Curador da Mostra Mundo Árabe de Cinema aborda arte e produção cinematográfica palestinas em palestra na Unifesp
O curador e diretor da Mostra Mundo Árabe de Cinema, Geraldo Adriano Godoy de Campos, proferiu, na última segunda-feira (30) a palestra “O tempo da espera: o exílio no cinema palestino” na Unifesp (Universidade de São Paulo), na zona sul da capital. O encontro foi promovido pela Cátedra Edward Saïd de Estudos da Contemporaneidade, uma parceria da Unifesp com o ICArabe, e abordou como a arte e o cinema palestinos carregam a tentativa de apagamento da memória palestina, por parte de Israel, como parte da construção da narrativa do movimento sionista.
“Ao contrário das artes de expressão verbal, que as pessoas podem carregar consigo, muitas obras de artes e registros cinematográficos nunca foram recuperados em meio ao saqueio e à destruição perpetrada”, afirma Campos em referência à Nakba (catástrofe), em 1948, quando milhares de palestinos foram expulsos de suas casas e terras pelas forças israelenses.
De acordo com o estudioso, a catástrofe palestina fez com que o cinema deste povo ficasse marcado por uma relação constante com a ideia de perda. “É a ideia do desaparecimento, de uma produção cinematográfica que é cercada o tempo todo e que lida diretamente com a ameaça. A ideia do arquivo é muito importante na história do cinema palestino, ao se pensar nas sucessivas destruições”, afirma. "Quando pensamos na arte palestina estamos falando de uma arte diaspórica. Estamos falando de cineastas que ficaram dentro do território - hoje dentro de Israel -, nos campos de refugiados e na situação de exílio”, analisa.
Campos falou sobre a classificação histórica que divide o cinema palestino em quatro fases, com uma primeira que teve início em 1935, com seus primeiros registros e que durou até a Nakba, em 1948; a segunda entre 1948 e 1967 ; uma terceira entre 1867 e 1982, na qual o cinema era visto como uma ferramenta revolucionária e possuía destaque em festivais. O caráter político, entretanto, se transformou na última fase. “O cinema do 4º período não é mais o do horizonte utópico revolucionário. Deixou de ser apenas instrumento da luta política e passou, inclusive, a mostrar contradições dentro da sociedade palestina”, disse.
De acordo com o estudioso, atualmente, o cinema palestino contemporâneo possui uma atenção especial com cenas de cotidiano, organizadas do trivial, e com uma forma diferente de manter o caráter político. "Há uma relação particular com o tempo, com as idéias de espera e de retorno. A grande espera, desde 1948, e as esperas intermináveis de uma vida recortada por checkpoints", declarou.
Para Campos, o cinema palestino trabalha com a ideia de paciência e mostra que “poder sair do tempo da espera é um desafio da contemporaneidade”.