio brasileiro, para a indústria e também para a política.

“A integração é possível, é saudável e traz uma série de benefícios às culturas envolvidas. Hoje, todas essas pessoas, apesar de manterem relações com suas origens, se consideram brasileiras”, complementa. 

Karim Hauser concorda e afirma que a Europa e o Ocidente em geral podem se beneficiar das distintas experiencias de integração e multiculturalismo dos países americanos. Nesse sentido o Brasil é, para muitos analistas, um caso exemplar. “Investigamos esse tema anteriormente com a publicação de dois livros (Os árabes na América Latina e Contribuições árabes às identidades ibero-americanas), mas sentíamos que uma temática tão vasta como esta, que abarca os âmbitos econômico, político e social – sem contar os inumeráveis matices de sons, cores, texturas que têm lugar no processo de mestiçagem e diversidade – precisava de um veículo que fizesse justiça a essa riqueza cultural”, explica. Nesse caso, ele afirma que a linguagem audiovisual tem essa capacidade, já que consegue transmitir uma mensagem de forma contundente e assim deixar uma marca nos que assistem. Segundo Karim, a ideia, mais adiante, é legendar o filme em árabe para levá-lo ao oriente Médio.

Segundo o coordenador, o programa Arábia Americana divulgou em Madri outros trabalhos relacionados aos imigrantes árabes na América. Entre eles estão as Jornadas colombo – árabes, em 2008, e o seminário “Árabes nas duas Américas”, em 2009, que tratou da presença desses imigrantes também nos Estados Unidos e Canadá. “O fato é que o Brasil se destaca por seu peso demográfico das comunidades de origem árabe, principalmente em São Paulo, mas também pela influência que tiveram na cultura brasileira”, explica Karim. Ele cita, por exemplo, a esfiha como uma das comidas mais populares no Brasil, bem como a grande quantidade de deputados federais e senadores com ascendência árabe.

José Luis Mejias e o Brasil

Com 36 anos, Mejias mora em Madri e é formado em Economia e Administração de empresas, tendo experiência com atividades na área de marketing e economia social. Aos 32 anos ele viajou para países da Ásia e acabou se interessando pela fotografia. Aos poucos começou a elaborar projetos próprios, adotando um olhar antropológico. “Isso quer dizer que procuro ver outras culturas de forma comum. Para mim, ‘o diferente’ não é exótico e estar num lugar que não é o meu, também não é uma aventura”, diz o fotógrafo.

Assim, a reflexão antropológica tem norteado os seus trabalhos. Em 2009 ele venceu um concurso promovido pela Casa Ásia, na Espanha, e recebeu financiamento para viajar ao oeste da China, onde ficou dois meses fotografando e estudando comunidades nômades que vivem na região.

Além das fotos, seus trabalhos também incluem textos. "Neles procurei ironizar esse olhar típico do Ocidente sobre as outras culturas. Um olhar que dramatiza e que coloca o outro como estranho e extravagante”, argumenta. Ele diz ainda que suas fotografias são voltadas ao público geral. “Não faço fotojornalismo e meu estilo não combina com as galerias de arte. Minha arte é popular, contemporânea e tem intenção divulgativa”, classifica.

Ainda em 2009, ele veio ao Brasil, para o Estado do Maranhão, desenvolver um projeto sobre festas juninas. “Aproveitei e inclui no trabalho a questão da miscigenação”, conta. Mejias esteve pela primeira vez no país em 2006, quando veio conhecer Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Agora, o fotógrafo tem em mente desenvolver no Brasil um projeto que relacione a cultura árabe e o samba no país. “

Programa Arábia Americana

O Programa Arábia Americana da Casa Árabe foi concebido em 2008 para criar um espaço de triangulação entre o mundo árabe e os países americanos, por meio da Espanha. Se trata de divulgar o fenômeno migratório árabe nas Américas e levar a esses países os aspectos do mundo árabe que não são divulgados pelos meios de comunicação. “Consideramos fundamental alcançar essa meta e tentar romper com os preconceitos e estereótipos mediante propostas concretas e originais”, diz Karim.

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